Quando o francês Louis Réard batizou o maiô de duas peças de biquíni, em 1946, em homenagem à explosão que a marinha americana tinha acabado de detonar no Atol de Bikini, acertou em cheio. O biquíni foi uma bomba para a sociedade. O papa Pio XII tratou de condená-lo por atentar contra os valores pregados pela igreja católica. Personalidades como Ava Gardner, Ursula Andress e Brigitte Bardot encararam os preconceitos usando as peças em filmes e em público. Para mulheres sem sobrenomes hollywoodianos, no entanto, o pedágio moral para entrar numa roupa de banho de duas peças ainda era grande, mesmo depois de uma década da explosão do biquíni entre celebridades.
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A ponte entre famosas e anônimas rumo à liberdade para expor seu corpo recebe o nome de Bunny Yeager. Americana nascida na Pensilvânia em 1929, Bunny estava entre as modelos mais famosas quando passou a fotografar também. Especializou-se em fotos de mulheres em poses pin-ups. As grandes estrelas das décadas de 1950, 1960 e 1970 foram clicadas por Bunny em maiôs, decotes, biquínis e nuas.
Bunny ganhou fama, exposições, livros, dinheiro e discípulos. Uma de suas maiores contribuições foi com a comunidade de anônimas, donas de casas e jovens profissionais que tinham vontade de ousar, como as musas do cinema, mas não ousavam pensar nisso. Bunny fotografava essas anônimas. Na presença dela, as mulheres sentiam-se à vontade para posar de um jeito que não tinham coragem de aparecer na frente dos maridos. “Sabiam que eu não tiraria vantagem delas” disse Bunny à Associated Press no ano passado. “Dá para sentir quando alguém está à vontade para mostrar o corpo. Eu não pedia quando percebia que não funcionaria. E parece que por eu não pedir, elas se sentiam bem e de repente estavam preparadas para as fotos.” As imagens iam para exposições e foram publicadas em seus livros. Dentre essas anônimas descobriu Bettie Page, e a transformou numa das maiores modelos fotográficas da década de 1950.
“Bunny conseguiu fazer a mulher comum, das donas de casa às aeromoças, sentir-se confortável com seu corpo. Promoveu uma revolução social silenciosa”, diz a historiadora de arte americana Maria Elena Buszec em seu livro Pin-Up Grrrls: Feminism, Sexuality, Culture Popular (garotas pin-ups: feminismo, sexualidade e cultura popular). “As mulheres devem muito a Bunny pela conquista da liberdade de decidir como e onde mostrar o corpo.”
Em parte por gosto pessoal, em parte pelo preconceito por ser mulher e ter sido modelo, Bunny especializou-se em nus e em pin-ups. Se destacou nas áreas profissionais a que teve acesso. Na brincadeira, criou o hábito de tirar fotografias de si mesma. Virou referência também em autorretratos. Publicou 17 títulos sobre fotografia. Alguns, didáticos: How I photograph nude (Como fotografo nu) e How I photograph myself (Como fotografo a mim mesma).
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“Mulher e bonita, foi ignorada em muitas áreas por causa disso. Isso não a impediu de ser tornar a melhor em seu tempo”, escreveu Denis Scholl, vice-presidente da Knight Foundation, que promove projetos de inovação e de resgate nas áreas de comunicação e artes. “Pavimentou o caminho para Laurie Simmons e outros artistas contemporâneos trabalharem arte usando fotografia. Bunny elevou a fotografia pin-up ao status de arte.”
Bunny Yeager morreu domingo, dia 26, aos 85 anos, de insuficiência cardíaca em Miami, nos Estados Unidos.
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