Obra do Ministério dos Transportes, em Manaus, não resiste a comparações; chineses gastaram R$ 57 milhões por quilômetro construído em Jiaodhou, na maior ponte do mundo sobre a água; brasileiros pagam R$ 297 milhões a cada mil metros no Amazonas
247 Com apenas 3,6 quilômetros de extensão, uma vistosa ponte sobre o rio Negro, em Manaus, é mais um exemplo de como são elásticos os orçamentos de obras sob os cuidados do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). Orçada inicialmente em R$ 574,8 milhões, sua construção, até aqui, já consumiu dos cofres públicos nada menos que R$ 1,07 bilhão. Ou, na prática, o dobro que fora previsto. Isso significa que o custo por quilômetro desta ponte é de R$ 297,5 milhões até aqui. Um preço estratosférico se for comparado com o custo por quilômetro da recém inaugurada maior ponte do mundo, sobre a baía de Jiaodhou, na China.Com 42 quilômetros de extensão, a complexa via elevada chinesa, com múltiplas entradas e saídas, teve um custo por quilômetro de R$ 57 milhões. Ao final dos trabalhos de construção, quatro anos depois do início das obras, a ponte chinesa apresentou um preço final de R$ 2,4 bilhões. Porém, se tivesse sido construída no Brasil, pelos critérios do DNIT empregados na construção da ponte sobre o rio Negro, o custo final da ponte chinesa ficaria em R$ 12, 4 bilhões. Isso aconteceria se o orçamento inicial estourasse, como é típico no Brasil, e como realmente aconteceu no caso da ponte sobre o rio Negro. Mesmo, no entanto, que atendesse o orçamento original, ainda assim uma ponte de 42 quilômetros, a exemplo da chinesa, custaria no Brasil R$ 6,6 bilhões – mais de três vezes o volume de dinheiro gasto, por quilômetro construída, pela China com sua ponte.
Em Brasília, a ponte mais famosa é também a mais polêmica. Inaugurada em novembro de 2002, a Ponte JK virou cartão postal da capital, mas custou quase cinco vezes mais que o previsto. Os R$ 40 milhões planejados se transformaram em R$ 186 milhões ao longo dos dois anos de construção e, não bastasse, no início deste ano a ponte teve de ser interditada por algumas horas, por falta de manutenção.
A China mostrou ao mundo, na semana passada, seu mais novo prodígio de engenharia. Com 42 quilômetros de extensão sobre a baía de Jiaodhou, a ponte foi construída em quatro anos, a um custo equivalente a R$ 57 milhões por quilômetro. O preço final foi de R$ 2,4 bilhões. Praticamente no mesmo momento em que o governo chinês exibia seu feito, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) escolheu o projeto da nova ponte sobre o rio Guaíba, em Porto Alegre. A ponte, ali, terá 2,9 quilômetros de extensão, ou catorze vezes menos do que a ponte chinesa. Apesar desse fato, levará os mesmos quatro anos para ser construída e consumirá dos cofres públicos R$ 400 milhões por quilômetro, a julgar pelo preço final de R$ 1,16 bilhão da obra. Intrigado, o matemático gaúcho Gilberto Flach fez as contas certas e apontou, em reportagem do jornal Zero Hora, que a ponte chinesa, se estivesse no Brasil – e pelos critérios usados pelo Ministério dos Transportes do demissionário Alfredo Nascimento --, custaria R$ 16,8 bi. Ou sete vezes mais do que custou na China.
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