A cada dia que passa, a luta fica mais desigual.
Trabalhadores, empresários, donas de casa, estudantes, aposentados, enfim, todos nós, ao sairmos de casa para irmos ao supermercado, ao banco, à lotérica, ao cinema, ao médico ou a um simples restaurante, podemos contar basicamente com a sorte, muitos de nós talvez até com a prudência, para não sermos alvo de algum bandido que queira nos assaltar, roubar ou praticar algum ato de violência contra nós.
Podemos até, com inacreditáveis prudência e sorte, passar anos a fio, quem sabe toda uma vida, sem termos que passar por essa experiência traumatizante de ver alguém, normalmente um estranho, nos apontar uma arma e subtrair o que é nosso à força, seja um dinheirinho que separamos para comprar remédio, seja um relógio que herdamos de um antepassado ou até mesmo um carro novinho, recém saído da concessionária.
Quem já vivenciou isso sabe que junto com os bens materiais, de valor inestimável ou não, levados de nós sem o nosso consentimento, vai-se junto um pouco da nossa auto-estima, da nossa dignidade, do nosso amor pela vida. O medo, a raiva, a impotência súbita nos maltrata por si só.
Nos vermos em uma situação de fragilidade perante alguém que, munido de força superior e desprovido de caráter, respeito e vergonha, estirpa o que é nosso, tangível ou não, desequilibra o nosso senso moral e nos torna também, um pouco bárbaros.
Nessa guerra do cotidiano, reclamamos do governo, da vida, do mundo e de nós mesmos, pela impotência diante de tanta brutalidade.
Essa inconformidade com a qual convivemos diante destes furtos, roubos ou atos ocasionais de selvageria, com que vez ou outra nos deparamos, desaparece e se transforma em total conformismo, ou mais do que isto, em plena aceitação, ou pior ainda, no estímulo que damos ao mais forte, mais armado, mais complexo, mais indômito pilhador que a humanidade já criou, e com o qual convivemos servilmente há séculos, o próprio estado.
O estado, que um dia foi concebido para se tornar o guardião dos indivíduos de bem, protegendo a liberdade, a propriedade, e a vida destes, como um grande defensor contra aqueles indivíduos ou grupos de indivíduos que, através do uso da violência, buscam apoderar-se do que pertence aos outros, hoje impõe uma guerra fiscal sem trégua e sem dó. O grande defensor passa a ser o grande violador dos direitos que deveria resguardar.
Não, a verdadeira guerra fiscal não se dá entre estados ou instâncias do poder público. Não, a guerra fiscal não ocorre entre prefeitos e governadores, presidente e congresso, câmaras e assembleias.
Essa luta entre iguais que se dizem heróis e bravos, guerreiros em uma guerra fiscal inexistente, pelo menos na forma como descrevem, que são detentores monopolistas do poder de uso da força, na realidade disputam entre si, os espólios da pilhagem amealhada de seus próprios concidadãos.
Nós, que pagamos impostos homéricos, diária e continuamente há tanto tempo, cobrados de forma tão velada e complexa, que sequer conseguimos sentir indignação, diferentemente de quando um larapiozinho nos bate a carteira apontando-nos um canivete.
Nossa passividade perante ato semelhante ao daquele que nos rouba uns trocados, é de outra espécie. É típica dos desarmados do espírito das ruas, da coragem dos libertos, da indignação dos justos. É a nossa irracionalidade e sordidez moral oferecendo àqueles que nos pilham, nossa própria sanção.
Essa é a verdadeira guerra fiscal. Uma luta desigual e injusta, onde poucos privilegiados exercem o poder de pilhar continuamente durante toda nossa vida, de maneira crescente, sem nada para nos dar em troca a não ser seu próprio escárnio pelas vítimas, que somos todos nós.
Não bastasse nos taxarem de todas as formas sobre o que compramos, vendemos, alugamos, arrendamos, doamos, usamos, emprestamos, agora taxam sobre o nada. Nem de fato gerador precisam para nos taxar, como ocorre na cobrança de impostos estaduais por substituição tributária, alegórico nome para um tributo que nada mais é do que a cobrança de imposto antecipado sobre algo que poderá ou não ocorrer num futuro incerto.
Os senhores do erário levam nossos bens, como levam os bandidos do dia a dia quando saimos à rua para viver nossas vidas.
Precisamos também sentir na alma, como já sentimos no bolso, que estão levando mais do que nossos bens, estão levando nossa moral, nossas virtudes e nosso futuro, como fazem os bandidos das ruas que, com mais coragem, pelo menos nos encaram sem cinismo.
Fonte:http://www.imil.org.br/artigos/a-verdadeira-guerra-fiscal
Autor: Roberto Rachewsky
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