Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Alunas criam absorvente com fibra de soja e cana para reduzir pobreza menstrual

EVA, projeto realizado pelas estudantes do SESI-MS, beneficiará mulheres em situação de rua que lidam com precariedade de recursos para higiene adequada.

Ana Júlia e Ludmila criaram o absorvente natural EVA para reduzir os impactos da pobreza menstrual

Ana Júlia e Ludmila criaram o absorvente natural EVA para reduzir os impactos da pobreza menstrual.

Ainda se fala pouco sobre a pobreza menstrual no Brasil. O conceito chegou para Ana Júlia Cavalcante e Ludmila Farias, 16 anos, alunas do Serviço Social da Indústria (SESI) de Naviraí, em Mato Grosso do Sul, como um tema de redação. É a falta de informação sobre o corpo, infraestrutura e recursos básicos para a higiene e saúde feminina, como absorventes, coletores menstruais, sabonetes ou água.

Ao se deparar com os índices alarmantes que afetam a saúde de grande parte das brasileiras – 1 em cada 4 meninas já deixou de ir para a escola por falta de absorvente, segundo pesquisa da Always –, elas criaram o projeto EVA, um absorvente natural produzido a partir do bagaço da cana-de-açúcar e do tecido de fibra de soja. A ideia é distribuir o EVA para mulheres em situação de vulnerabilidade.  

O absorvente é composto por duas camadas. A primeira, feita de tecido de fibra de soja, absorve o sangue. Já a segunda, produzida com o bagaço de cana-de-açúcar, trigo e água, é um bioplástico para impermeabilizar e evitar vazamentos.

O absorvente é composto por tecido de fibra de soja, bagaço de cana-de-açúcar, trigo e água
O absorvente é composto por tecido de fibra de soja, bagaço de cana-de-açúcar, trigo e água

A matéria-prima, abundante no Mato Grosso do Sul, foi escolhida para reduzir os custos de fabricação e, consequentemente, do produto final. Por se tratar de uma alternativa natural, o EVA não tem insumos do absorvente convencional que podem afetar a saúde ginecológica, sendo mais indicado para a saúde íntima feminina, conforme destaca Camila Gatis, terapeuta em ginecologia natural.

O produto ainda está em fase de testes, que deve ser concluída em cerca de três meses. Depois, o projeto será submetido à Comissão Nacional de Ética em Pesquisas em Seres Humanos (CONEP).


“Estamos testando a durabilidade e a decomposição. Como queremos um produto biodegradável, precisamos ver como os microrganismos vão se comportar no absorvente, porque é algo diferente do convencional”, explica Ana Júlia. 


O EVA foi desenvolvido em uma disciplina escolar que instiga os estudantes a buscar soluções para problemas da comunidade usando matemática, ciências e linguagem.

Com o projeto, as jovens conquistaram o 3º lugar da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) deste ano, na categoria Saúde. Elas ganharam também uma menção honrosa do seu estado por serem o projeto destaque de 2022.

De mulheres para mulheres 

O EVA nasceu em 2019, quando as alunas ainda cursavam o 9º ano do Ensino Fundamental. Agora elas já estão na 3ª série do Ensino Médio. O objetivo das meninas é levar dignidade menstrual às pessoas em situação de vulnerabilidade social, um problema que ainda permanece no século XXI. 

A ideia inicial era produzir uma calcinha absorvente, mas Ludmila explica que, para isso, seria necessário resolver outro problema: a questão da higiene das pessoas em situação de rua. 


“Com o absorvente descartável não há necessidade de lavar a calcinha, por isso, usamos o descartável mesmo, porque elas não teriam onde lavar ou tomar banho”, pontua a jovem.


Entenda os impactos da pobreza menstrual 

O estudo “Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdades e violações de direitos”, realizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), aponta que cerca de 710 mil meninas vivem em casas que não têm banheiros. Além disso, 6,5 milhões moram em lugares sem rede de esgoto e 900 mil não têm acesso à água canalizada. 

A pesquisa detalha, ainda, as soluções improvisadas que essas meninas e mulheres se submetem no período menstrual. Algumas fazem uso de pedaços de pano usados, jornal, papelão, terra e até miolo de pão para conter o fluxo. 

A recomendação dos ginecologistas é que seja realizada uma troca diária de três a seis absorventes, no entanto, isso custa caro, o que faz com que elas fiquem muitas horas com o mesmo material e desenvolvam infecções, alergias e desequilíbrios na flora vaginal. 

A pobreza menstrual afeta não apenas a saúde física da mulher, como também interfere nas questões psicológicas e no seu convívio social.

Desmitificação de um processo natural 

Ludmila e Ana Júlia contam que o projeto EVA tem duas estratégias: a redução da pobreza menstrual de mulheres em situação de rua e os benefícios sociais. 

A segunda estratégia visa desmitificar o problema da pobreza menstrual.“ Em iniciativas como essa, nós falamos para as mulheres sobre a necessidade de esclarecer como funciona o seu corpo, de fazer com que exista uma educação sobre menstruação. É uma revolução, porque passamos a repensar e a nos olhar. É uma grande transformação das mulheres para as mulheres”, declara Camila. 

As meninas aplicaram um formulário para coletar dados de meninas do mundo todo, por meio do grupo Girl Up e obtiveram respostas surpreendentes e assustadoras.


“Os números não foram os que a gente esperava, realmente a pobreza menstrual está muito mais perto do que nós imaginávamos. Acreditamos que desconstruir a pobreza menstrual não seja só distribuir absorvente, mas também auxiliar nessa parte social”, destaca Ana Júlia. 


Elas pretendem realizar rodas de conversa em casas de apoio, em parceria com profissionais da saúde, psicólogos, assistentes sociais, entre outros, para acolher da melhor forma essas mulheres. 

Por: Marcella Trindade

Fotos: Arquivo pessoal

Infografia: Juliana Bezerra

Da Agência de Notícias da Indústria

https://noticias.portaldaindustria.com.br/noticias/educacao/alunas-...

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