Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Americanas considera fazer associação com concorrente digital para estancar crise

Companhia deverá focar no seu plano de reestruturação, que terá como uma das estratégias turbinar as vendas das lojas físicas.

Os acionistas de referência da Americanas não descartam a hipótese de uma associação com um concorrente digital relevante, caso a operação da varejista se recupere de forma mais firme nos próximos meses, apurou o Valor. Um ano após vir à tona a maior fraude contábil de uma empresa privada no país, a companhia deverá focar no seu plano de reestruturação, que terá como uma das estratégias turbinar as vendas das lojas físicas.

O plano de associação com um concorrente digital vai depender do desempenho das operações daqui para frente, até para se conseguir apresentar uma empresa viável a potenciais parceiros, afirmou uma pessoa a par do assunto.

É preciso entender primeiro, disse essa fonte, “o que vai sobrar da Americanas” a partir da reestruturação em curso, para pensar em uma parceria nos próximos 12 a 24 meses. “Procurar uma associação com um digital forte poderia ser uma solução [para a varejista].”

Com dívidas concursais de R$ 43 bilhões, a varejista teve seu plano de reestruturação aprovado em 19 de dezembro por 97% do credores (em valor de crédito). Há um ano, o grupo anunciou ao mercado um rombo contábil de US$ 20 bilhões, que ainda está sob investigação.

Hoje, a operação digital, foco central da investigação das fraudes, é vista pelo mercado como o principal problema do grupo, mas o braço de lojas físicas é considerado mais resiliente e foi menos abalado pela crise que o digital, como tem afirmado a atual direção.

Num eventual acordo envolvendo um parceiro digital, a Americanas teria a oferecer uma rede de pontos pulverizada pelo país – na reestruturação, a ideia é cortar, no total, até 10% das 1,8 mil unidades que a Lojas Americanas tinha antes da crise. São imóveis que têm uma importância estratégica para operações de marketplace que utilizam, por exemplo, o sistema de compra digital e retirada em loja.

É preciso entender o que vai sobrar da Americanas para pensar em parceria em 12 a 24 meses

Antes de avançar com a hipótese de um acordo, a Americanas vai focar num plano de geração de caixa entre 2024 e 2025 que consiga sustentar o negócio físico e digital, disse o comando na semana passada. Se isso evoluir, a ideia é sair da recuperação judicial em 2026, um cenário que facilitaria eventuais associações.

Executivos de alto escalão que lideram concorrentes da Americanas ouvidos pelo Valor não veem espaço hoje para uma negociação pelo alto nível de incerteza envolvendo o grupo que, até o momento, não teve as investigações internas e externas sobre a fraude concluídas.

O diretor geral de um marketplace vê mais espaço para uma negociação com um investidor financeiro, envolvendo fundos de investimento estrangeiros, alguns com boa relação com os sócios de referência – os bilionários Beto Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles, da gestora 3G Capital.

Mercado Livre e Amazon são os concorrentes estrangeiros mais bem estabelecidos no país, e acionistas com amplo acesso a capital, mas o interesse dessas empresas em parcerias com grandes grupos donos de lojas no país sempre foi muito baixo, dizem fontes.

As duas empresas cresceram rapidamente no Brasil sem precisar de uma estrutura física, e a lógica de seu crescimento em países pelo mundo não segue a ideia de uma sociedade. No caso de plataformas asiáticas, todas operam modelos “asset light” no país, com investimento reduzido em ativos fixos.

Na gestão anterior da Americanas, dois ex-diretores, Anna Saicali e José Timotheo de Barros, chegaram a visitar a Amazon nos EUA para abrir um relacionamento com a companhia, apurou o Valor. Na época, a B2W (atual braço on-line do grupo) operava de forma separada da Lojas Americanas.

Em 2006, a B2W foi criada dentro da ideia de o trio de sócios ter um negócio digital na América Latina, diziam fontes, para depois se desfazer dela a algum “player” global. Sigla de Business to World (“negócios para o mundo”), a B2W não conseguiu tirar esse projeto do papel, em parte, pelo seu alto consumo de caixa recorrente.

“Tudo vai depender muito de como será esse ‘business’ pós-reestruturação. O ‘economics’ do negócio ainda é uma incógnita. Fora a questão das dívidas, que parece ter sido resolvida, tem a questão operacional. O faturamento das lojas vai cobrir as despesas fixas? Que margens esse negócio vai ter? São muitas dúvidas ainda”, afirma um executivo de alto escalão de uma rival da Americanas.

Uma segunda fonte lembra que a marca da Americanas ainda é muito forte e, apesar de as lojas terem ficado abandonadas por anos, os pontos são estratégicos pela localização, o que pode ser interessante a um parceiro digital.

A empresa vai contar com aporte de R$ 12 bilhões dos acionistas de referência e outros R$ 12 bilhões dos bancos credores, por meio da conversão de dívida em novas ações da empresa.

Os recursos da capitalização por parte do trio serão utilizados para pagar credores (dos R$ 12 bilhões, R$ 5 bilhões se referem a financiamentos por meio da linha chamada “DIP”, dos quais R$ 1,5 bilhão já aportados), e não haverá injeção de capital extra para a companhia.

Pelo plano de recuperação aprovado, os acionistas de referência não poderão vender suas ações por três anos, período estabelecido para “lock-up”. Numa eventual associação com um outro grupo, os acionistas teriam de contar com a aprovação do conselho para o negócio seguir adiante, “desde que a proposta seja construtiva”, diz uma pessoa familiarizada com o tema.

A companhia também contratou assessoria financeira para vender ativos não estratégicos como forma de pagar dívidas com credores. A rede de alimentos Hortifruti Natural da Terra chegou a receber proposta formal de compra, mas os administradores avaliaram que a oferta estava bem abaixo do esperado. Os acionistas avaliam esse ativo em cerca de R$ 1,5 bilhão, mas o que foi proposto pela St. Marché ficou em torno de R$ 700 milhões, dizem fontes.

Sob o comando do executivo Leonardo Coelho, da consultoria Alvarez & Marsal, a varejista tem pela primeira vez o negócio gerido por um CEO que não segue a cartilha dos donos da AB InBev, que consolidaram a fortuna respaldada pela gestão da meritocracia.

Na visão dos acionistas, segundo fontes, Coelho e a diretora financeira, Camille Faria, têm conduzido bem a reestruturação. Para o trio, contudo, fica um gosto amargo de ter de encarar o escândalo da fraude bilionária no período em que a varejista estava sob o comando de Miguel Gutierrez, nome de confiança dos principais sócios até o escândalo vir à tona. A rede era considerada o “xodó” de Sicupira, que entre os três sócios é o maior acionista da rede e sempre esteve mais engajado no negócio.

A gestão do 3G começou a ser questionada nos últimos anos e entrou nos holofotes quando os resultados ruins da Kraft Heinz, uma das empresas investidas da gestora, começou a desandar em 2019. À época, a companhia era presidida por Bernardo Hees, nome de confiança do trio, que foi substituído por Miguel Patrício. Carlos Abrams-Rivera assumiu a Kraft Heinz neste mês. Patrício segue como presidente do conselho de administração da companhia.

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