O déficit por profissionais de tecnologia vai ultrapassar 400 mil vagas em 2025. Por conta disso, empresas, como BTG, XP e iFood, têm atuado para reduzir esse gap. Agora, chegou a vez da Americanas
Por Ralphe Manzone Jr
Em um momento que está integrando as operações físicas e online e que se prepara para trocar o seu comando (Sergio Rial, ex-CEO do Santander, vai ser o novo CEO em 2023), a Americanas vai se unir a um grupo que já conta com BTG Pactual, iFood e XP, entre tantas outras empresas, para tentar combater o apagão de mão de obra de tecnologia no Brasil.
A Americanas está anunciando que vai dar 70 mil bolsas de estudos para jovens universitários ou recém-graduados nos próximos cinco anos, capacitando-os em cursos de tecnologia. A primeira fase desse programa, batizado de Polo Tech, começa nesta quinta-feira, 1 de setembro, quando começarão a ser selecionados os 20 mil primeiros bolsistas.
“Queremos aumentar o interesse das pessoas por tecnologia e abrir polos para desenvolver jovens universitários para que tenham uma formação técnica e possam rapidamente ser absorvidos pelo mercado de trabalho”, diz João Guerra, diretor da Americanas S.A, que está à frente do projeto Polo Tech.
A companhia não divulga o valor do investimento no projeto. Guerra diz apenas que “é um valor expressivo em milhões de reais”. Neste primeiro momento, a iniciativa se focará em regiões fora do eixo Rio/São Paulo. Os primeiros selecionados serão dos estados do Amazonas, Ceará, Pernambuco, Espírito Santo e Santa Catarina.
O plano, no entanto, é levar esses polos de formação tecnológica para todo o Brasil, através de parcerias com universidades. Nesta primeira fase, o conteúdo é desenvolvido pela Let´s Code, uma escola de programação que forma desenvolvedores para empresas, como Itaú, Santander, Amazon e Stone. Estes cursos, que têm duração de 12 a 18 meses, custam em média R$ 1 mil por mês. No caso do projeto da Americanas, as aulas são exclusivamente online e terão duração de cinco meses.
O foco da Americanas, neste momento, é atrair estudantes ou recém-formados de ciência, tecnologia, estatística e matemática, que Guerra acredita terem mais afinidade com o tema. Mas, ao longo do tempo, qualquer pessoa de qualquer área poderá se candidatar à bolsa. Os cursos serão na área de ciência de dados e engenharia de software, em trilhas para formar cientista de dados, desenvolvedor de back-end e de front-end.
A Americanas optou por cursos de formação rápida porque, na visão de Guerra, é preciso atrair profissionais de tecnologia o mais rápido possível. “O Brasil não pode esperar quatro anos”, diz o diretor da Americanas, referindo-se ao tempo de duração de uma graduação.
Atualmente, o Brasil forma 53 mil pessoas por ano com perfil tecnológico no ensino superior. Mas a demanda anual estimada pela Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) é de 159 mil profissionais por ano de 2021 até 2025. Trata-se de um déficit de 424 mil vagas que precisam ser preenchidas, mas que não terão candidatos.
A Americanas, que tem aproximadamente 40 mil funcionários, tem uma equipe de até 1,5 mil profissionais em tecnologia, uma área que ganha cada vez mais relevância em todas as empresas, por conta de iniciativas de transformação digital.
Embora não esteja nos planos da companhia contratar os contemplados pelas bolsas de estudos, Guerra admite que alguns dos “alunos” poderão ir trabalhar na varejista. “A quantidade de pessoas que vamos formar é muito maior do que podemos absorver”, diz Guerra. “A ideia é ser um projeto educacional e não captar recursos (profissionais).”
O próximo passo, de acordo com o executivo da Americanas, é negociar com universidades para que possam fazer parcerias e dar aulas físicas e não só online como nesta primeira fase. Guerra não descarta, inclusive, o uso das lojas da Americanas como espaço para ensinar tecnologia.
Um exemplo do que diz Guerra é o Lab PUC-Rio, inaugurado em junho deste ano. Trata-se de um laboratório físico voltado para novas tecnologias e inovação no campus da PUC-Rio, que dará bolsas de estudo e pesquisa para estudantes do curso de graduação e pós-graduação. Os universitários contemplados desenvolverão soluções para o que Guerra chama de “os principais desafios do negócio da Americanas.”
Iniciativa privada vai à luta contra gap
Assim como a Americanas, muitas outras empresas resolveram entrar no jogo para tentar reduzir o gap entre a formação e a demanda por profissionais de tecnologia. Em julho deste ano, um grupo de companhias, liderados pela XP e pelo iFood, criou o Movimento Tech, com o objetivo de levantar R$ 100 milhões até 2025 para enfrentar este apagão tecnológico.
A inciativa conta com o apoio de Accenture, Arco Instituto, Grupo Boticário, Buser, Ci&T, Cubos Academy, Digital House, Gama Academy, Instituto Localiza, RaiaDrogasil, Rocketseat, Semantix e VTEX. A prioridade do movimento é ajudar a pessoas em tecnologia e beneficiar grupos sub-representados na sociedade e pessoas de baixa renda.
O BTG, por sua vez, foi além e criou uma universidade inspirada no MIT (Massachusetts Institute of Technology), uma das mais renomadas universidades dos Estados Unidos, e em Stanford, um dos principais celeiros de empreendedores do Valeo do Silício. O Inteli (Instituto de Tecnologia e Liderança), que recebeu a primeira turma de alunos este ano em São Paulo, nasceu de uma doação de R$ 200 milhões da família Esteves e conta com o apoio institucional do BTG Pactual.
O Brasil forma 53 mil pessoas por ano com perfil tecnológico no ensino superior. Mas a demanda anual estimada é de 159 mil profissionais anualmente
A meta do Inteli é oferecer inicialmente quatro cursos de graduação presenciais: Engenharia da Computação, Engenharia de Software, Ciência da Computação e Sistemas de Informação. Para o primeiro ano estão previstas 250 vagas. A meta é ter mil alunos matriculados até 2025.
A ideia é dar bolsas aos alunos e muitas empresas e empresários entraram como apoiadores. São exemplos Gerdau, MRV&CO, Instituto MRV, o Instituto Behring, de Alexandre Behring, um dos fundadores do 3G Capital, entre outros nomes como Guilherme Paes, Eduardo Brenner, Sussana e Marco Kheirallah, Marília e José Vita, Iuri Rapoport, Bruno Coutinho e Luis Moura. “É o maior programa de bolsa do País”, disse Maíra Habimorad, CEO do Inteli, em entrevista ao NeoFeed, em outubro de 2021.
A XP também criou, em junho deste ano, uma faculdade que nasceu com um grande foco na formação de profissionais de tecnologia, por meio de MBAs e cursos livres, e da oferta inicial de cinco cursos de graduação, nas áreas de Sistemas de Informação, Ciência de Dados, Análise de Desenvolvimento de Sistemas, Banco de Dados e Defesa Cibernética.
“Nossa ideia é atender, basicamente, duas grandes dores”, afirmou Paulo de Tarso, CEO da XP Educação, em entrevista ao NeoFeed, na ocasião do lançamento da iniciativa. “A dificuldade das empresas em contratar e reter profissionais de tecnologia e, ao mesmo tempo, a qualidade da formação nessa área hoje no Brasil.”
Fonte: Neofeed
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