Em 12 de janeiro, um dia após o anúncio do rombo contábil que obrigou a empresa a pedir recuperação judicial, o grupo somava 43.123 mil empregados sob regime CLT, e em 21 de maio, eram 38.098 mil — 5 mil postos a menos em quatro meses. Foram 2,8 mil demissões de 13 de março a 23 de abril.
Apesar desse cenário, alguns indicadores pararam de piorar na velocidade registrada logo após o início da crise, e o fechamento de lojas — aspecto que afeta, especialmente, a marca, e ajuda a sustentar a logística do braço digital — neste momento, é pouco relevante.
Os dados foram coletados pelo Valor, na noite de terça-feira, no site que reúne os documentos da recuperação judicial da varejista, anexados pela Preserva-Ação Administração Judicial. Além dela, o escritório de advocacia Zveiter também é AJ do caso.
O material de monitoramento mostra caixa total (aplicações, saldo bancário, títulos e valores mobiliários) de R$ 1,4 bilhão em abril, sendo que neste número está parte do R$ 1 bilhão de uma linha de dívida com apoio dos sócios controladores. O montante representa 38% do que a empresa tinha em abril de 2022 (R$ 3,7 bilhões). Em março de 2023, eram R$ 1,31 bilhão e em fevereiro, R$ 1,5 bilhão.
A operação digital concentra a maior parte dos recursos em caixa (64%). A atividade é a que mais consumia capital da rede antes mesmo da crise, especialmente por causa da Ame, a carteira de pagamentos digitais da companhia.
Já o caixa disponível total ao grupo (exclui bloqueio de bancos) atingia R$ 1 bilhão em 30 de abril, próximo dos R$ 962 milhões em março. Frente ao ano anterior, a soma é R$ 300 milhões menor.
Na semana passada, a varejista divulgou edital para participação em financiamento de uma nova linha no valor de até R$ 1 bilhão em debêntures não conversíveis, na busca de reforço de caixa.
O grupo informou na documentação ao AJ que tinha 1.851 lojas em abril (não inclui as unidades do HortiFruti Natural da Terra), 36 a menos que um ano antes — frente a janeiro, são 29 a menos. Isso equivale 1,5% do total.
A companhia ainda não publicou as demonstrações financeiras do quarto trimestre de 2022 e do primeiro trimestre de 2023 — os números passam por revisão dos auditores — portanto os monitoramentos mensais do AJ são os únicos relatórios disponíveis.
Em base de clientes ativos, eram 3,2 milhões a menos desde o fim de janeiro — perda de 1 milhão ao mês, em média. Eram 45,1 milhões de pessoas em abril.
A companhia fechou abril com nível de ocupação da área de armazenagem em 54%, portanto, quase metade de ociosidade — esse índice era de 70% um ano antes.
No entanto, houve avanço nesse indicador neste ano, algo que pode ser reflexo da venda da Páscoa, data em que a cadeia buscou manter ações comerciais ativas. O índice era menor em março (43%) e em fevereiro (44%).
Menor entrada de mercadorias nos estoques pode refletir redução na linhas de financiamento de compras da indústria, após o fim das operações de risco sacado, aspecto central das “inconsistências” identificadas na rede.
Pelo monitoramento mensal, o ciclo de caixa, que mede (em dias) relação entre estoques, prazo de recebimento da venda a clientes e de pagamento dos fornecedores, teve forte piora após janeiro, mas se estabilizou nesse nível.
O ideal é que varejistas recebam em prazos curtos e paguem os fornecedores em prazos longos, de forma a se financiar na indústria.
A rede até vem recebendo mais rapidamente (o que pode ser reflexo do perfil de produto vendido após a recuperação judicial), mas pagou a indústria em apenas oito dias em abril — um ano antes, isso ocorria em 86 dias.
Embora seja um nível baixo, o prazo de pagamento de 8 dias é ligeiramente acima dos 6 dias de março e abaixo dos 10 dias de fevereiro — sem deterioração mais forte nos últimos meses.
Por conta desse recuo no prazo que a rede podia pagar à indústria, o seu ciclo de caixa piorou — alcançou 140 dias em abril e eram 91 dias no ano anterior. A grosso modo, isso quer dizer que, se antes eram três meses entre a entrada da mercadoria em seu estoque até a venda, agora são 140 dias.
Em investimentos, o braço digital recebeu R$ 18,2 milhões em abril e R$ 89,9 milhões em março. O montante é 20% do total que a companhia investia um ano antes — R$ 90 milhões em abril de 2022.
Há uma rotina de publicação de dados pelo administrador, mensalmente, mas, neste momento, ainda sem o envolvimento do chamado “watchdog”, espécie de fiscal em uma recuperação judicial.
Um grupo de credores da rede, que alega ter 40% dos créditos com direito a voto, pediu, em março, que a CCC Monitoramento fosse contratada como “watchdog” por conta da “falta de informações para as negociações” com a empresa, relatou na época o Pipeline, site de negócios do Valor.
Credores podem pedir à Justiça para que esse fiscal seja determinado, segundo um conjunto de critérios. Seria uma forma de monitorar as atividades ainda mais de perto. A Justiça começou a analisar o pedido, e levou a questão ao AJ e à rede em março. O administrador sinalizou posição contrária à contratação, relatando que já vem trabalhando e fornecendo dados semanais e mensais ao mercado.
A empresa foi mais dura no seu posicionamento. Disse que a solicitação é “descabida” e apontou “quatro vícios centrais”, como ausência de amparo legal e de justificativa pertinente, ausência dos requisitos exigidos pelos tribunais, alto custo da medida (R$ 300 mil ao mês a ser pago pela Americanas), e porque seu escopo se confunde com a função do AJ.
Ainda disse que o requerimento foi feito para “promover pressão e causar tumulto ao andamento da recuperação”, escreveu o AJ, ao reproduzir a posição da Americanas. O Valor apurou que o “watchdog” não foi contratado até agora.
Uma fonte lembra que houve uma recente “trégua”, com a aproximação de credores e empresa na busca de um acordo, o que tornou menos imediata a busca desse “fiscal”. A rede deve colocar em votação, até o fim de junho, o plano de recuperação judicial, já apresentado ao mercado, e que vem sendo debatido com credores.
Por Adriana Mattos |
Fonte: Valor Econômico
https://sbvc.com.br/americanas-perde-caixa-e-fecha-5-mil-postos-de-...
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