Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Aniela Jordan: Musicais são nova vitrine para marcas no Brasil

A co-fundadora e diretora da produtora de musicais Aventura fala sobre novo momento do gênero, do teatro e do patrocínio à cultura no país.

Aniela Jordan é co-fundadora e diretora da Aventura, produtora de musicais (Crédito: Divulgação)

A história de Aniela Jordan na cultura começou ainda cedo, aos 15 anos, como dançarina de balé na companhia de sua irmã, Dalal Achcar, bailarina brasileira. Num espetáculo chamado “Floresta Amazônica”, um grande balé no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Aniela foi escalada para ser uma árvore. “Nesse momento, percebi que se minha própria irmã me colocou como árvore, aquele não era meu futuro”, brinca. Na verdade, o momento foi essencial para que ela chegasse ao que realmente gostava: o teatro, em especial, o backstage. 

Durante 20 anos, Aniela fez carreira no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde iniciou como iluminadora e chegou ao posto de diretora de produção. “Eventualmente, percebi que se quisesse crescer mais, precisaria abrir minha própria empresa”, lembra. Assim, fundou a produtora Aventura. “O primeiro musical que montei foi ‘Ópera do Malandro’, para a reabertura do Teatro Carlos Gomes. Foi um sucesso enorme e abriu portas para a trajetória de grandes musicais no Brasil”, conta. 

“Após ‘Ópera do Malandro’, fizemos diversos projetos menores e, finalmente, compramos os direitos de ’A Noviça Rebelde’, que precisava ser uma produção em grande estilo. Para crescer, precisei de um parceiro que entendesse de marketing e gestão, e encontrei meu sócio, Luiz Calainho. Juntos, montamos ‘A Noviça Rebelde’, que foi um grande sucesso no Rio de Janeiro.” 

Após 15 anos da primeira exibição do musical “A Noviça Rebelde”, a produtora acabou de finalizar a temporada da segunda versão do espetáculo, que passou pelo Rio de Janeiro e São Paulo e da qual Aniela Jordan foi diretora de produção.  

De lá para cá, a história da Aventura e dos musicais no Brasil evoluiu junto. A produtora já montou espetáculos como “Hair”, “Beatles no Céu de Diamantes”, “Mamma Mia!” e “O Violinista no Telhado”, além de ter produzido musicais brasileiros, como “Rock in Rio”, “Tudo por um Popstar”, “Se Eu Fosse Você”, “Romeo e Julieta ao som de Marisa Monte”, “Elis, a Musical”, entre outros. 

“Hoje, continuamos investindo em musicais e recebendo produções nos teatros que gerimos. Sempre buscando ser o ‘teatro do sim’, acolhendo bem os produtores e suas equipes. Nosso lema é facilitar e apoiar, para que todos se sintam bem-vindos e felizes em nossas casas”, diz.  

Nesta entrevista, Aniela Jordan destaca a importância das marcas no apoio à cultura, em especial para o teatro, e como o marketing tem inovado ao trazer os patrocinadores como parte do espetáculo. A diretora artística também fala sobre seu estilo de liderança e o momento próspero que o teatro vive no Brasil. 

Qual o papel das marcas no apoio à cultura, em especial aos musicais brasileiros? 

Olha, sem os patrocinadores, a gente não existiria. É crucial que eles acreditem e apoiem a cultura. Em grandes produções, isso é ainda mais verdadeiro. Em um monólogo ou uma peça com duas pessoas, pode até ser viável, mas em musicais e teatros de excelência, é impossível funcionar sem patrocínio. Agradeço todos os dias às marcas que acreditam e nos apoiam. 

Com o crescimento da nossa empresa, mais marcas passaram a acreditar no nosso trabalho, pois mostramos o que entregamos. Começamos pequenos, conquistando cada vez mais marcas, e damos muita atenção a elas. Assim como queremos ser o “teatro do sim”, queremos que as marcas saiam muito felizes, tanto com o produto artístico quanto com a entrega que fazemos para elas. Estamos sempre inventando algo para agradá-las, criando novas formas de oferecer visibilidade. 

Aquela era em que bastava colocar o nome do patrocinador e um anúncio no jornal já passou. Hoje, inventamos novas maneiras de exposição e experiência para que as marcas se interessem e vejam valor em estar conosco. Muitas vezes, enfrentamos a dificuldade de jornalistas ou programas de televisão que não podem mencionar nomes de patrocinadores. Sempre argumentamos que é um absurdo, pois as marcas que apoiam a cultura merecem ser prestigiadas.  

Não acredito na formação de uma nova geração sem cultura. Tudo é integrado. Tenho duas filhas e dois netos, que crescem dentro do teatro. Se vamos fazer algo para elas, que seja de qualidade, pois elas serão nossa plateia futura. A formação cultural é fundamental para a sobrevivência do ser humano, e as marcas possibilitam isso. É muito importante que mais pessoas e empresas acreditem e invistam na cultura. 

Durante a temporada de “A Noviça Rebelde”, havia ativações de algumas marcas, como a Riachuelo. Como as marcas podem inovar em ativações para musicais? 

O objetivo é fazer com que as pessoas se sintam dentro da marca e a marca se sinta parte do espetáculo, mais do que apenas ser o patrocinador, sabe? De fato, criamos espaços específicos para cada marca. A Riachuelo tem um camarim onde penduramos as roupas do espetáculo. Praticamente todas as marcas têm uma ativação para se sentirem participantes. Isso é superimportante. 

Estamos sempre inventando novas maneiras de envolver as marcas. Às vezes, juntamos o elenco para ativar as marcas, não apenas agradecendo, mas criando algo em conjunto. Por exemplo, a Ri Rappy nos dá brinquedos e o elenco brinca com eles. Para cada marca, pensamos em como podemos ativá-las, como podem estar mais presentes sem parecer algo comercial. Não é só pagar para estar lá. Queremos integrá-las de maneira natural ao contexto. 

Quero que cada vez mais marcas acreditem no potencial do teatro e do teatro musical, e que se abram para patrocinar a cultura. Muitas empresas podem patrocinar, mas ainda não pensaram nisso. Um anúncio de TV, por exemplo, pode custear uma parte de uma produção teatral. Investir em cultura oferece uma maneira mais humana de se comunicar com o cliente, diferente de simplesmente fazer um anúncio ou uma campanha. Não que esses métodos não sejam válidos, mas ao investir em cultura, você aborda o cliente de um jeito diferente. Felizmente, cada vez mais marcas estão entendendo isso. Torço para que esse entendimento só cresça. 

Como você descreveria seu estilo de liderança? 

Sou uma pessoa calma. Acho que lidero mais agregando as pessoas, sabe? Trocando ideias com elas. Claro que, no final, a decisão é minha e do Calainho. Às vezes, há muitas demandas e coisas não compreendidas, o que torna o trabalho solitário. 

A empresa cresceu muito, mas ainda tentamos nos aproximar com celebrações. No ano passado, comemoramos 15 anos com uma grande festa tanto no Rio quanto em São Paulo, envolvendo todos. As pessoas se sentem parte da empresa e se tornam verdadeiros aventureiros. 

Os líderes da empresa defendem e cuidam dela. Eles trocam ideias, e muitas vezes me dizem quando acham que algo está no caminho errado. Paro, repenso e vejo como podemos refazer as coisas. A gestão não é de cima para baixo. Trocamos sempre com os gestores, que muitas vezes têm visões que não enxergamos. Temos uma gestão autônoma, onde os líderes de cada área fazem a gestão da sua equipe da melhor maneira. Além disso, nossa liderança é muito feminina, composta por 90% de mulheres. 

Como você avalia o crescimento do mercado dos musicais no Brasil? 

Acho que o mercado de teatro está crescendo cada vez mais. Precisamos fazer uma triagem para identificar quem é realmente bom e quem está ali por oportunismo, achando que musical é só diversão ou dinheiro fácil. O mercado está crescendo e há espaço para todos. Em São Paulo, fiquei impressionada com a quantidade de espetáculos, e todos ficam lotados. O teatro está vivendo um momento muito feliz, especialmente depois da pandemia, com as pessoas retornando com grande vontade de consumir cultura. 

O Teatro Riachuelo, nosso maior no Rio de Janeiro, com mil lugares, está sempre lotado. Seja stand up, musical, show ou apresentação para a terceira idade, todos os eventos estão cheios. Isso mostra como o mercado está pujante. Acredito que quanto mais espetáculos de qualidade, melhor. Não torço pelo fracasso de ninguém, porque o sucesso de um é o sucesso de todos. Se alguém vê um bom musical, provavelmente verá outros. Torço para que todos os musicais sejam de qualidade, e a maioria realmente é, o que torna o desafio ainda maior para nós. 

A última produção de “A Noviça Rebelde” foi tecnicamente impressionante, e agora estou sofrendo para pensar no próximo projeto. Temos produções grandes e médias, e sempre buscamos inovar e impactar o público. 

Além disso, temos investido na filmagem dos espetáculos. Fizemos isso com “Romeu e Julieta” e “Ayrton Senna, O Musical”, filmando para cinema com câmeras no palco, não apenas com uma câmera aberta. Foi uma ótima experiência e estamos expandindo esse braço da Aventura. Filmamos com alta qualidade para eternizar as produções. Fizemos uma ópera, “Tristão e Isolda”, em parceria com o Theatro Municipal de São Paulo, que foi filmada pela TV Cultura.  

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