A virada da oposição na campanha eleitoral explica como a Petrobras se transformou, ao longo de poucos meses, da Geni da Bolsa na Gisele dos mercados.
É verdade que, ao contrário da original, essa Gisele é cheia de estrias, perebas e até coisa pior.
De acordo com a consultoria Empiricus, que acompanha de perto a deterioração financeira da empresa e está perplexa com o rali de 75% na ação desde as mínimas de março, a Petrobras “queimou 13,4 bilhões de reais de caixa na primeira metade do ano, viu sua dívida líquida crescer 9% em três meses, apesar das captações de dinheiro no mercado, e sua alavancagem atingir níveis preocupantes … um possível gatilho para a perda de seus ratings.”
Mas há um fator, ainda pouco discutido, que pode cristalizar essa metamorfose — e manter as ações da empresa em alta nos próximos meses.
Só no mês de julho, a produção de petróleo e gás da Petrobras cresceu 8,6%, e deve terminar o ano em alta de cerca de 5% em relação a 2013, estimam analistas. Isso será uma melhora dramática em relação aos últimos quatro anos, quando a Petrobras crescia produção entre zero e 1%. E essa nova fase de crescimento deve continuar até 2020, quando a Petrobras espera chegar a uma produção o dobro da que tem hoje.
O que explica esse novo momento?
Depois de cerca de cinco anos de investimentos, os campos do pré-sal estão finalmente entrando em produção. Apesar dos atrasos gerados pela exigência de conteúdo nacional, as plataformas, os navios FPSOs e as sondas de que a Petrobras precisa estão finalmente sendo entregues.
Nos últimos anos, enquanto o investimento do pré-sal estava maturava [a empresa investia sem ter nenhuma produção], a produção na Bacia de Campos, a maior do País, despencou num ritmo muito maior do que os modelos estimavam. Uma possível explicação que corre entre os especialistas: para permitir que o então Presidente Lula anunciasse a autossuficiência do petróleo, a Petrobras teria feito uma gestão agressiva dos seus poços em Campos, injetando mais água nos poços para extrair petróleo do que seria recomendado para uma curva normal de produção.
Neste ínterim, a dívida da Petrobras foi crescendo e, com o preço da gasolina congelado, a empresa foi ficando sem caixa, num lento e humilhante espetáculo de autoimolação financeira — noves fora as manchetes de corrupção.
Agora, a empresa está num ponto de inflexão do ponto de vista de sua produção.
“Os fundamentos da empresa estão entrando numa fase muito boa”, diz o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), e ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo. “Daqui para frente, a produção de petróleo vai crescer, e se você somar a isso a perspectiva de ter um governo que vai profissionalizar o comando da empresa, retomar o calendário de leilões de concessões, e dar previsibilidade aos preços da gasolina e do diesel, a ação ainda pode andar muito. Não há motivos para a Petrobras valer menos do que a Ecopetrol (a estatal colombiana de petróleo).”
Em 2007, no auge da euforia do pré-sal, a Petrobras valia 450 bilhões de reais na Bolsa. Hoje, mesmo depois do rali, sua ação ainda vale 38% menos que em 2007.
Um outro motivo para a alta das ações continuar nos próximos meses: dado o descrédito com o Brasil e o balanço frágil da Petrobras (muita dívida e pouco crescimento de geração de caixa), ainda há muitos investidores globais longe da ação. Na medida em que a incerteza política diminuir e a produção aumentar, esses investidores tendem a voltar a investir na estatal.
E, se o próximo governo resolver que a Petrobras deve deixar seu gigantismo de lado e focar em sua atividade principal (achar e extrair petróleo), isso aumentaria ainda mais o potencial de alta da ação. Entre as iniciativas que um Governo Marina Silva ou Aécio Neves poderia tomar estão a venda da participação da Petrobras na Braskem, um IPO da BR Distribuidora e a venda da participação que a Petrobras detém em gasodutos e distribuidoras de gás natural. (É claro que isso deixaria alguns políticos mais pobres, mas os acionistas da Petrobras finalmente veriam a cor do dinheiro.)
A Petrobras não é mais a barganha que era em março — na época, quase ninguém dizia que a reeleição da Presidente estava em cheque — mas também não é um assalto. A Petrobras PN negocia hoje ao redor de 22 reais, o que equivale a 9 vezes a expectativa de lucro da empresa no ano que vem. Por empresas de petróleo comparáveis, os investidores pagam 11 vezes o lucro estimado, ou seja, também por esta métrica, a ação ainda tem espaço para subir.
Mas, notam gestores que acompanham a ação, a melhora na produção de petróleo só tem importância porque o cenário político está mudando. “Se a Dilma estivesse com pinta de ganhar, essa recuperação de produção não daria esse rali na Petrobras,” diz um gestor.
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PS: Gisele, perdoe a analogia (e o retrato). O petróleo é nosso, mas ninguém é de ferro.
Por Geraldo Samor
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