Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Apagão de professores e a urgência da formação colaborativa

Em artigo no Poder 360, Rafael Lucchesi e Wisley Pereira defendem que modelo implementado pelo SESI pode inspirar políticas de formação e valorização de docentes, tema da reunião do GT de Educação do G20.

Programa de formação continuada de professores do SESI saltou de 400 para 8,8 mil docentes impactados em 14 meses

Em todo o mundo, sistemas de educação básica enfrentam o desafio da desvalorização e carência de docentes, fenômeno conhecido como apagão de professores. Esse déficit compromete não só a qualidade e a equidade do ensino, como o futuro socioeconômico, por resultar em uma força de trabalho menos qualificada e uma economia menos competitiva globalmente. A educação deficiente perpetua os ciclos de desigualdade social e pobreza. 
 
Nos Estados Unidos, há escassez em áreas cruciais: matemática, ciência e línguas estrangeiras. Na Europa, Reino Unido e Alemanha enfrentam desafios similares, com número expressivo de jovens que evitam a carreira docente em razão dos salários baixos e da intensa demanda de trabalho. No Brasil, a situação é igualmente preocupante, com a desvalorização do magistério refletida na fuga de talentos, que escolhem profissões mais lucrativas e menos desgastantes. A pandemia da Covid-19 intensificou o problema, aumentando o estresse e a carga de trabalho dos professores. 
 
Estamos diante de dois grandes desafios. O primeiro é atrair os jovens para a carreira docente, o que envolve valorização profissional, melhoria nas condições de trabalho e engajamento junto aos estudantes. E o segundo, qualificar os processos de formação inicial e continuada e o desenvolvimento profissional dos professores.

É preciso criar redes colaborativas entre universidades, escolas, organizações não governamentais e o setor privado que possibilitem o compartilhamento de experiências e o fomento para a pesquisa sobre os desafios da aprendizagem, em consonância com os desafios do século XXI. Devemos ter centros e núcleos de formação docente para desenvolvimento de habilidades técnico-pedagógicos, competências digitais, metodologias inovadoras e práticas inclusivas. 
  
Essa já é uma realidade em alguns países. Na Europa, o programa Erasmus+ promove a formação de professores e a mobilidade estudantil por meio de parcerias transnacionais. Nos Estados Unidos, Stanford e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) ampliaram as áreas de educação para incluir centros especializados em tecnologia educacional e metodologias adaptativas. Na Ásia, China e Singapura promoveram investimentos significativos em formação docente.  
  
Prova da complexidade da crise é a pauta do primeiro encontro presencial do Grupo de Trabalho em Educação do G20, presidido pelo Brasil, que ocorre nesta semana em Brasília. O tema que norteará a discussão entre as delegações de 28 países é a formação e a valorização de professores. Faltam experiências nacionais bem-sucedidas que apontem soluções, e o SESI - única instituição de ensino convidada para a reunião do G20 - tem contribuído com as discussões sobre o tema, junto ao Ministério da Educação e a Frente Parlamentar Mista da Educação.

Maior rede privada do país, com alunos de perfil socioeconômico mais próximo aos da rede pública, o SESI tem um plano de formação continuada por meio de núcleos de formação docente e mentoria, presentes em 25 departamentos regionais nos estados, que utilizam o conceito de rede colaborativa de aprendizagem. O modelo, que pode ser implementado nas redes estaduais e municipais, apresenta excelentes resultados, com a multiplicação de 400 professores formados para 8,8 mil em um ano e dois meses. 
  
Os núcleos atendem à necessidade de uma cultura contínua de desenvolvimento dos professores; do fortalecimento e da melhoria da qualidade do ensino; da qualificação profissional; do engajamento docente e da consequente redução da rotatividade dos profissionais. Como premissa, os professores que compõem os núcleos de formação e mentoria são referências nas escolas em que trabalham, têm reconhecimento dos pares e precisam estar atuando em sala de aula.

A ideia central do programa é investir na formação contínua desse grupo de professores para que eles assumam o papel de professor formador em sua região, sempre apoiados de perto pelo centro de formação nacional. É uma experiência valiosa, que pode inspirar uma estratégia mais ampla, que leve ao enfrentamento da situação em nível nacional, sobretudo em estados e municípios, responsáveis pela oferta de educação básica pública.  
  
Enfrentar o apagão de professores exige qualificar a formação de professores e destinar recursos financeiros com investimentos estratégicos centrados nas prioridades educacionais e na gestão de sistemas inclusivos e inovadores em todo o mundo. É sabido que, sem professores e com a ausência e ou fragilidade na qualificação docente, o futuro está irremediavelmente comprometido. 

*Rafael Lucchesi é diretor-superintendente do SESI e diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI. Economista, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), foi diretor de Operações da CNI (2007–2010) e secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo do Estado da Bahia (2003 – 2006), quando presidiu o Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação (CONSECTI). 

*Wisley Pereira é superintendente de Educação do SESI. Graduado em física pela Universidade Federal de Goiás (2006) e com especialização em Gestão da Educação Pública pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2014), foi professor e superintendente de Ensino Médio da Secretaria Estadual de Educação de Goiás; e diretor na Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação.

O artigo foi publicado no jornal Poder 360 no dia 23/05/2024.

REPRODUÇÃO DO ARTIGO - Os artigos publicados pela Agência de Notícias da Indústria têm entre 4 e 5 mil caracteres e podem ser reproduzidos na íntegra ou parcialmente, desde que a fonte seja citada. Possíveis alterações para veiculação devem ser consultadas, previamente.

Exibições: 22

Comentar

Você precisa ser um membro de Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI para adicionar comentários!

Entrar em Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço