Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI
A relação entre o mercado musical e o universo das tecnologias de defesa passou a ocupar um novo espaço de discussão a partir de ações recentes de figuras de destaque do setor digital. O direcionamento de recursos financeiros advindos do Spotify, plataforma de streaming globalmente reconhecida, para empresas voltadas ao desenvolvimento de tecnologia militar, desencadeou uma série de protestos inéditos no cenário artístico em 2025.
Este movimento foi impulsionado principalmente por artistas como a banda Deerhoof e a cantora Laura Bird, que decidiram retirar suas obras do Spotify. O protesto desses criadores sinalizou uma inquietação crescente a respeito do financiamento indireto da indústria bélica por meio do sucesso obtido nos serviços digitais. O boicote ganhou o apoio de gravadoras independentes e levantou questionamentos mais amplos sobre a responsabilidade ética das plataformas de streaming diante das escolhas de seus principais executivos.
O CEO e cofundador do Spotify, Daniel Ek, tornou-se centro de um intenso debate ao investir uma quantia expressiva – cerca de 3,8 bilhões de reais – na Helsing, companhia europeia especializada no uso de inteligência artificial em aplicações militares. Por meio da Prima Materia, firma de investimentos liderada pelo próprio Ek, o aporte incluiu não apenas capital, mas também o comprometimento direto do executivo, que assumiu a presidência da empresa de defesa.
A reação do meio musical foi imediata e articulada. Integrantes da banda americana Deerhoof tornaram pública a posição de não querer que as receitas de suas músicas fossem associadas a sistemas de combate automatizados. A gravadora Joyful Noise Recordings reforçou a necessidade de reavaliar onde e como o trabalho criativo é veiculado, chamando atenção para a limitação de escolha de muitos artistas diante do domínio das grandes plataformas.
Laura Bird destacou, em pronunciamento, que não se sentia à vontade ao saber que o resultado de seu trabalho poderia ser convertido em investimentos para o setor de defesa. Essas manifestações se somam a uma lista crescente de insatisfações dos músicos com as políticas do Spotify – desde a remuneração considerada baixa pelas reproduções até o aumento do conteúdo automatizado por IA, que prejudica a autenticidade do catálogo.
O crescimento de empresas como a Helsing está diretamente ligado ao avanço da IA na automação de decisões estratégicas, processamento de dados militares e desenvolvimento de armas inteligentes. O ano de 2024 marcou um recorde nos investimentos em defesa na Europa, com mais de 5 bilhões de dólares aplicados, segundo dados da OTAN. A aposta em softwares militares baseados em IA fortaleceu a percepção sobre o risco de perdas de controle humano em decisões de vida ou morte, uma preocupação enfatizada por pesquisadores da área.
Por outro lado, cresce na indústria musical o debate sobre os chamados “artistas sintéticos” – bandas e perfis criados unicamente por softwares, que acumulam grandes audiências sem comprovação física de seus integrantes. Esse cenário ampliou o debate sobre a legitimidade do conteúdo digital e a transparência das plataformas de streaming, especialmente quando há suspeitas de manipulação ou uso de IA para composição, produção e distribuição fonográfica.
À medida que a fronteira entre tecnologia, criatividade e defesa se torna mais tênue, as plataformas culturais enfrentam questionamentos inéditos. O uso de receitas fornecidas pelo consumo musical para financiar inovações de guerra provoca discussões profundas sobre a responsabilidade social das techs e quem realmente colhe os frutos do trabalho artístico.
Por trás do conforto oferecido pelo streaming musical – baixo custo, acesso imediato e praticidade – existe uma cadeia complexa de decisões de investimento que, cada vez mais, influencia outros setores da sociedade. A pressão por transparência e maior alinhamento ético tende a se intensificar ao longo dos próximos anos, principalmente diante das rápidas mudanças tecnológicas e da crescente centralidade das plataformas digitais no cotidiano global.
Por Ryan Cardoso
https://bmcnews.com.br/2025/07/13/artistas-iniciam-boicote-ao-spoti...
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