Estudo da Gröwnt revela que apenas uma fração das empresas brasileiras aproveita os incentivos para a inovação.
No Brasil, o acesso a incentivos fiscais para inovação ainda é subutilizado. Empresas que poderiam se beneficiar da Lei do Bem deixam de aplicar recursos disponíveis, enquanto aquelas que aderem ao programa demonstram avanços tecnológicos e impactos econômicos significativos. A trajetória da Gröwnt, antigo GT Group, ilustra esse cenário por meio de três iniciativas em áreas distintas: biotecnologia, sustentabilidade e estudo de incentivos fiscais.
A parceria entre a Gröwnt e o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) resultou no desenvolvimento de novas tecnologias para o diagnóstico de doenças negligenciadas. Utilizando recursos obtidos via Lei do Bem, o IBMP conseguiu investir na criação de testes moleculares para detecção de doenças como Chagas, hanseníase e malária.
Os investimentos somaram R$ 31 milhões em exclusões fiscais e R$ 10 milhões reinvestidos em pesquisa e inovação na área da saúde. Segundo Ingrid Santana, consultora científica da Gröwnt, o modelo possibilitou que a biotecnologia nacional avançasse na oferta de diagnósticos mais acessíveis e de maior precisão. Por isso, a empresa reforça que “o impacto da Lei do Bem vai além dos números. Trata-se de um mecanismo que transforma a inovação em ferramenta de acesso à saúde”, afirma Cristiano Vicente, diretor de Inovação da Gröwnt.
No setor industrial, a Melhoramentos aplicou os incentivos fiscais na construção de uma fábrica de embalagens sustentáveis em Minas Gerais. Com um aporte de R$ 40 milhões, viabilizado por financiamento da Finep e incentivos da Lei do Bem, a empresa desenvolveu uma linha de embalagens compostáveis feitas de fibra de celulose. A previsão é que a unidade entre em operação no início de 2025, com capacidade inicial de produção de 60 milhões de embalagens por ano. A alternativa ao plástico de uso único reflete uma demanda crescente do mercado por soluções ambientalmente responsáveis.
“Projetos como esse mostram que inovação e sustentabilidade devem caminhar juntas. O incentivo fiscal possibilita que empresas assumam esse protagonismo”, avalia Vicente. Ele aponta que o desafio está em demonstrar que iniciativas sustentáveis também podem ser financeiramente viáveis: “Ainda há uma visão de que sustentabilidade é um custo extra, quando na verdade, ela pode ser um diferencial competitivo de longo prazo.”
Os dados levantados pela Gröwnt no estudo “Panorama da Lei do Bem 2024” apontam que a adesão ao incentivo ainda é restrita. Apesar de um crescimento de 16% no número de empresas participantes, apenas 3.493 recorreram ao benefício em 2023, cobrindo menos da metade dos investimentos nacionais em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I). O estudo indica que São Paulo concentra 42% das empresas beneficiadas, enquanto o Centro-Oeste registrou o maior crescimento percentual de participação.
Entre os setores que mais utilizam os incentivos, destacam-se tecnologia da informação, química e indústria de transformação. No entanto, muitas empresas desconhecem os mecanismos para acessar os recursos, o que limita sua aplicação. “É uma questão de informação e estratégia. As empresas precisam entender que inovação não é só um diferencial competitivo, mas um pilar essencial para a sustentabilidade dos negócios”, afirma Cristiano Vicente. Fabrizio Gammino, sócio-fundador da Gröwnt, complementa: “Há uma quantidade significativa de recursos que as empresas deixam de acessar. A Lei do Bem ainda tem um potencial inexplorado para impulsionar a inovação no país”.
A análise também revelou que empresas que utilizaram a Lei do Bem registraram uma redução média de 28% na carga tributária, percentual que chegou a 71% no setor de equipamentos de informática e eletrônicos. Para Cristiano Vicente, a questão central é a falta de informação e estratégia: “Muitas empresas sequer sabem que poderiam estar financiando sua inovação com recursos disponíveis. Nosso papel é mostrar que inovação não é só uma necessidade, mas um investimento viável”.
Os três exemplos reforçam a discrepância entre o potencial do incentivo e sua adesão efetiva pelo setor produtivo. Ao mesmo tempo em que a Lei do Bem permite avanços como diagnósticos mais acessíveis e embalagens sustentáveis, a baixa participação de empresas indica que o programa ainda não é plenamente aproveitado.
Vicente reforça que o desafio passa por disseminação de conhecimento e simplificação dos processos: “A inovação no Brasil precisa deixar de ser vista como um luxo para grandes empresas. Há incentivos disponíveis, mas falta uma política mais eficiente de acesso e comunicação”. Segundo ele, o debate sobre inovação no Brasil passa, inevitavelmente, pela necessidade de ampliar o conhecimento e o acesso a mecanismos fiscais que possibilitem a competitividade do país no cenário global.
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