Por Mônica Scaramuzzo e Fernanda Guimarães | Em um momento de cessar-fogo com seus credores, a Americanas realizou na manhã deste sábado sua assembleia geral de acionistas, que durou cerca de duas horas e meia. O encontro, que começou calmo, terminou sob protestos e suspensão da reunião com um nome imposto de última hora pelo trio principal de acionistas para compor o conselho fiscal do grupo. Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, da 3G Capital, são os sócios majoritários.
O encontro ocorreu em meio a uma série de desconfianças em torno da saúde financeira da varejista, que entrou em janeiro em recuperação judicial com dívidas de cerca de R$ 42 bilhões. Trata-se, assim, do primeiro encontro de acionistas e empresa desde se tonar público uma das maiores crises corporativas da história corporativa brasileira.
O empresário Silvio Tini de Araújo, da holding Bonsucex, indicou os nomes do advogado Pierre Moreau, como candidato ao cargo de membro efeito do conselho de administração, que foi eleito agora há pouco. Mas o nome defendido para o conselho fiscal do também advogado Luiz Nelson Porto Araújo foi voto vencido, uma vez que o trio impôs um outro nome de última hora.
“Eles engoliram a nossa indicação para o conselho de administração, mas chegaram com uma indicação de última para o conselho fiscal”, contou Tini ao Valor. Tini — que também é acionista minoritário de empresas como Alpargatas e Gerdau – quer que os minoritários tenham voz na Americanas.
A indicação em questão foi a do contador Elias de Matos Brito, que já foi representante de conselhos fiscais de empresas como Gafisa e Tim, além de ex-presidente do Conselho de Administração da Usiminas.
“Eles suspenderam a assembleia por três vezes. Não quiseram engolir a nossa indicação para o conselho fiscal. Eles nos colocaram no buraco. Agora eles que nos tirem do buraco”, disse o empresário ao Valor.
Conforme a ata da reunião, publicada há pouco na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), os acionistas Bonsucex Holding, Silvio Tini de Araujo, além dos fundos EWZ Investiments e EWZ Brasil, protestaram “contra a forma de contabilização dos votos para eleição dos membros do Conselho Fiscal da Americanas, que resultou na supressão do direito dos minoritários de eleger um membro em separado”.
A contestação apontou que a alegação por parte da empresa, de que a Americanas não possui “controle definido,” é ” mero expediente da Mesa para suprimir dos minoritários o direito de fiscalização via Conselho Fiscal”.
Tini tem reforçado que como acionista quer que a empresa saia dessa crise e que a indicação para o conselho fiscal de Nelson Porto, com a suplente Bárbara Daffner, seria para agregar nas decisões da empresa. “São nomes independentes e iriam ajudar. Reforcei para o Beto Sicupira que a gente não quer brigar, que queríamos oferecer nomes bons e independentes”, contou.
Segundo Tini, um outro acionista – Carlos Eduardo Nunes – também protestou sobre a indicação de última hora dos nomes impostos ao conselho fiscal pelo trio. “Se não aceitaram, eles que nos tirem do buraco”, reafirmou o empresário, que disse que na primeira oportunidade vai tentar recolocar seu indicado no conselho fiscal.
Foi adotado o voto múltiplo, conforme solicitado por Tini. Houve, ainda, a tentativa de elevar o número de membros do conselho de sete para oito, mas sem sucesso. Foi, ainda, aprovada a retificação do plano de recuperação judicial da empresa pelos acionistas.
Para o conselho de administração foram eleitos Beto Sicupira, Paulo Alberto Lemann, Claudio Moniz Barreto Garcia e Eduardo Saggioro Garcia, que são representantes dos acionistas de referência, Sidney Victor da Costa Breyer, Vanessa Claro Lopes e Pierre Moreau, sendo o último o nome indicado por Tini.
Segundo a ata, como o trabalho de revisão das demonstrações financeiras da companhia ainda estão em curso, foi adiada a deliberação sobre a aprovação das contas. o assunto foi, assim, adiado para ser analisado em nova reunião a ser convocada.
Em relação aos credores, a Americanas segue em negociações para assinar um acordo que resultará numa capitalização bilionária, feita pelo trio de acionistas de referência, no valor de R$ 12 bilhões, sendo R$ 2 bilhões condicionados a condições futuras.
Desde o início do escândalo contábil, a capitalização sempre apontada pelas instituições financeiras como o ponto inicial para as negociações. Fora o aumento de capital foi proposta pela empresa aos credores a conversão de R$ 18 bilhões das dividas dos bancos em ações e em dívidas subordinadas, assim como a recompra de R$ 12 bilhões da dívida em valor de face, com o haircut.
Em nota, a Americanas afirmou que com a realização da assembleia a companhia “reitera compromisso com as melhores práticas e normas de governança corporativa e compliance em um ambiente pautado pela ética e transparência, que conta com políticas e códigos de conduta e gestão voltados a seus colaboradores, acionistas, fornecedores e parceiros”.
Fonte: Valor Econômico
https://sbvc.com.br/assembleia-da-americanas-termina-com-protestos-...
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