Papéis internos do Banco do Brasil, aos quais aFolha teve acesso, revelam que a instituição primeiro aprovou limite de crédito de R$ 3 milhões para a apresentadora de TV Val Marchiori e depois a instruiu para elaborar uma série de documentos sem os quais ela não teria o financiamento aprovado pelo BNDES.
Como a
Folha mostrou na terça (21),
Marchiori obteve R$ 2,7 milhões no BB, a partir de uma linha subsidiada pelo BNDES, com juro de 4% ao ano –inferior à inflação.
A empresa usada por Marchiori para obter o crédito, a Torke Empreendimentos, não tinha CNPJ registrado na Receita Federal, demonstrações contábeis válidas legalmente nem previsão no contrato social para "aluguel de caminhões", objetivo do financiamento solicitado ao BNDES.
Os recursos foram usados na compra de cinco caminhões reboques. A Torke não tinha qualquer experiência com máquinas e caminhões.
Os documentos provam que a operação não seguiu os caminhos convencionais do BB. Mesmo sem a papelada necessária, ela tinha tanta convicção de que os recursos seriam aprovados que informou, em contrato registrado em cartório, que já era dona dos caminhões dois meses e meio antes de a operação ser aprovada pelo BNDES.
Esse contrato, de 15 de maio de 2013, foi apresentado ao BB como garantia de receitas para a aprovação do crédito. No documento consta um número da linha Finame que o BNDES não reconhece em seu banco de dados. A operação só foi aprovada em 2 de agosto.
Marchiori é amiga do presidente do BB, Aldemir Bendine. Ela esteve hospedada no mesmo hotel de Bendine em duas missões oficiais do banco. Uma em Buenos Aires e outra no Rio. Nos dois casos, em abril de 2010.
Bendine
nega participação na concessão de crédito e diz que a estadia de Marchiori nos hotéis foi coincidência.
Na análise de risco da operação, feita em abril, o BB constatou que a Torke não tinha CNPJ na Receita Federal –cadastro básico para empresas operarem e emitirem nota fiscal. O banco orientou Marchiori a tirar o CNPJ.
A área de risco de crédito também verificou que as demonstrações contábeis da Torke entre 2009 e 2011 e o balancete de 2012 não estavam assinados nem registrados. Ou seja, não tinha valor legal algum. Os documentos são fundamentais para comprovar o faturamento e aferir a capacidade de pagamento de um financiamento.
A área de crédito determinou que a agência onde Marchiori tem conta e pleiteou o crédito colhesse as assinaturas das demonstrações contábeis e as autenticasse.
Na análise de crédito, de abril de 2013, a agência do BB propôs limite de R$ 3 milhões à Torke já para a compra de caminhões. Naquele mês, conforme a própria agência informou, a área de atuação da Torke era consultoria e marketing e sua fonte de receitas era a pensão alimentícia dos filhos de Marchiori e ganhos dela como apresentadora. No dia 10 de junho, o BB aprovou o limite. Contudo, a Torke só passou a ter "aluguel de caminhões" em seu objeto social em 20 de junho, menos de dois antes de o BNDES aprovar a operação.
O BB teve ainda que driblar outras regras para conceder o crédito, como desconsiderar dívida não paga por ela ao banco, falta de capacidade financeira compatível com o valor e aceitar pensão alimentícia como receita, cuja penhora é inconstitucional.
Você precisa ser um membro de Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI para adicionar comentários!
Entrar em Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI