Região da Grande SP atrai data centers, multinacionais e hubs de inovação, mas ainda enfrenta gargalos em mobilidade e formação de mão de obra.
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magens: divulgação
A poucos quilômetros da marginal Pinheiros, um conjunto de cidades da Região Metropolitana de São Paulo tenta redesenhar sua vocação econômica. Conhecido pelo alto PIB per capita e pelas torres empresariais de Alphaville, o eixo formado por Barueri, Itapevi e Santana de Parnaíba começa a atrair outro tipo de investidor: as empresas de tecnologia.
Multinacionais comoHP Inc.,TCS,GFT TechnologieseEngemon ITtêm ampliado operações na região. O motivo passa por uma equação que inclui incentivos fiscais, logística eficiente, segurança, oferta de energia estável — e a promessa de um novo ecossistema de inovação fora da capital.
Barueri, que já abriga o maior número de empregos formais da Grande São Paulo fora da capital, figura entre as cinco cidades mais competitivas do País, segundo o Centro de Liderança Pública. Alphaville e Tamboré concentram data centers, escritórios de tecnologia e centros de serviços compartilhados.
“A infraestrutura, o acesso fácil à cidade de São Paulo e a segurança fazem de Barueri uma área sedutora para empresas de TI e data centers. A cidade não sofre com instabilidades de energia, o que é decisivo para o setor”, afirmaFábio Camara, diretor da Engemon IT, querecentemente transferiu parte da operaçãopara Alphaville.
Apesar da sofisticação da infraestrutura, a consolidação da região como polo tecnológico esbarra em dois gargalos: a formação de talentos e a mobilidade urbana.
Segundo dados da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais (Brasscom), o Brasil pode registrar um déficit superior a 500 mil profissionais de tecnologia até 2025. Barueri, Itapevi e Santana de Parnaíba sentem esse impacto. “As empresas nos procuram diretamente atrás de profissionais. A demanda é muito maior do que a oferta”, explicaBruno Nascimento, diretor da Etec Profª Ermelinda Giannini Teixeira, em Santana de Parnaíba.
Para mitigar o problema, as Escolas Técnicas Estaduais (Etecs) da região firmaram parcerias com a prefeitura e o setor privado. Adiretora da Etec Bartolomeu Bueno da Silva – Anhanguera, Luciana Madureira, ressalta o modelo Articulação Médio Superior (AMS), que permite que os alunos cursem o ensino técnico integrado ao médio e, após três anos, prossigam direto para a Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo (Fatec).
“Eles saem com formação técnica e emendam no ensino superior, sem vestibular. É um ciclo completo de profissionalização com foco em tecnologia”, explica. Ela destaca ainda que o AMS é sustentado por parcerias com empresas de tecnologia, que acompanham os estudantes durante a formação e já sinalizam oportunidades de estágio e emprego. “As empresas participam ativamente com mentorias, visitas técnicas e projetos aplicados. É uma ponte real entre o ensino público e o mercado de trabalho”, diz Luciana.
Além disso, acaba de ser inaugurado o projeto Fábrica de Programadores, em Santana de Parnaíba, que busca formar mais de 5 mil jovens em linguagens de programação em três anos. Itapevi segue caminho semelhante com oDistrito Itaqui, distrito de inovação liderado porFabiana Falcone.
“O Distrito Itaqui foi concebido para ser mais do que um polo de negócios. Ele é um instrumento de transformação social e econômica do território. Estamos formando jovens em tecnologia para alimentar o ecossistema das empresas que fazem parte da nossa comunidade”, diz Fabiana.
A executiva destaca ainda que o Distrito abriga a maior comunidade de tecnologia do país e está investindo na criação de incubadoras para fomentar o surgimento de startups. “Já formamos 500 jovens por ano em cursos de tecnologia e capacitamos mais de 1 milhão de pessoas com formação digital básica”, afirma.
Conexões globais e educação local
NaHP Inc., a aposta foi no HP LIFE Center, inaugurado em Barueri em 2022. “A iniciativa oferece cursos gratuitos com foco em habilidades digitais, gestão de negócios e empreendedorismo. Nosso compromisso é continuar gerando valor para a região por meio de parcerias com ONGs e projetos que promovam inclusão e transformação social”, dizRicardo Kamel, diretor-geral da HP Inc. no Brasil.
Já a TCS aposta na formação técnica e na colaboração com grandes fornecedores globais. “A TCS conecta seus colaboradores com o que há de mais atual em tecnologia no mundo, por meio de parcerias comAWS,Microsoft,Google,Oraclee outras. Isso fortalece a formação contínua e o nível de inovação entregue pela equipe”, contaBruno Rocha, country manager da TCS no Brasil.
Concorrência e vocação
Na disputa por relevância nacional, Barueri e seu entorno ainda ficam atrás de cidades como Campinas, Recife e Florianópolis no número de startups e instituições de pesquisa aplicadas. Enquanto Campinas conta com a Unicamp e o CPqD, Recife com oPorto Digitale Florianópolis com aACATE, a região do Grande Alphaville concentra mais empresas maduras e data centers do que laboratórios de P&D.
“O ecossistema local está em crescimento, mas ainda não tem a densidade de startups de polos mais maduros”, avaliaFernanda Rodrigues, CHRO Latam da GFT Technologies. A lacuna, no entanto, pode estar com os dias contados. Fabiana Falcone, do Distrito Itaqui, afirma que o territórioestá sendo preparado para cumprir esse papel: “Estamos criando um polo de inovação com infraestrutura dedicada para incubar startups, desenvolver soluções com impacto social e atrair jovens empreendedores. Nosso modelo combina tecnologia, sustentabilidade e inclusão — é disso que os polos do futuro precisam”, afirma.
Infraestrutura versus inclusão
Ainda que os investimentos se multipliquem, a inclusão de parte da população local no mercado de tecnologia continua sendo um desafio.
“O desafio mais transformador é fazer com que os jovens da periferia se sintam pertencentes ao futuro da tecnologia”, diz Fabiana Falcone. A diversidade, especialmente de gênero e raça, também ainda não se refletiu de forma significativa nos postos de trabalho mais técnicos.
A maioria das empresas aposta em ações coordenadas com escolas e ONGs para aumentar a inclusão. “Queremos atrair talentos da própria região. Isso melhora a qualidade de vida dos colaboradores e reduz absenteísmo”, afirma Camara, da Engemon.
Enquanto projetos como o Parque Tecnológico Itahyê, Distrito Itaqui e novos hubs corporativos tomam forma, a pergunta segue em aberto: Barueri, Itapevi e Santana de Parnaíba estão prestes a se tornar o próximo polo tecnológico do Brasil? Ou ainda são uma promessa em construção?
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