Dependência prejudica o trabalho, relações pessoais e a saúde mental
Os sinais mais claros de que o jogo se transformou em um problema de saúde é quando o indivíduo passa a apresentar problemas no trabalho, nos estudos e nos relacionamentos interpessoais. Negligenciar atividades e responsabilidades para jogar e se mostrar incapaz de reduzir o tempo dedicado às bets são sinais de atenção.
“Jogos de apostas online podem parecer divertidos, mas esse vício pode arruinar vidas. Se, mesmo assim, a pessoa quer jogar, ela precisa definir limites, se informar sobre os riscos e buscar ajuda se as coisas saírem do controle. É muito importante que as pessoas preservem a saúde financeira e mental”, alerta Lacerda.
A ludopatia e seus efeitos
Ainda faltam mais estudos que demonstrem de maneira estatística o impacto das bets na saúde mental dos jogadores compulsivos, mas psiquiatras dão dicas do que pode acontecer. Os especialistas tomam como base os dependentes em jogos tradicionais como bingo, cassino e jogo do bicho.
O desejo incontrolável pelos jogos de apostas tem nome: ludopatia. Definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a impossibilidade de resistir ao impulso de jogar, o transtorno é registrado no Brasil pelos CIDs 10-Z72.6 (mania de jogo de apostas) e 10-F63.0 (jogo patológico).
A ludopatia tem um mecanismo semelhante ao de outros vícios, como a dependência química em álcool e drogas. O ato de jogar ativa sistemas de recompensa do cérebro, que liberam dopamina, um hormônio neurotransmissor responsável pelas sensações de prazer e satisfação, a partir do momento em que se joga ou aposta.
A pressão constante causada pelas perdas e busca pela recuperação do dinheiro trazem impactos sérios à qualidade de vida de boa parte dos apostadores. Pessoas ouvidas na pesquisa do Instituto Locomotiva, relataram que o ato de apostar:
- Aumenta a ansiedade – 51%
- Causa mudanças repentinas de humor – 27%
- Provoca estresse – 26%
- Traz sentimento de culpa – 23%
Outros sinais de alerta:
Apresentar quatro ou mais desses comportamentos em um período de 12 meses indica risco de ter transtorno do jogo.
- Ter necessidade de jogar valores crescentes de dinheiro para atingir a excitação desejada;
- Sentir-se inquieto ou irritado ao tentar reduzir as apostas ou parar de jogar;
- Fazer repetidas tentativas malsucedidas para controlar, reduzir ou parar de jogar;
- Mentir para esconder a extensão do envolvimento com jogos;
- Jogar quando se sente angustiado (por exemplo, desamparado, culpado, ansioso, deprimido);
- Voltar a jogar com frequência para tentar reaver valores, depois de perder dinheiro jogando;
- Ficar frequentemente preocupado com o jogo (por exemplo, ter pensamentos persistentes de reviver experiências passadas de jogo e maneiras de obter dinheiro para jogar;
- Prejudicar ou perder um relacionamento significativo, emprego ou oportunidade educacional ou de carreira por causa do jogo;
- Depender de outros para fornecer dinheiro para aliviar situações financeiras desesperadoras causadas pelo jogo de azar.
*Fonte: DSM V da sigla em português, “Manual de Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais”.
Nem todo mundo que joga desenvolve o vício e tem prejuízos com as apostas, mas, segundo levantamentos internacionais, 9% dos apostadores apresentam problemas financeiros ou sociais. E 1,4% dos jogadores desenvolve o transtorno do jogo ou jogo patológico.
O termo transtorno do jogo foi reconhecido como um diagnóstico psiquiátrico em 1979 pela OMS. O vício em jogos funciona de modo muito semelhante à dependência por álcool e cocaína. Antes, acreditava-se que apenas uma substância poderia levar à dependência.
Bets movimentaram R$ 21 bilhões em apenas um mês
Muito populares na Europa, Ásia e Estados Unidos desde meados dos anos 2000, as empresas de apostas online foram autorizadas a operar no Brasil no fim de 2018. Até então, a única forma oficial de se apostar no país era por meio de jogos organizados pela loteria federal. Atualmente, cerca de duas mil empresas, a maioria estrangeiras, operam no Brasil.
Estima-se que apenas nos últimos seis meses cerca de 25 milhões de pessoas tenham entrado no universo do jogo online. Segundo estudos do Banco Central (BC) o brasileiro transferiu entre R$18 e R$21 bilhões por mês, via pix, para empresas de apostas desde o começo de 2024. Para comparação, em agosto, todas as loterias do país movimentaram R$ 1,9 bilhão.
Entre 2021 e 2024, o setor cresceu cerca de 7%. Todos os meses, cerca de 3,5 milhões de brasileiros acessam alguma plataforma pela primeira vez, de acordo com o Instituto Locomotiva. O perfil do apostador online no Brasil é formado em sua maioria por homens jovens e de classes sociais mais baixas.
De acordo com o estudo, 40% dos jogadores têm entre 18 e 29 anos e 80% deles pertence às classes C, D e E. O mesmo estudo apontou ainda que cerca de 86% das pessoas que apostam estão endividadas, onde 64% delas têm seus nomes negativados em serviços de proteção ao crédito.
Quando perguntados sobre a principal razão para apostar, “ganhar dinheiro” foi o principal motivo apontado por 53% dos entrevistados – mais que o dobro da segunda colocada, “diversão/entretenimento/lazer” (22%) e bem acima de “emoção e adrenalina” (10%), “passar o tempo” (7%), “curiosidade” (6%) e “aliviar o estresse” (2%).
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