Fonte:|jornaldaciencia.org.br|
Aplicação de enzimas na produção de tecidos resulta em economia de água, redução de CO2 na atmosfera, aumento da produção, qualidade superior do material e redução de custos
O uso de enzimas nas mais diversas áreas tem se mostrado uma alternativa promissora de progresso científico, aliando desenvolvimento, tecnologia e ganhos ambientais.
Produzidas por micro-organismos, elas são proteínas responsáveis por inúmeras transformações, atuando como catalisadoras de reações, a exemplo do que fazem para ajudar na digestão de alimentos no organismo humano. São usadas na produção de alimentos, na fermentação da cerveja, em detergentes em pó, na fabricação de papel e celulose, na produção de vinho e óleos vegetais e na área farmacêutica, entre tantas outras.
As enzimas agora têm dado exemplo de seu alto potencial transformador na indústria têxtil. Os ganhos são inúmeros e vão desde a economia de água e energia até o menor tempo de processamento - representando para a empresa maior aproveitamento do equipamento em processos de alto enobrecimento de tecidos, a um custo final significativamente menor.
De acordo com o professor Jürgen Andreaus, do Departamento de Química da Universidade Regional de Blumenau (Furb), em Santa Catarina, o avanço científico está exatamente na interface entre a compreensão do funcionamento dos biocatalisadores das enzimas e do conhecimento profundo dos processos têxteis e do maquinário específico dessa indústria.
"Além de substituírem produtos químicos em processos têxteis tradicionais, novos processos e produtos podem ser desenvolvidos e novas propriedades atribuídas às fibras têxteis com a ajuda das enzimas e da biotecnologia", explica Andreaus, que é doutor em engenharia química e química do meio ambiente pela Technische Universität Graz, na Áustria.
O professor da Furb enfatiza que com o objetivo de, por exemplo, tornar os tecidos coloridos, não inflamáveis, agradáveis ao toque, repelentes a óleo e impermeáveis à água, a indústria usa diversos processos e uma gama de produtos químicos. Na maioria das vezes, em condições muito alcalinas ou ácidas, temperaturas elevadas e consumo de água e energia elevado.
Jürgen Andreaus, no entanto, revela que o uso da biotecnologia e, em especial, de enzimas como catalisadores (aceleradores específicos de reação) biológicos em diversos processos têxteis, vem permitindo o desenvolvimento de processos ambientalmente mais corretos em condições amenas, como pH neutro, temperaturas mais baixas (em torno de 50oC), menor consumo de água, de produtos químicos e de energia.
"É possível, nesse processo, determinar as reações que desejamos, sem, por exemplo, destruir determinadas fibras do tecido, o que poderia ocorrer com reagentes químicos normais. Para obter esses resultados tão específicos, é necessário identificar as enzimas adequadas e muitas vezes usar a microbiologia e a genética para produzir a quantidade necessária das proteínas", diz.
Uso reduzido
O químico industrial, engenheiro mecânico e técnico têxtil com mais de 40 anos de experiência Pedro Carlos Gomes ressalta que a bioinovação com o uso de enzimas pode ter impacto positivo na percepção da marca das empresas têxteis, diferenciando em melhores aspecto, toque e qualidade o produto final. Gomes é responsável na América Latina pela área técnica de aplicações enzimáticas da maior fabricante mundial de enzimas industriais, a dinamarquesa Novozymes.
"Muitas pessoas já têm consciência de sustentabilidade, embora as enzimas e os efeitos que elas proporcionam estejam distantes do consumidor, que não sabe do que se trata. Os grandes líderes industriais têxteis do Brasil têm adotado processos enzimáticos, mas ainda estão aquém do potencial de uso existente, principalmente em médias e pequenas fábricas. Os processos não são caros, não envolvem equipamentos especiais ou rígido controle, nem são difíceis de aplicar", garante Gomes.
Entre as enzimas produzidas pela Novozymes, estão algumas que podem facilitar as transformações químicas da limpeza da fibra de algodão e a remoção de químicos indesejáveis. Pelas características, as que mais proporcionam sustentabilidade são as pectinases, as catalases e as celulases.
Há um mês, a empresa participou da Feira Brasileira para a Indústria Têxtil (Febratex), em Blumenau (SC), considerado o segundo maior polo têxtil brasileiro, e apresentou um novo conceito voltado para sustentabilidade e respeito ao meio ambiente.
"É um processo capaz de evitar a emissão de mil quilos de CO2 na atmosfera por tonelada de malha confeccionada, pois explora o uso de enzimas em todas as fases da produção. E as economias obtidas podem chegar a 630 bilhões de litros de água por ano (o equivalente ao uso de 8 milhões de pessoas na área urbana por ano) e 9 milhões de toneladas de CO2 por ano (representando 2 milhões de carros na rua)", acrescenta o químico Pedro Gomes.
(Lilian Monteiro)
(Correio Braziliense)
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