Provavelmente nenhum país saiu ganhando tanto quanto o Brasil com a ascensão da China. Cada país tem aquilo do qual o outro carece. A China precisa de commodities para abrigar e alimentar a sua população; o Brasil possui commodities em abundância. O Brasil necessita de fundos estrangeiros para financiar os investimentos domésticos; a China tem um excedente desses fundos. E há um bônus extra: nenhum dos dois países tem um histórico como potências coloniais. Como resultado disso, uma relação de longa distância tem florescido entre os dois. No decorrer dos últimos dez anos, o comércio bilateral entre Brasil e China aumentou mais de 18 vezes, chegando a mais de US$ 50 bilhões (R$ 81,2 bilhões) anuais. Mas, conforme uma matéria especial publicada no início desta semana pelo “Financial Times” deixou claro, a lua de mel deste “par perfeito” terminou.
Todos os dias, Brasília enfrenta protestos cada vez mais intensos de dirigentes de fábricas que reclamam de que os produtos baratos feitos na China estão “desindustrializando” o Brasil. Isso gera preocupações entre os brasileiros, devido à longa história de dependência de commodities da região. Mas os números justificam as preocupações: nos últimos dez anos, a parcela de commodities no total das exportações brasileiras mais do que dobrou, chegando a 46%, enquanto que os produtos manufaturados sofreram uma acentuada redução. A intervenção chinesa maciça no câmbio, que desviou os fluxos de capital estrangeiro para outros mercados nas chamadas “guerras monetárias”, também não ajudou. O valor real da moeda brasileira em termos de índice de valor efetivo subiu 24% desde 2007, punindo ainda mais a indústria local. De fato, a maior parte das fantasias de carnaval do país é atualmente fabricada na China, da mesma forma que grande parte do aço processado. Como resultado disso, o Brasil passou a reavaliar as suas relações com a China.
Uma retaliação comercial é uma possibilidade tática. Realmente, das 144 investigações de práticas de dumping conduzidas pelo Brasil no final do ano passado, 50 foram contra a China. Mas essa é também uma rota perigosa. Uma alternativa é estimular indústrias complementares, conforme têm feito outros produtores de commodities bem sucedidos. A Noruega, que é rica em petróleo, possui um grande conhecimento exportável de engenharia de águas profundas. Israel, que no passado era famoso pelas suas laranjas, é atualmente mais conhecido pela tecnologia de irrigação que desenvolveu para essa cultura. A vantagem comparativa do Brasil se encontra nas ciências agrícolas.
Foi por isso que o Brasil começou a pressionar a China para abrir o seu mercado doméstico para produtos agrícolas processados. A China, por sua vez, reconheceu a importância estratégica do Brasil como parceiro comercial, está prestando atenção às preocupações de Brasília e cogitando acabar com barreiras comerciais. Não há dúvida de que qualquer medida tomada será modesta. Mas se Pequim realmente fizer aquilo que Brasília espera que os chineses farão, o Brasil terá feito uma boa jogada no que ser refere aos aspectos econômico e político da globalização.
Fonte: Finantial Times, traducao uol
Bem-vindo a
Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI
© 2024 Criado por Textile Industry. Ativado por
Você precisa ser um membro de Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI para adicionar comentários!
Entrar em Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI