A reflexão de que a indústria brasileira da moda precisa de mudanças urgentes foi uma das principais a terem sido discutidas no Fórum de Negócios da Moda, promovido pelo Grupo Estado e a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), e que aconteceu na última terça no teatro da entidade sindical paulista dos setores de comércio e serviços.
O fórum reuniu mais de 500 pessoas, entre estudantes, empresários e profissionais da indústria da moda, e contou com a presença de renomados palestrantes especialistas do setor, como o organizador da São Paulo Fashion Week, Paulo Borges, o CEO da Riachuelo, Paulo Rocha, as designers Marina Medeiros e Patricia Bonaldi, além de representantes da ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), da ABEST (Associação Brasileira de Estilistas) e responsáveis de grandes empresas de varejo, como C&A e Riachuelo.
Com o objetivo de aprofundar e refletir sobre a situação da indústria da moda no Brasil, seus desafios e oportunidades, os palestrantes convidados trouxeram para a plateia temas como Presença do Brasil no Cenário Internacional, Produtividade na indústria têxtil e Tendências e Inovação e Competitividade.
A indústria têxtil no Brasil oferece quase 2 milhões de empregos diretos e 8 milhões de empregos entre diretos e indiretos. O setor é o segundo maior empregador da indústria de transformação do Brasil, e gera R$ 50 milhões anualmente, contudo a fragmentação e a pulverização do mercado com mais de 270 mil pequenas empresas, que representam quase 99% da produção nacional, fazem da indústria da moda um setor difícil e muito complexo.
O CEO da Riachuelo, Flavio Rocha, afirmou que "a competitividade e a produtividade do setor tiveram uma queda vertiginosa nos últimos 10 anos", e a situação se agravou com a entrada de cadeias internacionais no setor do varejo e a presença de marcas de luxo estrangeiras nos shoppings mais importantes do país.
Segundo Rocha, o bloqueio do setor hoje em dia se deve a vários fatores, como a excessiva carga tributaria exercida nos grandes e médios fabricantes, uma rígida lei trabalhista, combinada com uma exagerada regulamentação do setor que obriga muitas vezes a investimentos desnecessários. Esta situação se torna ainda mais difícil pelos grandes desafios logísticos.
Neste panorama, a existência de uma majoritária rede de pequenas empresas acolhidas tributariamente ao regime de simples, exerce por outro lado uma grande pressão nas margens de lucros das maiores indústrias que lidam com as perversidades da estrutura fiscal do setor.
A concorrência desleal, para as empresas responsáveis que pagam impostos e colaboram transparentemente com desenvolvimento do setor, vem também das empresas que contratam mão de obra barata, sem direitos trabalhistas como maneira de lucrar mais.
Com um mercado repleto de empresas de pequeno porte, estas não conseguem fazer os investimentos necessários em inovação e tecnologia necessários para competir no mercado internacional. Consequência disso é também a falta de matéria prima diferenciada e de qualidade e a ausência de uma oferta têxtil tecnologicamente avançada no pais. Os designers e as marcas que querem inovar estão muitas vezes obrigados a procurar outras opções fora do Brasil, e imbutir nos custos de produção os impostos de materiais importados.
Segundo o presidente da ABEST, Roberto Davidowicz, o mercado da moda enfrenta também a falta de mão de obra qualificada. Os tradicionais trabalhos artesanais de bordado, costura à mão e alfaiataria estão diminuindo no Brasil, e as novas gerações preferem realizar outros tipos de atividades, mesmo com menores receitas.
O setor demanda também mão de obra mais qualificada e especializada, e alguns esforços estão sendo realizados por faculdades de moda e instituições de ensino para preparar profissionais orientados ao mundo do varejo. Desde o ponto de vista dos palestrantes, a preparação de mão de obra do setor precisa ser incentivada e promovida para recuperar o numero de profissionais que foi perdido nos últimos anos.
Outro comentário destacado neste fórum foi o necessário investimento em inovação. O desenvolvimento do Brasil na última década abriu passagem para uma ascendente classe C, que passou de consumir roupas a consumir moda. Este grupo tem um enorme potencial como consumidor e precisa ser atendido de uma forma mais sofisticada.
O vice-presidente da C&A, Paulo Correia, explicou como sua empresa faz questão de ter um permanente diálogo com o cliente. Como empresa multinacional estabelecida no Brasil desde 1970, a C&A funciona com o princípio de inovação permanente, pensando no mercado global, mas atuando localmente. Para Correia, "a inovação é um processo que agrega valor ao produto e tem que ser também relevante para a comunidade que atende".
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil, Rafael Cervone Netto, enfatizou o grande peso do mercado da moda na economia brasileira, e a necessidade da indústria de crescer ampliando sua presença no cenário internacional. Segundo Cervone, a experiência tem mostrado que "a empresa que se internacionaliza começa a ter mais competitividade".
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