Pela primeira vez em 12 anos, o Brasil avançou uma posição no ranking do Competitividade Brasil, relatório produzido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), desde 2010, para examinar o potencial competitivo das empresas brasileiras em relação ao desempenho do setor empresarial de 17 países com características similares ao Brasil ou que competem com ele no mercado mundial. O avanço do país no último ano – motivado pela melhora nos fatores financiamento, ambiente de negócios e tributação e pelo maior impacto da pandemia em alguns países – foi suficiente para ultrapassar o Peru e ocupar a 16ª posição no ranking.
O estudo Competitividade Brasil avalia fatores que impactam diretamente os negócios das empresas brasileiras e aponta caminhos para o desenvolvimento da economia do país, uma vez que o cálculo final auxilia na tomada de decisões. O ranking geral é construído com base no desempenho dos países em nove fatores de competitividade. As economias avaliadas no relatório são África do Sul, Argentina, Austrália, Canadá, Chile, China, Colômbia, Coreia do Sul, Espanha, Índia, Indonésia, México, Peru, Polônia, Rússia, Tailândia e Turquia, além do Brasil.
Embora tenha ganhado uma posição no ranking geral, o Brasil continua no terço inferior. Além disso, é o país que mais aparece entre os últimos colocados entre os fatores analisados. Isso acontece em sete dos nove fatores de competitividade avaliados no estudo – inclusive nos que registrou melhora. A situação mais crítica é no fator Financiamento, único em que o Brasil está em último lugar, seguido do fator Tributação, registrado como o segundo pior resultado do país.
Cenário desafiador requer estratégia de fomento ao setor industrial, associada à redução do Custo Brasil – O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, avalia que o estudo evidencia a urgência de se avançar na redução do Custo Brasil. “Registramos melhora em algumas áreas, como em Financiamento, Ambiente de negócios e Tributação, mas permanecemos no fim de um ranking de 18 nações. Isso ocorre porque os outros países também avançam, realizando esforços contínuos para ampliar suas respectivas vantagens competitivas. Além do mais, ainda temos uma distância significativa dos países que estão à frente”, afirma o presidente.
Andrade enfatiza, ainda, que “além da redução do Custo Brasil, o futuro da competitividade dependerá da capacidade de o País se adaptar às novas tendências produtivas, como a digitalização e a economia de baixo carbono. Para isso, é preciso construir uma política de desenvolvimento industrial, com foco em ciência, tecnologia e inovação, consistente, de longo prazo e que seja prioridade do Estado”.
Relatório aponta áreas críticas para auxiliar na definição de ações que recuperem a competitividade do Brasil – O ranking geral do relatório é construído com base no desempenho dos países em nove fatores de competitividade. A gerente de Política Industrial da CNI, Samantha Cunha, reforça que além dos fatores mais críticos do ambiente de negócios brasileiro – o financiamento escasso e caro e o sistema tributário caótico e distorcivo – ficam evidentes problemas como a infraestrutura deficiente, a falta de segurança jurídica, o excesso de burocracia e a baixa qualidade da educação, cara à inovação e à produtividade.
“Esses custos sistêmicos que chamamos de Custo Brasil precisam ser monitorados e combatidos, pois oneram o investimento, a produção e as exportações. O relatório Competitividade Brasil identifica as áreas mais críticas para auxiliar na priorização de medidas para recuperar a competitividade do Brasil”, explica a gerente.
1. Financiamento
O Brasil é o país com o pior desempenho no ranking do fator Financiamento entre os 18 países avaliados. Apesar de ter reduzido sua taxa de juros básica da economia ao menor patamar em 20 anos, atingindo a meta de 2% ao ano em 2020, permaneceu com a maior taxa de juros real de curto prazo (4,7%) e o maior spread da taxa de juros (26,8%).
2. Tributação
O segundo pior resultado do Brasil na análise foi no fator Tributação, com a 17ª posição entre os 18 países avaliados. O peso dos tributos foi o terceiro maior, com carga tributária que atingiu quase um terço do Produto Interno Bruto (PIB), de 32,5%, contra uma média de 24,1% para os países selecionados, em 2019. Ao mesmo tempo, o país tem a terceira pior qualidade no sistema tributário, com a avaliação qualitativa mais negativa em processos legislativos e administrativos do sistema tributário.
3. Ambiente macroeconômico
O Brasil está no terço inferior do ranking no fator Ambiente Macroeconômico, na 16ª posição. O resultado é determinado, sobretudo, pela falta de equilíbrio fiscal, um importante elemento para garantir um ambiente macroeconômico favorável ao investimento, ao lado da estabilidade monetária e do equilíbrio externo. A pandemia teve um efeito sobre a inflação global, levando à aceleração do aumento de preços em praticamente todos os países. No Brasil, a inflação (8,3%) e a dívida (93% do PIB) foram as terceiras maiores em 2021, enquanto a despesa com juros nominais foi a segunda maior (5,2% do PIB).
4. Ambiente de negócios
O Brasil apresenta um dos três piores ambientes para se fazer negócio entre os 18 países avaliados, na 16ª posição no fator. Na comparação com o ranking anterior, o país registrou melhora em todos os subfatores e pela segunda edição consecutiva avançou uma posição. No entanto, devido à distância do Brasil para os países mais bem colocados, o país permanece no terço inferior do ranking mesmo com a melhora. O resultado brasileiro reflete, principalmente, a falta de segurança jurídica e o excesso de burocracia.
5. Trabalho
No fator Trabalho, em que sempre alcançou os terços superior e intermediário em edições passadas, o Brasil está na 15ª posição (terço inferior), como reflexo dos impactos da pandemia no mercado de trabalho. O país teve a segunda maior queda no crescimento da força de trabalho em 2021, à frente do Chile, combinada com a segunda menor produtividade na indústria, à frente apenas da Índia.
6. Infraestrutura e Logística
O Brasil está na 15ª posição no fator Infraestrutura e Logística. Em praticamente todos os modais de transporte avaliados (rodoviário, ferroviário, aquaviário e aéreo), com base tanto em variáveis quantitativas como qualitativas (pesquisas de opinião), o Brasil fica no terço inferior do ranking. Apesar da desvalorização cambial ter contribuído para uma melhora no custo da energia elétrica para clientes industriais (US$ 0,13 por Kwh), a diferença para os outros países deixou o Brasil na penúltima posição. Ao mesmo tempo, a qualidade no fornecimento de energia também manteve o país em penúltimo lugar, com perdas de 16,1% da energia gerada.
7. Estrutura produtiva, escala e concorrência
No fator Estrutura Produtiva, Escala e Concorrência, o Brasil está na 13ª colocação. Apesar de o Brasil ter o 5º maior mercado doméstico e a 11ª estrutura produtiva mais complexa, o país tem a maior barreira tarifária em produtos não agrícolas, desestimulando o aumento da produtividade por meio da concorrência no mercado interno.
8. Tecnologia e inovação
No fator Tecnologia e Inovação, o Brasil está no terço intermediário do ranking, na 9ª posição entre os 18 países avaliados, o que representa o melhor resultado obtido pelo país entre os nove fatores determinantes da competitividade. Nas duas dimensões avaliadas nesse fator, esforços em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e resultados alcançados, o país está no terço intermediário do ranking.
9. Educação
No fator Educação, o Brasil está no terço intermediário do ranking, na 10ª posição entre 17 países considerados. Apesar de o país apresentar o maior gasto público em educação (como proporção do PIB), está no terço inferior nos quesitos disseminação e qualidade da educação. Em relação ao ranking passado (2019-2020 revisado), o Brasil avançou nas variáveis de Disseminação da Educação devido à melhora de seus indicadores de número de matrículas: três posições no número de matrículas no ensino médio, ocupando a 10ª posição, e uma posição no número de matrículas no ensino superior, subindo para a 11ª posição. Os avanços, no entanto, foram insuficientes para o país mudar de posição no fator.
Entenda a evolução no ranking geral – O ranking geral do estudo é definido a partir da média simples dos resultados alcançados em cada fator. A mudança de posição na lista é sempre uma melhora relativa aos outros países analisados, ou seja, um país pode não ter melhorado em seus fatores de competitividade e ainda assim avançar no ranking em relação ao passado. Isso ocorre quando os concorrentes à frente do país em questão pioram a ponto de suas médias se tornarem menores. Paralelamente, embora um país possa apresentar aumento da média, o crescimento deve ser grande o suficiente em relação aos concorrentes para que avance no ranking.
No caso do Brasil, houve melhora na média em relação ao ranking revisado em todos os fatores avaliados, com exceção de Trabalho, Educação e Tecnologia e Inovação. Essa melhora contribuiu para o aumento da média geral do país e para a conquista da 16ª posição, antes ocupada pelo Peru. Comparando com o país ultrapassado, os três principais avanços relativos do Brasil são nos fatores Financiamento, Tributação e Ambiente Macroeconômico. E na comparação com a evolução média de todos os países avaliados, os principais avanços do Brasil ocorrem em Financiamento, Tributação e Ambiente de Negócios.
Na edição de 2021-2022, foram realizadas mudanças metodológicas principalmente em função da necessidade de substituição de variáveis que deixaram de ser divulgadas por duas fontes primárias: o relatório Doing Business, do Banco Mundial, e o relatório World Competitiviness Report, do Fórum Econômico Mundial.
Millena Dias
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