Peço licença ao insigne ministro, escolhido entre milhões de brasileiros, para escrever esta carta que sei que nunca será lida pelo destinatário.
Não que creia que isso iria fazer qualquer diferença. Todos sabemos que nunca alteraria uma linha no labirinto que o senhor construiu e nele insiste em se esconder.
Não existem pressões. São cobranças. Ninguém pressiona devedores que se negam a acertar as contas. Seja com o credor ou com a História. Ao contrário, cobra-se daqueles que se recusam a assumir os ônus decorrentes dos próprios atos, o acerto inerente aos homens de caráter e honestidade. Seja uma dívida de R$ 1,00 ou uma decisão judicial.
O que levou o ministro a aceitar o cargo que ocupa na mais alta Corte do Judiciário brasileiro? Uma dívida? Um compromisso de fidelidade? Ou o coroamento de uma carreira que qualifica quem é escolhido?
Ao invocar como argumentos a extensão das provas colhidas, a necessidade da análise cuidadosa e o trabalho derivado da leitura do processo e apensos, o honrado ministro quer nos fazer crer que ─ profissionalmente ─ não está à altura do cargo que ocupa? Ao menos, ao mesmo nível de seus pares, que jamais utilizariam o mesmo tempo despendido por V. Exa.?
Os argumentos para aquilo que parece ser uma procrastinação são uma confissão de despreparo para estar onde se encontra?
Não creio.
O Brasil já conviveu com Francisco Luis da Silva Campos, conhecido como Chico Ciência. Advogado brilhante, foi redator da Constituição Polaca (escuso-me em dizer o porque do apelido), dos Códigos Penal e de Processo Penal (de 1941) e da CLT (1943), baseada nas leis do trabalho da Itália fascista. E acima de tudo, por emprestar o brilhantismo reconhecido à confecção de alguns dos famigerados Atos Institucionais (como o de número 2) que tentava dar legitimidade a um movimento imoral. Embora legal. Dizia-se que Chico Ciência era capaz de escrever uma Constituição nas coxas.
Ministro Lewandowski, não consigo avaliar o quanto o senhor é brilhante. Deve ser. Não duvido.
Embora ─ aparentemente ─ muito lento em suas análises e votos. Ao menos em alguns casos específicos.
Não creio que o ilustre jurista estaria disponível para justificar o injustificável (como Chico Ciência) ou acobertar a quem a coberta sequer cobre os pés.
Um jurista que é escolhido pelo notório saber jurídico para estar no STF sabe que a primeira ─ e deveria ser a única ─ diretriz de atuação é somente a da Justiça.
Quero crer que é o caso.
Eu imagino o que deve enxergar um ministro quando olha para a própria história. Orgulho, sensação de reconhecimento e certeza do respeito de todos os brasileiros. E receio por parte de criminosos, sejam estes quais forem. Quando a equação fica invertida, também consigo imaginar a sensação que um homem honesto ─ como o senhor é rotulado ─ deve conhecer.
Nestes anos em que o senhor analisava pacientemente o processo do mensalão, perdi amigos. Perdi a saúde. Quase perdi a esperança. O mundo mudou. Ditadores foram derrubados. Uma moeda única na Europa foi posta em confronto com a realidade econômica de países até então sólidos. Artistas nos deixaram. Crimes foram cometidos. Alguns, punidos.
Somente uma quadrilha continuou a rir de todos nós. A que é analisada por V.Exa.
O navio italiano que naufragou na costa da Itália ─ o Costa Concórdia ─ por ter um capitão (Francesco Schettino) que ignorou avisos e rasgou a própria biografia e história profissional, foi mais um dos tantos fatos acontecidos enquanto V.Exa. analisava o processo do mensalão.
Entrou para a história como um insolente. O homem errado na hora errada. Popularizou a expressão “Vada a bordo, cazzo!”. Não preciso traduzir.
Ministro Ricardo Lewandowski, faltam mínimas milhas náuticas (ou horas) para que o naufrágio aconteça.
“VADA A BORDO!” Evito o cazzo. Por enquanto.
Com admiração (ainda),
Reynaldo Rocha, um Brasileiro.
Fonte: http://veja.abril.com.br/
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Valeu amigo, fico imaginando qual seria a reação dêle se lêsse, será que teria coragem de ler até o fim? duvido muito.
Abraço
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