Paulo Gandolfi avalia complexidade de alinhar cultura corporativa e novas aspirações e comportamentos no mundo do trabalho.
Quase três décadas trabalhando na mesma empresa. Ainda que essa empresa seja uma multinacional, com diferentes negócios dentro de um mesmo negócio, esse marco não é para qualquer um. Paulo Gandolfi, que em junho do ano passado tornou-se CEO da 3M no Brasil, tem quase esse tempo de trabalho na companhia: está indo para seu 28º ano.
Ele substituiu Adriana Nascimento – a primeira mulher a assumir um cargo de CEO da empresa americana no País – que foi liderar a divisão de consumo na Ásia. E, ao ser questionado sobre se existe a preocupação de manter a empresa atrativa para as novas gerações, que parecem não ter essa tendência de ficar tanto tempo num lugar, ele afirma que esse “é o desafio de todos os executivos”.
“A 3M me permitiu ficar na mesma empresa fazendo diferentes coisas, em diferentes países e diferentes áreas. Essa é a beleza dessa companhia. Parece que mudei de empresa várias vezes. Isso vai ser a realidade daqui para frente?”, questiona de volta o executivo.
Num cenário em que há convivência de múltiplas gerações – boomers, x, z, alpha a caminho – ele ressalta que as empresas precisarão se reinventar como organização. “Não tenho uma resposta de como fazer isso, mas acho que teremos de ter novas formas de trabalho”, pontua.
Além disso, ele conta que a 3M abraçou o sistema híbrido, mas, agora, tem demandado o presencial das lideranças sênior ao menos três vezes por semana (o que logo deve escalonar para a média gerência). A justificativa é que com mais gente chegando à companhia a questão da cultura organizacional estava sendo afetada. “Muito do que a gente aprende, aprende fazendo, não é só lendo ou a distância”, acrescenta.
Sobre as novas gerações, ele ressalta que antes as pessoas arrumavam sua vida ao redor do tempo do trabalho. Agora, arrumam o trabalho ao redor da sua vida. Mas não se sabe, diz ele, se isso continuará assim, pois tudo depende do mercado e o mundo está “num momento de profunda instabilidade e mudanças”.
Entre as grandes perguntas ainda a serem respondidas, segundo Gandolfi, está o fato de se os mais jovens irão querer trabalhar em grandes organizações, uma vez que, hoje, os da geração Z já são “altamente empreendedores e com o mundo digital estão criando seus próprios negócios”.
Por outro lado, lembra que as pessoas estão trabalhando mais, por mais tempo. E alguns começam usar o termo “adolescentes de 60 anos”, para pessoas que chegam a essa idade com boa saúde e querem continuar trabalhando (muitos, num plano B ou C).
E lembra o próprio caso da 3M que buscou no mercado seu novo CEO global, Bill Brown, que tem 62 anos: “Por que trouxeram um baby boomer, o que ele tem que não tínhamos nos nossos quadros? É uma boa reflexão a se fazer”.
Após ter realizado, em abril, o spin-off da divisão de saúde, que gerou uma nova empresa, a Solventum, a 3M passou a ser uma companhia de US$ 25 bilhões (US$ 9 bilhões era o que movimentava a unidade que se foi na movimentação). Com isso, a empresa afirma ter voltado a ser core business, que é ser uma companhia industrial com um braço de consumo. No Brasil, suas marcas mais fortes nessa divisão de consumo são Post-It, Scotch Brite e Nexcare.
Uma vez que dois terços dos negócios da empresa são voltados ao b2b, a unidade de negócios de maior faturamento no País é a de “packaging”, ou seja, a concessão em comodato de equipamentos e insumos para embalar produtos, nas fases finais das linhas de produção de companhias de bens de consumo, alimentos e bebidas.
Globalmente, a 3M possui 92 mil funcionários, dos quais 2,5 mil estão no Brasil, distribuídos na sede, em Sumaré (SP), e em centros de inovação, escritórios regionais e outras instalações de produção e distribuição.
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