A Confederação Nacional da Indústria (CNI) prevê expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,6% em 2023, sobre crescimento de 3,1% previsto para 2022. A redução do ritmo de crescimento da economia deve ser provocada, principalmente, pelas altas taxas de juros, mas também pela inflação elevada e menor crescimento mundial. Os dados fazem parte do documento Economia Brasileira 2022-2023, divulgado nesta terça-feira, 6 de dezembro.
Na indústria, a previsão é de alta de 0,8% do PIB em 2023, um desempenho menor do que a expansão de 1,8% prevista para este ano. A indústria de transformação vai crescer 0,3%, com expectativa de desempenhos setoriais diferentes: os produtores de bens mais sensíveis à renda com desempenho mais favorável do que as indústrias com produtos mais sensíveis ao crédito, que terão mais dificuldades em função dos juros elevados.
Para criar as bases de um crescimento sustentável, o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, avalia que a prioridade para 2023 precisa ser a reforma tributária sobre o consumo. A PEC 110, que tramita no Congresso, contempla as principais demandas do setor produtivo, como eliminação da cumulatividade e imediata recuperação dos créditos tributários devidos e não-pagos, além de corrigir distorções do sistema tributário atual, que levam à perda de competitividade da indústria e de eficiência da economia.
“O Brasil também está muito atrasado na adoção de uma política industrial moderna. Todas as nações desenvolvidas, e mesmo algumas que estão em estágio similar ao nosso, têm atuado para fortalecer ao máximo suas indústrias, sobretudo porque vivemos atualmente em um cenário de acirrada rivalidade entre os estados nacionais, barreiras comerciais e remodelação das cadeias globais de valor”, explica Robson Braga de Andrade.
Levantamento da CNI mostra que Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul, China, Alemanha e demais países da União Europeia preveem investimentos de US$ 5 trilhões, nos próximos anos, em políticas de apoio às suas respectivas indústrias, com vistas a alcançar objetivos estratégicos, como a digitalização e a descarbonização da economia.
“Defendemos que o novo governo coloque como uma de suas prioridades a adoção de uma política industrial alinhada às melhores práticas internacionais, que tenha como objetivos o aumento da produtividade e a inserção das empresas brasileiras na economia global. As iniciativas devem prever ações que fortaleçam a indústria e ajudem o país a aproveitar as oportunidades abertas pela revolução tecnológica e pela transição para a economia de baixo carbono”, afirma o presidente da CNI.
O presidente da CNI destaca que as propostas da indústria, que fazem parte do Plano para a Retomada da Indústria, entregue ao futuro governo, não se baseiam na criação de incentivos nem na redução de tributos, mas na adoção de medidas que garantam às indústrias nacionais igualdade de condições frente à acirrada competição do mercado internacional, com a redução do Custo Brasil e com políticas de apoio à indústria nacional similares às implementadas pelos nossos concorrentes.
“A premissa básica é a seguinte: não existe país forte e desenvolvido sem uma indústria competitiva e integrada ao mercado global”, reforça Robson Andrade.
A evolução do PIB da indústria em 2022 foi impulsionada pela indústria da construção. Esse segmento, foi beneficiado pelas taxas de juros vigentes em 2020 e 2021, que deixaram muitos projetos em andamento para 2022, e da ampliação do programa Casa Verde e Amarela. A CNI projeta que a indústria da construção encerrará 2022 com crescimento de 7%.
O setor de Serviços avançou de forma consistente ao longo de 2022, devido a maior circulação de pessoas, à recuperação do poder de compra da população e ao processo de digitalização dos serviços. E foi o principal responsável pelo crescimento econômico em 2022. Todas as categorias de serviços superaram o patamar em que se encontravam antes da pandemia, exceto os serviços prestados às famílias. Para este ano, a CNI projeta que o PIB de serviços cresça 3,9%.
Aumento da arrecadação em 2022, influenciado pelo crescimento da atividade econômica, pela recuperação do mercado de trabalho e pelas arrecadações atípicas relacionadas à exploração de recursos naturais e privatizações favoreceram o quadro fiscal da economia brasileira. Nesse cenário, o governo federal deve encerrar 2022 com superávit primário de R$ 75,1 bilhões (0,9% do PIB projetado pela CNI), o primeiro superávit desde 2013.
O cenário fiscal de 2023, contudo, será diferente. A PEC da Transição possibilita a expansão adicional de até R$ 200 bilhões nas despesas primárias do governo federal em 2023, fora do teto de gastos. A expansão dos gastos pode gerar efeitos positivos sobre o crescimento do PIB em um primeiro momento, mas pode trazer consequências negativas para a economia brasileira, com aumento de inflação, desvalorização do câmbio e aumento dos juros.
Na projeção da CNI, dado o quadro fiscal de 2023, a expectativa é que o Banco Central do Brasil manterá a Selic em 13,75% a.a. até meados de setembro de 2023, quando deve iniciar o ciclo de cortes da Selic – tendo em vista a provável convergência das expectativas de inflação em 2024 e 2025 para suas respectivas metas –, de modo que a Selic encerre 2023 em 11,75% ao ano.
Para 2023, as concessões de crédito às empresas devem apresentar menor crescimento, em razão, principalmente, da taxa de juros em patamar elevado, que encarece o crédito, e da desaceleração da atividade econômica, que tende a reduzir a demanda pelo crédito.
Para os consumidores, três fatores devem contribuir para uma desaceleração ainda mais forte no crédito: a taxa de inadimplência, alto nível de comprometimento de renda e endividamento e o menor ritmo de crescimento da massa de rendimento real.
Estima-se que a inflação seja de 5,7% em 2022, acima da meta de inflação de 3,5% para o ano, e de 2023 em 5,4%, também acima da meta de inflação de 3,25% para o ano.
O mercado de trabalho deverá apresentar resultados menos positivos em 2023 quando comparado à sua trajetória em 2022. A expectativa da CNI é de que o número de pessoas ocupadas tenha crescimento de 3,1% ao final de 2023, em relação a este ano. Essa será a principal razão para o crescimento esperado de 3,7% para a massa de rendimento real em 2023.
Assim, a taxa de desemprego deverá apresentar relativa estabilidade em 2023. A expectativa da CNI é de uma taxa de desemprego média de 8,9%, e uma taxa de desemprego para o quarto trimestre – final do período – de 8,6% em 2023.
As previsões não são positivas para o comércio exterior brasileiro em 2023, com quedas de 1,8% nos valores das exportações e de 2,2% nas importações. Espera-se que haja manutenção dos preços de combustíveis e alimentos em patamares elevados, embora menores do que em 2022. Calcula-se que o saldo da balança comercial seria de US$ 55,9 bilhões, mesmo valor projetado para o final de 2022.
Esse saldo é insuficiente para cobrir o déficit nas balanças de serviços e de rendas projetados para 2023, o que implica saldo negativo na conta de transações correntes de US$ 28 bilhões. O déficit de 1,7% do PIB em 2023 é déficit 0,1 ponto percentual superior a 2022.
Na projeção da CNI para o comércio exterior em 2023, a taxa de câmbio encerrará o ano em R$ 5,45 por dólar, com média anual de R$ 5,33 por dólar. O principal fator que deve influenciar a taxa de câmbio no campo doméstico em 2023 é a situação fiscal. Além disso, as discussões sobre alterações de regras fiscais, que podem ocorrer no próximo ano, tendem a levar a expectativa de um aumento do risco Brasil e uma maior volatilidade cambial até o primeiro trimestre do próximo ano. Na comparação com a taxa de câmbio R$/US$ média de 2022 projetada pela CNI, trata-se de uma desvalorização de 7,4% em razão do cenário de maior risco fiscal e de sustentada demanda por dólar.
Por: Adriana Nicacio
Fotos: Iano Andrade
Da Agência de Notícias da Indústria
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