Ressalvas feitas pela auditoria KPMG dificultam a obtenção de empréstimos lá fora e deixam banco ainda mais dependente do Tesouro.
Uma das manobras contábeis feitas pelo governo federal para garantir o cumprimento da meta fiscal em 2012 vai dificultar a vida do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O banco terá enorme dificuldade para captar recursos com investidores internacionais por causa de ressalva incluída no seu balanço do segundo semestre do ano passado pela KPMG, contratada para fazer a auditoria externa.
É um obstáculo que se soma ao rebaixamento da nota de classificação de risco de crédito pela agência Moody’s, anunciado na semana passada.
Com as portas mais fechadas no mercado internacional, o BNDES fica ainda mais dependente do Tesouro Nacional para se financiar. Somente no ano passado, o Tesouro repassou R$ 55 bilhões de empréstimo ao banco de fomento.
Entrave
A ressalva, que colocou um entrave às captações externas do banco, foi feita pelos auditores porque uma decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN), tomada às vésperas da virada do ano, permitiu inflar o lucro do BNDES em R$ 2,38 bilhões. A medida adotada permite que um quarto das ações na carteira da instituição não precise mais ter valor de referência atualizado quando há grandes oscilações de mercado.
Dessa forma, o lucro do banco não foi afetado pela queda das cotações das principais papéis que detém. Com isso, o BNDES garantiu o pagamento de mais dividendos ao Tesouro, que, assim, conseguiu mais receitas para cumprir a meta de superávit primário das contas públicas.
A ressalva não impede o acesso do BNDES ao mercado internacional, mas restringe o universo de compradores dos papéis do banco.
Isso porque grandes investidores institucionais americanos, europeus e asiáticos, como, por exemplo, fundos de pensão e outros fundos de investimentos, têm restrições à compra de títulos de instituições que apresentam ressalvas envolvendo o lucro do emissor.
Contabilidade
Segundo apurou o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, a contabilidade do banco ficou comprometida porque a exceção dada pelo CMN ao BNDES ignorou algo que é importante para os investidores: a marcação do preço das ações pelo valor de mercado. Fontes do mercado financeiro e do próprio governo confirmaram as dificuldades que podem ser enfrentadas pelo BNDES.
“Com nota rebaixada e com ressalva envolvendo lucro no balanço, será difícil, realmente, encontrar um investidor que aceite comprar esse papel. Especialmente porque as perspectivas neste momento e as informações que dispomos não são positivas”, afirmou o administrador de um grande fundo internacional de investimentos.
Uma fonte do governo admitiu que “um grupo gigantesco de investidores” deve ficar ressabiado em adquirir esses papéis do BNDES.
Banco nega
Procurado, o banco presidido pelo economista Luciano Coutinho negou, por meio de sua assessoria, que a ressalva feita pela KPMG “representa qualquer impedimento para emissão externa”.
O banco afirmou que “continua recebendo várias propostas de emissão desde a divulgação do balanço”, e que ainda é “o emissor brasileiro com melhores condições de custos após o governo brasileiro”.
Segundo o banco, o acesso ao mercado externo neste ano ocorrerá caso haja “sinalização de demanda potencial”. Em 2012, o banco não realizou operação no mercado externo.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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