Ao IT Forum, Paulo Sergio Ruffino, pesquisador da CTIF Global Capsule Foundation, falou sobre desafios e oportunidades do 6G no Brasil.
Holografia, cirurgias remotas, comunicação no espaço ou subaquática, todos esses sonhos da humanidade estão bem próximos de se realizar de acordo com os pesquisadores e desenvolvedores do 6G. Com a possibilidade de alcançar até 1 terabit por segundo (Tbps) de velocidade e um tempo de latência de 1 microssegundo (0,001 milissegundos), a nova tecnologia promete tornar possível o avanço de dispositivos de Internet das Coisas (IoT) e precisará andar de mãos dadas com a computação quântica e a Inteligência Artificial.
É o que explica Paulo Sergio Ruffino, pesquisador da CTIF Global Capsule Foundation, que esteve recentemente no Brasil, presidindo o 6G Briefing, evento que discute os próximos passos do desenvolvimento do 6G no país e no mundo. Em entrevista para o IT Forum, Paulo falou sobre o foco da tecnologia, as possibilidades a partir dela, os desafios que podemos enfrentar e quais os próximos passos a partir daqui.
Desde o princípio, o 6G tem sido desenvolvido para resolver os problemas imediatos do ser humano. Até o momento, as pesquisas têm se concentrado em criar uma rede ágil, capaz de dar suporte à Internet das Coisas (IoT), viabilizando o combate à desigualdade social e o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
“Essa é a primeira rede que está sendo desenvolvida com base no ser humano. E a ideia é que estejamos conectados em todos os lugares, para que mais pessoas tenham acesso ao benefício da internet móvel.”, explica Ruffino. Segundo relatório publicado pelo Banco Mundial em 2023, o aumento de 10% na penetração da banda larga resultou no avanço de 0,9% a 1,5% no crescimento do PIB em países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). “O acesso traz soluções e desenvolvimento econômico porque as próprias populações desenvolvem essas soluções com base nos problemas ali presentes.”
Além de contribuir para o acesso e o desenvolvimento econômico dos países, o 6G também visa promover a Sociedade 5.0, conceito desenvolvido pelo Ministério da Ciência do Japão. Esse modelo busca oferecer assistência e incluir de forma ativa populações em processo de envelhecimento. “A ideia é que, até 2050, tenhamos sensores capazes de interpretar tudo o que acontece ao nosso redor. Combinados à inteligência artificial, esses sensores poderão oferecer soluções de proteção e conforto, atuando como um assistente digital que nos protege e melhora significativamente a qualidade de vida da humanidade”.
Para alcançar tudo isso, um dos desafios do 6G é a necessidade de geração de energia. O volume massivo de dados e dispositivos conectados que as redes terão que suportar pede por técnicas de gerenciamento de energia mais eficientes, com baterias de maior durabilidade tanto para os celulares quanto para as torres de transmissão.
“É uma conexão que ainda não experimentamos no 5G, e o 6G traz, que é, em seu framework de desenvolvimento, a premissa de ser uma rede sustentável. Para isso, será fundamental contar com as inteligências artificiais (IAs) para controlar, selecionar e otimizar o volume de dados transmitidos”, explica. De acordo com o pesquisador, o desenvolvimento do 6G vem de mãos dadas com a Inteligência Artificial, que será integrada em todos os devices.
Outra estratégia para reduzir o consumo de energia, pontua, é o uso da computação quântica. Embora ainda esteja em fase de desenvolvimento, esta tecnologia também está prevista para ser lançada no mercado por volta de 2030.
Com a quantidade de conexões que o 6G permitirá, uma das principais preocupações de seus desenvolvedores e de governos é a proteção de dados. Para Ruffino, isso reforça a importância do investimento do Brasil em computação quântica. “Estamos estudando e desenvolvendo a computação quântica para lidar com questões de criptografia. Essa não é apenas uma questão pública, mas também de Estados.”
Entre 2020 e 2021, a União Europeia investiu mais de 1 bilhão de euros em pesquisas sobre tecnologia quântica. “O nível de poder que a tecnologia quântica alcançará está sendo tratado como uma questão de estado, com muitos países optando por não compartilhar essas informações. Por isso, o Brasil precisa investir nessa área para estar preparado para os grandes desafios que enfrentaremos a partir de 2030.”
Mesmo se propondo a ser uma rede desenvolvida para solucionar os problemas do ser humano, o 6G ainda tem alguns obstáculos pela frente, em termos de infraestrutura e geopolítica. Para operar com uma largura de banda tão alta, de 1 Terabyte por segundo (Tbps), os países precisarão investir ainda mais em fibra ótica e cobertura via satélite.
“Nem tudo a gente consegue resolver com wireless. Então, incentivos fiscais, parcerias e o desenvolvimento de mais players na área de satélites, vão ser necessários para que os países aumentem sua infraestrutura de rede. Só assim vamos conseguir fazer uma transição de tecnologia na qual não haja tantos impactos populacionais.”
Além disso, o pesquisador ressalta a importância de fomentar a competitividade no mercado, para garantir um equilíbrio maior e um acesso ao 6G a todas as camadas da sociedade. “Se alguns governos decidirem excluir certos players do mercado, podemos enfrentar um retrocesso na padronização, tornando o 6G uma rede cara, como aconteceu com o 1G. A competitividade é essencial para evitar isso e garantir que o 6G não se torne um fracasso.”
Ainda em fase de implantação do 5G, com conclusão prevista para julho de 2029, o Brasil iniciou as discussões sobre o 6G com o evento 6G Briefing, realizado em novembro deste ano. Segundo Ruffino, o país precisa fomentar mais o assunto para estar na mesma página de outros mercados internacionais.
“Na Europa, América do Norte e Ásia, as discussões sobre o 6G já estão bem aceleradas desde 2019. Foi importante dar início a essa discussão aqui também, e é por isso que escolhemos o Brasil como sede para o 6G Briefing”, afirmou Ruffino.
O país também precisará investir mais em pesquisa e estrutura de rede para possibilitar que o 6G chegue à toda a população. “O Brasil é um país continental, o que já um desafio por si só. É preciso investir em educação para estudar soluções de fibra, que é uma estrutura de rede que vai ser necessária pra o 6G. Existem regiões, como a Amazônia, o Nordeste, onde a situação ainda é muito precária.”
Ainda há um longo caminho até a chegada do 6G e, depois dela, um caminho ainda maior até que a tecnologia chegue ao patamar esperado. Apesar de toda a discussão no meio acadêmico, a padronização começou a ser definida neste ano, e expectativa é que seja finalizada apenas em 2029, com o lançamento comercial em 2030.
“Até agora, o 6G esteve em processo de pesquisa e desenvolvimento, explorando o que é possível fazer. Agora, estamos entrando na etapa de definições dos grupos de trabalho, que estão sendo organizados pela ONU e pela 3GPP [3rd Generation Partnership Project, organização de telecomunicações que trabalha em padronizações]. Esses grupos irão estabelecer padrões para cada área do 6G, permitindo que os órgãos reguladores definam um padrão global antes de 2030, e que as operadoras de telecomunicação possam adquirir faixas e se preparem para o lançamento da rede 6G.”
O pesquisador avisa que o lançamento é apenas um início e que a tecnologia irá se desenvolver aos poucos, assim como os dispositivos para suportá-la. “Pode ser que o primeiro release sequer tenha computação quântica, e que consiga ser resolvido com uma AI permissiva, que atenda aos casos principais.”
A Anatel foi procurada pela redação do IT Forum para saber os planos do país para a chegada do 6G, mas não teve resposta a tempo desta publicação.
Bem-vindo a
Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI
© 2024 Criado por Textile Industry. Ativado por
Você precisa ser um membro de Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI para adicionar comentários!
Entrar em Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI