*por Carlos Zago
Inovação parece ser a palavra do momento, todos estão atrás dela, mas poucos sabem como, de fato, fazê-la. Mas quando uma oportunidade de inovar se apresentar na sua frente, será que você é a melhor pessoa na sua empresa para julgar se uma inovação é útil e se deve ou não ser implementada? Tudo se trata de uma comparação entre a cultura da sua empresa e em qual lugar da “curva de difusão” você está.
A curva de difusão da inovação nos explica como a sociedade se comporta com a implementação de novos conceitos ou tecnologias. Ela divide os usuários de uma inovação numa linha temporal relacionada a quão rápido as pessoas adotam um novo conceito ou adquirem uma nova mercadoria, por exemplo. Se você já está familiarizado com a curva, talvez queira pular os próximos 6 parágrafos.
Os primeiros a adquirir/adotar uma inovação são denominados inovadores: eles representam cerca de 2,5% do mercado total de um produto. Sua decisão é baseada simplesmente no conhecimento que há algo novo, sem necessariamente ter todas as informações sobre a inovação, chegando a ser algo próximo do emocional.
Passado algum tempo, mais pessoas se interessam pela inovação. São os primeiros adeptos: eles constantemente buscam informações sobre novas tecnologias ou tendências, representando 13,5% do mercado dessa inovação. Sua decisão baseia-se na informação.
O próximo grupo representa uma fatia mais significativa do mercado, correspondendo a 34% dele, e é denominado maioria inicial: Aqui já se pode verificar o sucesso de uma inovação, pois os participantes desse grupo apenas aceitam uma inovação que foi testada pelos grupos anteriores e comprovadamente traz resultados satisfatórios. Sua decisão baseia-se no empirismo.
O penúltimo grupo é chamado de maioria tardia: representando outros 34% do mercado, esse grupo pode ser definido como cético. São aqueles que adotam uma inovação apenas depois que mais da metade das pessoas já o fez. Sua decisão baseia-se na necessidade.
Finalmente o último grupo, porém não menos importante, é o dos atrasados: Esse grupo só adquire uma inovação quando não há mais possibilidades de se ter a versão anterior ou quando ela se torna essencial para a vida em sociedade, sendo composto por 16%. A incapacidade é o que leva esse grupo às compras.
O exemplo mais utilizado para apresentar a curva é o lançamento de um novo iPhone. Os Inovadores são aqueles que fazem filas nas lojas da Apple e compram o novo aparelho sem ao menos ler as especificações. Já os primeiros adeptos entram no site, veem o que o modelo tem de diferente dos concorrentes e decidem comprá-lo. A maioria inicial foi às lojas apenas depois que os reviews comprovaram que o novo smartphone da Apple realmente é revolucionário. Quando praticamente metade das pessoas tem um novo iPhone e estão mandando novos tipos de mensagens, a maioria tardia se sente compelida a ter um também. Por fim, os atrasados são aqueles que só compram smartphones porque não conseguem mais achar telefones de flip.
A teoria de difusão coloca que quanto mais à esquerda se está na curva, maior tende a ser o poder aquisitivo e a capacidade de liderança do indivíduo. Então, pode-se dizer que os inovadores e primeiros adeptos, por terem mais o perfil de líderes e influenciadores, devem tomar as decisões relacionadas à inovação na minha empresa? A resposta é um sonoro e retumbante NÃO.
Tudo depende da cultura organizacional da sua empresa e de como ela se posiciona ou pretende se posicionar perante o mercado. Se pegarmos exemplos de empresas de tecnologia, fica claro que as mais inovadoras devem ter um pool de inovadores e primeiros adeptos como decisores. O real desafio é não pensar em gigantes como a Apple, Microsoft ou Samsung, mas sim em empresas do cotidiano, que empregam a maioria das pessoas, que provavelmente irão parar para ler esse artigo.
Vamos pegar o exemplo de seguradoras, que são empresas que oferecem um serviço bem estabelecido e com grande concorrência. Se uma seguradora preza pela qualidade dos serviços prestados, pela confiança e pela tradição, qualquer inovação a ser adotada tem que ser totalmente confiável, com cases de sucesso e ROI comprovado. Logo, os melhores para o trabalho estão na maioria inicial e tardia. Já uma seguradora que quer se destacar pelos planos flexíveis, acesso rápido, um site e aplicativos modernos, precisa contar com inovadores e primeiros adeptos, para que tais projetos saiam do papel, mesmo sem todas as informações de mercado de antemão.
Em suma, saber se posicionar na curva de difusão de inovação é um primeiro passo para ser honesto com você mesmo, se conhecer melhor e analisar em qual função seu perfil de inovação se encaixa. Portando, basta saber qual é a filosofia da empresa em relação à inovação, que você irá automaticamente saber se o seu perfil é o de um bom decisor na hora de inovar. Claro que não espero que ninguém peça as contas ou mude de empresa, mas montar um time heterogêneo e escutar os perfis mais ligados ao estilo de inovar da empresa pode ser a chave para não deixar passar boas oportunidades de se atingir a disrupção.
* Sobre Carlos Zago: Médico e especialista em inovação, Carlos Zago é formado em Medicina pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), com MBA em Gestão Estratégica de Negócios pela Faculdade de Informática e Administração Paulista (FIAP). Desde cedo dedicou-se a estudar modelos de negócios disruptivos na saúde e em outras áreas, tendo trabalhado com aceleração, mentoria e criação de startups. Atualmente é Presidente da Innovster, na qual atua gerando inovação para grandes players do mercado através de experiências, eventos, workshops e desenvolvimento de laboratórios de inovação.
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