Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Fonte:|bigcheat.eu5.org|

Aspectos Históricos

A canábis é consumida pela humanidade há cerca de dez mil anos, desde a descoberta da agricultura. Era utilizada para a obtenção de fibras, óleo, sementes consumidas como alimento e por suas propriedades alucinógenas. A planta
parece ser originária da China, apesar de outras evidências apontarem para a
Ásia Central. O famoso Pen Tsao Ching, farmacopéia escrita em 100 d.C., baseada
nas compilações de plantas com propriedades farmacológicas do imperador Shen
Nung (2737 a.C.), mostrava que os chineses já conheciam há alguns milênios as
propriedades alucinógenas da canábis. Nesses períodos a utilização da planta
estava intrinsecamente ligada ao misticismo e ao curandeirismo. Quando os
europeus chegaram a China no século XIII, tal hábito havia declinado e caído em
desuso, permanecendo apenas o cultivo da planta para a obtenção de fibras
têxteis.

A maconha possui grande influência sobre a cultura hindu. Segundo a tradição da Índia, a planta fora um presente dos deuses aos homens,
capaz de provê-los de prazer, coragem e atender a seus desejos sexuais. A planta
teria brotado pela primeira vez quando gotas do néctar dos deuses (Amrita) se
derramaram sobre a Terra. Nos Himalaias indianos e no Tibet as preparações a
base de canábis encontram grande importância no contexto religioso. Sadhus
(homens sagrados) dedicam sua vida à deusa Shiva. Não possuem propriedade e
praticam ioga e meditação. O consumo de maconha faz parte de seus rituais. Uma
das preparações de maconha utilizada é o bhang, obtido a partir da maceração de
brotos da planta, convertidos em um suco ou doce. A ganja consiste em brotos
compactados por vários dias e fumados com tabaco ou datura. O charas é a própria
resina (haxixe), fumada da mesma forma.

Durante a Antigüidade, os gregos e romanos não tiveram por hábito utilizar a maconha com propósitos alucinógenos,
apesar de conhecerem tais propriedades. Dioscórides e Galeno utilizavam-na como
medicamento para alguns tumores e observaram que o uso continuado era capaz de
causar esterilidade masculina e inibir a produção de leite na mulher. Durante a
Idade Média, a planta foi praticamente esquecida. Já o Império Islâmico conviveu
com a planta e a espalhou pelas regiões conquistadas.

Durante o século XI, na região Qazwin, no atual Irã, viveu Hassan bin Sabbah, o Velho da
Montanha. Estudioso do islamismo e vivendo em Alexandria (Egito), viu-se
prisioneiro quando apoiou a ascensão ao trono do príncipe Nizar, no seu entender
o herdeiro legítimo do califado egípcio. Conseguindo escapar do encarceramento,
encontrou refúgio em Qazwin, onde ergueu seu castelo no Monte Alamut (Ninho da
Águia). Fundou, então, a Ordem dos Ismaelitas de Nizar. A Ordem, destinada a
apoiar o postulante ao trono e a defender os preceitos do islamismo, possuía uma
disciplina militar rígida, tendo Sabbah no topo da hierarquia. Logo se tornou
uma potência regional, incomodando diversos monarcas, que tentaram derruba-la em
vão. Seus soldados, conhecidos como anjos destruidores, devotavam-lhe
obediências e executavam qualquer comando de Sabbah, incluindo o suicídio. Para
esses, Sabbah construiu o Jardim Terreno das Delícias. Após consumirem uma
porção considerável de haxixe, os soldados iniciados eram levados para o jardim,
povoado de animais e plantas exóticos, construções paradisíacas, alimentos
refinados e virgens adolescentes, onde os desejos eram desprovidos de limites.
Tal hábito fez com que Sabbah denominasse seu exército de Ordem dos Haxixins.
Quando no século XI os cruzados tomaram conhecimento do poderio e dos métodos
militares dos homens de Sabbah, passaram a utilizar o termo assassino (haxixim)
para denominar todo indivíduo capaz de grandes atrocidades.

Somente a partir das Cruzadas (séculos XI – XIII) e das Grandes Navegações Européias
(século XVI), que a maconha voltou a ser conhecida no continente. A partir do
século XVIII as plantas provenientes das novas colônias começaram a ser
catalogadas e estudas de maneira mais científica, sem o misticismo medieval que
influenciava o conhecimento europeu até então. Com a chegada do século XIX, a
Europa se vê as voltas com movimentos culturais intimistas, voltados para a
busca do prazer e do individualismo, interessados no místico e no espiritual, em
busca das raízes nacionais originadas na Idade Média. O mundo islâmico, agora em
parte dominado por Napoleão Bonaparte, foi alvo das inspirações de pintores e
poetas e o consumo de haxixe foi bastante cultuado.

Em 1845, um médico francês, J. J. Moreau de Tours e os escritores Gérard de Nerval e Téophile Gautier fundaram o Clube dos Haxixins. Participavam das reuniões mensais artistas renomados do período, tais como Charles Baudelaire,
Alexandre Dumas, Eugene Delacroix e Victor Hugo. A intenção dos encontros era
cultuar o consumo de haxixe, fomentar a produção artística e exaltar Hassan bin
Sabbah. Todas deveriam trajar indumentárias árabes e periodicamente um dos
membros era eleito o Velho da Montanha. No mesmo período, Lewis Carroll publicou
o livro Alice no País das Maravilhas, povoada de imagens oníricas e de alusões
ao consumo de haxixe.

A Medicina também passou a utilizar a maconha com propósitos terapêuticos a partir dessa época. As indicações voltavam-se
principalmente para o tratamento da asma, tosse e doenças nervosas. A reação ao
consumo da maconha e outras substâncias psicotrópicas ganharam força a partir do
final do século XVIII. Nessa época, vários fenômenos contribuíram para o
crescimento de uma postura contrária ao consumo de substâncias psicoativas.
Relatos de complicações, tais como o surgimento de quadros depressivos e
psicóticos entre os usuários de maconha, foram publicados. Nos Estados Unidos
ganhava força o Movimento de Temperança, que alertava para os efeitos
indesejáveis de tais substâncias (tais como a dependência) e proponha
regulamentar melhor a conduta para prescreve-las. Entre a porção mais
conservadora da população norte-americana, cresceram as campanhas que pregavam a
proibição do comércio de todos os psicotrópicos, inclusive o álcool. Esse
movimento ficou conhecido como Proibicionismo.
A partir da década de 10, diversas substâncias foram proibidas dentro do território americano. Os países
da Europa e das Américas acompanharam essa tendência. Ao final da década de 30,
a cocaína e maconha estavam proibidas em vários países do mundo. As vendas de
morfina passaram a ser rigorosamente controladas. Nos Estados Unidos, o álcool
foi proibido de 1920 a 1935. Concomitantemente, o mundo vivia as incertezas do
período entre guerras e sentia o crescimento da Guerra Fria. Estados Unidos e
União Soviética despontavam como as novas potências mundiais. A economia mundial
ainda sentia os prejuízos causados pela Primeira Guerra Mundial. A recessão era
a regra para muitos destes. A Segunda Guerra batia às portas do mundo com a
ascensão do Fascismo italiano e do Nazismo alemão. Eclodiu e tomou as atenções
do mundo até 1945.

Com a resolução deste conflito, o mundo passou a se preocupar com a Guerra Fria e as com a perspectiva de um conflito nuclear.
Dentro desse contexto, a juventude da costa leste americana começou a buscar
alternativas àquele clima repressivo e pessimista que se formou ao longo do
século XX. Durante as férias, alguns jovens americanos pegavam o pouco do
dinheiro que conseguiram ajuntar e punham o pé na estrada. Eles pediam carona da
costa leste até a costa oeste. A famosa Route 66 foi palco de grandes aventuras
nesse período. “Em julho de 1947, juntando uns 50 dólares do meu velho seguro de
veterano, eu estava pronto para ir à Costa Oeste”, afirma Jack Kerouac, em seu
livro On the Road um dos escritores mais importantes desse movimento. Nessa
época, tinha 25 anos.

Essa geração ficou conhecida como Geração Beat (beatnicks). Os beats eram uma geração de jovens em busca de alternativas. Achavam que o modelo vigente da sociedade americana falira. Queriam sentir a paz e a liberdade. Desejavam
contestar os valores do American way of life a partir da tomada de novas
atitudes. Eram poetas e escritores que decidiram cair na estrada e buscar novas
experiências. O consumo de drogas, em especial a maconha e outros alucinógenos,
foi muito utilizado por eles.

Esse não-alinhamento, de início tímido, isolado e imperceptível ganhou mais adeptos e se radicalizou: agora jovens de
classe média começavam a abandonar as universidades e se refugiavam em
comunidades. Desejavam viver da agricultura, fazer amor livre de regras morais e
usar drogas como uma forma de contestação, uma maneira de cair fora do sistema.
Tudo isso ao som de muito rock´n´roll. Nascia o Movimento Hippie dos anos
sessenta e setenta.

Ao final dos anos 70 a maconha estava novamente bastante difundida em todo o Ocidente. É difícil dizer o quanto esse consumo
aumentou ou declinou nos últimos trinta anos. Desde o recrudescimento do
consumo, nos anos quarenta e cinqüenta, a maconha nunca mais deixou de existir
nas sociedades da Europa e das Américas. A popularização do consumo fomentou a
estruturação de um narcotráfico especializado na produção e distribuição dessa
substância, concentrado na América do Sul e países africanos. Em 1984, a Holanda
optou pela liberação do comércio e do consumo de maconha e seus derivados. A
planta passou a ser legalmente vendida em estabelecimentos específicos (coffee
shops). Além dissoDurante os anos oitenta e início dos anos noventa, as
preocupações sobre uso de drogas voltaram-se para a cocaína e as metanfetaminas
(ecstasy). Somente a partir da segunda metade da década que o tema foi
recuperado e novamente colocado em discussão.

Novos estudos mostraram a existência de receptores específicos para a maconha no cérebro (receptores
canabinóides) e de substâncias endógenas (anandamidas) bastantes semelhantes ao
princípio ativo da maconha (delta-9-tetraidrocanabinol). A presença de sintomas
de abstinência entre os usuários crônicos de maconha e o relato de complicações
agudas entre os usuários (depressão, quadros psicóticos) contestaram a teoria de
que se tratava de uma droga leve, incapaz de causar dependência.

Por outro lado, movimentos alinhados a legalização do consumo advogam que a
substância já possui elos culturais capazes de regular seu consumo, os índices
de dependência são baixos e os danos da proibição (violência e marginalidade)
são mais danosos que o consumo em si. Alegam, ainda, que a planta possui
propriedades medicinais e a utilização de suas fibras têxteis poderia ajudar a
economia de muitos países. Alguns países como o Canadá e alguns estados
norte-americanos aceitam a prescrição do tetraidrocanabinol como estimulador do
apetite para portadores de câncer e AIDS. É utilizada ainda como inibidor de
náuseas e vômitos para pacientes submetidos à quimioterapia.

A maconha é uma substância que ao longo de sua história suscitou (e ainda suscita)
discussões ora apaixonadas, ora embasadas de ambos lados. A tensão gerada entre
aqueles que defendem a proibição, o consumo médico ou a simples legalização do
consumo ainda não chegou ao fim (será que um dia chegará?).


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