Fonte:|sanduichedealgodao.com.br|
Helô Gomes
Helô Gomes
A biografia completa está no link do final…
“Nossa diversidade cultural é nosso maior patrimônio. Acho que devíamos aprender a dialogar mais com nossa regionalidade. Prestar atenção, por exemplo, na moda que é feita pelo povo e para o povo. Ainda temos muito preconceito, como se a moda não fosse algo popular. Mire-se no exemplo da Feira de Caruaru, um mercado que se renova, que se sustenta e que reaproveita matéria-prima que não é usada por outros produtores.”
Gilberto Gil, Fashion Marketing abril de 2007
Foi com essa frase que começou todo o meu trabalho de conclusão de curso da faculdade de jornalismo. Foram meses tentando descobrir o que era esse mundo feira de Caruaru – geografia, economia, história, tradições e tudo mais que pudesse explicar um pouco desse fenômeno do comércio de roupas que foi acontecer ali, no agreste pernambucano. Mal sabia eu que as respostas não estavam nos livros, mas na boca das pessoas.
Dentro da Feira de Caruaru, acontece a Feira da Sulanca, umas oito mil bancas que vendem tudo quanto é tipo de roupa. Barracas que são montadas e desmontadas semanalmente e que viram um imenso shopping popular ao ar livre. Dá pra imaginar?
Em cada feira roda De real, mais de milhão 90% em nota viva Pra facilita a transação O resto é pré-datado À vista ou no cartão |
Não se avexe meu leitor Que têm mais informação 37% da mercadoria É lá toda produção E 68% dos comerciantes Em Caruaru, tem habitação |
E aí eu me perguntava: Qual a distância entre a moda e a identidade brasileira… Distâncias? Não, não… existe ponte, reflexo.. tudo. Menos distância! As cores, os cortes, os tecidos, os brilhos estavam todos ali. Parecia que a inspiração do tema daquela coleção verão-verão saia do sorriso dos estilistas/vendedores e ia direto para a máquina de costura. Incrível assim, simples assim.
Moda é uso, estilo É tipo passageiro É gosto e capricho “Sempri” de estrangêro* Meu prezado, limpe a vista Vô falá de brasileiro |
Vestir, calças e falar É cultural ou ligeiro* Só que em Caruaru Moda chega primeiro Qui criatividade Não falta pros costureiro |
E lá tem absolutamente tudo: roupa masculina (gravata, terno, sunga, bermuda) roupa infantil, sapatos…
Pr’ajudá no passeio Caruaru, na cidade Tem coisa di pioneiro É Feira do Calçado Que pra vendê sapato É o mais barateiro |
O sapato s’inventô Antes di vir o senhô O querido Salvadô Foi pelas pirâmide Pro lado do Egito Que o hómi se calçou |
E pra mulher então? Blusa, top, calça, maquiagem, biquíni…
Mas Sulcana resolve E deixa as donzela no riso Com blusa, saia,jaqueta Bata, top, vestido Com bolero, camisa ou saia Estampado, ou liso |
Tem também decote De canoa, em V e lua Junta c´o short de lycra Pra moça fica mais nua Ai ela ta prontinha Já pra ir pra rua |
Acessórios..
Pra si infeitar também A moça acha o que queria Trancelim, corrente e brinco Pra embelezá seu dia-a-dia Tudo isso ela encontrou Na parte da Bijuteria |
Lá tem banca, tem banquinha Pra muié s´embelezá Bolsa e cinto de tachinha Com colar pra s´enfeitá Soma aí, mais o Ray ban Pra homarada se oriçá |
Lingerie…
Na Grécia, em Creta a Lingerie apareceu No século dezoito Foi que amoleceu Saiu metal e madeira Veio barbatana de baleia |
Na feira de Sulanca Cabra sabe é não Quanto qui tem na banca Que lingerie é de montão Só sabe que por peça Faz de 10 pra cliente bão |
Bolsa, saco, sacola pochete…
Foi na Idade Média Qui´a bolsa de mão surgiu As coisas não dava no bolso Aí, a muié refletiu Pra roupa colar no corpo De bolsa se serviu |
A bolsa evoluiu Custando bem mais xerém Por causa de belezura Pois não engana ninguém Funcionalidade, qualquer uma De um jeito ou de outro sempre tem |
E como afirmou Gilberto Freyre em “Modos de Homem e Modas de Mulher”, na feira pode-se comprar também muita moda não-visual, como música:
Muito se escreve da moda e seu roteiro Da roupa, biju e calçado Só que compra o sacoleiro Outros tipo de moda Como música e cheiro* |
Tem muito ritmo Como di andar e falar* Mas o caso aqui É o que faz dançar È baião, Xaxado e xote Na festa mais popular |
E cheiros…
A história do perfume É mais ou menos assim: Os hómi chamava deus Queimava erva até o fim Por causa de fumaça, Surgiu “per femum” do latim |
Perfume virou negócio E ganhou monte de sinônimo Pomada, aroma,xêro Furo até camada de ozônio Com ele que Cleópatra amô Julio Cézar e Marco Antônio |
Claro, chapéu.. muito chapéu…
A Caruaru está 555 metro acima do már Num planalto elevado De clima semi-árido O sol fica di rachá E chapéu é bom di usá |
Chapéu se tira na hora De almoça ou janta Quando encontra moça E no momento de reza Taí o caso do chapéu Que acabei de contá |
Fazer uma ponte entre o universo da moda, recheado de super modelos, glamour e poder, com o cotidiano das pessoas comuns, era o objetivo principal de um trabalho de conclusão de curso de jornalismo, e por isso, não pude utilizar outra linguagem a não ser a mais escutada pelos corredores da querida feira: o cordel.
Pra contar a historia Dessa cidade festeira Usei um recurso Feito na madeira Junto com a literatura de cordel Escrevi sobre a feira |
Além de fortalecer Folclore nacional É hábito de leitura E só custa um real Aproxima o leitor Com o texto coloquial |
O cordel é marcado pela oralidade e por um ritmo sarcástico-informativo encantador. É através dele e de imagens da feira, que Cordel de moda – Arte e cotidiano na Feira de Caruaru, vai tomando forma, para narrar a versão caruaruense da estória da moda, através das várias histórias de Caruaru:
Partindo do sapato, Vamos até o chapéu Com história e anedota Tudo em cordel Mostrei a moda E gente pra dedéu |
Registrei a moda Na maior feira artesanal E quem for a Caruaru Faça o principal Visite o museu do cordel E prepare o cheque especial |
Espero que tenham gostado! =) Quem sabe, logo logo, tô convidando todas vocês para a noite de autógrafos! Yayyy!
Cordel de Moda – Arte e Cotidiano na Feira de Caruaru! Ah, aqui tem a parte acadêmica deste trabalho, para quem quiser saber mais…
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