Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Corredores ecológicos podem ser a chave para o combate das mudanças climáticas

Para Sandro Faria, diretor-executivo do Centro de Inovação e Pesquisa Itaqui, ferramenta também ajuda na manutenção da biodiversidade.

Sandro Paulino de Faria, diretor executivo do Centro de Inovação e Pesquisa Itaqui. Foto: Divulgação.

Em agosto, atingimos 14 meses consecutivos de temperaturas acima da média da era pré-industrial, o que foi mais um grande alerta para os cientistas. As estratégias para combate da emergência climática nunca foram tão discutidas, mas diante do cenário atual ainda é preciso amadurecer e ampliar o debate. Uma dessas estratégias são os corredores ecológicos, capazes de unir fragmentos florestais, promover restauração da biodiversidade e, assim, contribuir para redução de temperatura. “Os corredores ecológicos são a única ferramenta de gestão territorial viável para manutenção da biodiversidade e para combater as mudanças climáticas”, afirma Sandro Paulino Faria, doutor em biodiversidade e diretor executivo do Centro de Inovação e Pesquisa Itaqui.

Na entrevista abaixo, o biólogo, que também é diretor executivo da Carbono Florestal – Pesquisa e Conservação, conta um pouco mais sobre os corredores verdes, sobre a diversidade da Mata Atlântica, bioma onde está localizado o Itaqui, além de abordar algumas iniciativas do Centro de Inovação e Pesquisa Itaqui.

Faria também é um dos palestrantes confirmados para o Liderança de Propósito, curso que ocorre nos dias 22, 23 e 24 de se....

IT Forum: O Itaqui está localizado em um espaço de mais de 1 milhão de metros quadrados de Mata Atlântica. O bioma é lar de 72% dos brasileiros e está presente em 17 estados no país. O que faz a Mata Atlântica única em sua biodiversidade?

Sandro Paulino Faria: A Mata Atlântica está entre os biomas mais ameaçados do mundo e, ao longo da evolução da história de ocupação do país pelo litoral, ela tem sido degradada e fragmentada. No Itaqui, nossa vegetação é a floresta ombrófila densa. Sua topografia muito acidentada propiciou que alguns fragmentos florestais fossem preservados. Esta pergunta do porquê a Mata Atlântica é tão especial tem sido feita pelos naturalistas há séculos. São vários fatores que respondem a esta pergunta: regime hídrico, temperatura e solos muito férteis. Tudo isso em conjunto faz com que essa seja uma das regiões mais biodiversas do planeta.

IT Forum: Os anos de 2023 e 2014 foram os anos mais quentes desde 1850. Como lugares de Mata Atlântica preservada podem contribuir para o combate ao aquecimento global?

Sandro Paulino Faria: Em agosto, atingimos 14 meses consecutivos de temperaturas acima da média da era pré-industrial, o que para nós, cientistas, é o limite para uma emergência climática. E são as áreas mais degradadas que têm mais sofrido com a elevação das temperaturas. Nas áreas florestadas, com cobertura vegetal mais expressiva, temos alguns benefícios como queda de temperatura e elevação da qualidade do ar. É interessante usar como exemplo o Corredor Ecológico de Medellín, na Colômbia, eles começaram em 2016 e hoje já é possível afirmar que em alguns trechos florestados a temperatura diminuiu 3ºC.

IT Forum: Você tem acompanhado as iniciativas de corredores ecológicos mundo afora? Na sua opinião, as cidades têm olhado mais para isso? Chegamos em uma situação em que os corredores verdes não podem ser mais ignorados?

Sandro Paulino Faria: Os corredores ecológicos são a única ferramenta de gestão territorial viável para manutenção da biodiversidade e para combater as mudanças climáticas. Temos falado mais sobre isso, mas ainda está muito aquém do que precisamos, pois essa discussão precisa ganhar dimensões maiores. É um assunto que será muito importante na COP 30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), que ocorrerá no Brasil em 2025. Nós, no Centro de Pesquisa e Inovação Itaqui, temos estudado e explorado potenciais conexões entre os fragmentos florestais do Itaqui e fragmentos florestais de nosso entorno. Portanto, o assunto ganhou espaço e atenção e está sensibilizando mais pessoas se compararmos com os últimos 20 anos, mas ainda estamos muito aquém do cenário ideal para realmente combater as mudanças climáticas com conexões florestais e restauração ecológica. Precisamos urgentemente de mais ação.

IT Forum: Você e sua equipe realizaram um trabalho de mapeamento do território onde está localizado o Distrito Itaqui. Quais foram as principais descobertas?

Sandro Paulino Faria: A Serra do Itaqui, onde o Distrito Itaqui está localizado, não havia sido alvo de nenhum estudo científico, então tínhamos poucas informações. Esta é uma área tombada pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) e esse tombamento levou em consideração questões de beleza cênica e patrimônio cultural. Nosso trabalho explorou o meio físico, o meio social e o meio biótico. O meio social foi importante, pois conseguimos caracterizar os três municípios que têm interface com a Serra do Itaqui: Barueri, Santana do Parnaíba e Itapevi e retratamos um pouco de cada um.

Hoje sabemos os índices de mortalidade, desemprego, alfabetização, quantidade de serviços públicos de escolas e de postos de saúde. No que diz respeito ao meio físico, descobrimos que a Serra do Itaqui tem um número impressionante de nascentes: só no território do Distrito são oito nascentes de água de muita qualidade. Tudo isso sobre uma grande formação geológica, que é o grupo geológico Itaqui. Temos diversos afloramentos de monzogranito no Itaqui, o que dá nome à Serra. No que diz respeito à biodiversidade, por estarmos tão próximos a cidade de São Paulo, ficamos muito surpresos com a capacidade que esse fragmento florestal tem para manutenção da biodiversidade. Encontramos centenas de espécies: mamíferos, aves, répteis e anfíbios, diversas delas infelizmente, ameaçadas de extinção.

IT Forum: Você já atuou como professor, tem larga experiência como consultor e pesquisador e agora assume um cargo de diretor executivo do Centro de Inovação e Pesquisa do Itaqui. Como você enxerga esse novo desafio?

Sandro Paulino Faria: Eu enxergo com muita empolgação e grande responsabilidade. A possibilidade de estruturar um centro de pesquisas e deflagrar suas linhas de pesquisa é muito interessante. O Centro de Inovação e Pesquisa Itaqui já começou a tomar corpo. Eu sou o diretor-executivo e já temos também uma diretora de pesquisas, a Lara Liboni, doutora e pesquisadora. Já temos alguns resultados como esses estudos iniciais que comentei, frutos do Centro de Inovação e Pesquisa Itaqui, realizados por um time de mais de 20 pesquisadores. Foi muito interessante trabalhar com esse conjunto de pessoas de diversas áreas, geologia, biologia, ciências sociais entre outros. Somos um distrito verde de inovação, então o desafio agora é integrarmos as ferramentas de tecnologia para inovar, protegendo e restaurando a nossa biodiversidade. E, acima de tudo, combatendo as mudanças climáticas.

IT Forum: Quais os principais objetivos do Centro de Inovação e Pesquisa Itaqui?

Sandro Paulino Faria: Estamos em uma fase embrionária apesar de já termos resultados significativos. Além dos resultados que já mencionei, faço outro destaque. A partir dos resultados de nossos estudos de campo, utilizamos tecnologia geoespacial e modelagem de nicho ecológico para inferir quais fragmentos florestais de nosso entorno teriam a mesma relevância biológica do Itaqui. Nossos resultados foram submetidos a diversas consultas públicas do governo do estado de São Paulo. Além disso, estamos viabilizando alguns convênios com centros de pesquisa e inovação de importantes universidades de São Paulo, e municípios de nosso entorno. Em breve também devemos iniciar pesquisas com filogenômica e DNA ambiental. Acreditamos que temos condições de combater as mudanças climáticas com pesquisas, restauração ecológica e conexão florestal.

IT Forum: Você é finalista do XPRIZE Rainforest, competição destinada a projetos científicos em florestas tropicais, integrando um grupo de pesquisadores na Amazônia. Você pode contar um pouco mais sobre o projeto?

Sandro Paulino Faria: Eu integro um grupo de 51 pesquisadores de diversos países. A sede desse time é em Zurique, Suíça, mas tem gente da Polônia, Espanha, França, Brasil, Canadá, Finlândia, Noruega e Brasil. Eram mais de 40 times competindo por esse prêmio com objetivo de inovar e trazer ferramentas tecnológicas e de inovação que possam ser aplicadas na conservação da biodiversidade. O nosso time foi para a Amazônia em duas ocasiões e trabalhamos com o sequenciamento de DNA em campo. Com essas sequências de DNA, uma artista associada a nosso grupo está, transformando códigos genéticos em música. É uma aliança de cultura, tecnologia, ciência e inclusão de povos indígenas. Os povos indígenas aprenderam um pouco do que nós fazemos, em relação ao seu sequenciamento de DNA em campo e nós aprendemos muito com eles. Essas sequências de DNA estão sendo musicadas, então tem também esse componente artístico. Estamos muito empolgados, pois fazemos parte de um dos seis times que chegaram à final.

IT Forum: E quando será a final?

Sandro Paulino Faria: Haverá um encontro do G20 no Brasil no mês de novembro em que o ganhador será anunciado. Independentemente do nosso time ganhar o prêmio, nós já estamos felizes de estar entre os finalistas e também pela beleza desse trabalho. Alguns dos insetos que nós sequenciamos são desconhecidos pela ciência. Então, no mínimo esse trabalho tem potencial de revelar espécies novas e desconhecidas para ciência e isso é muito importante para nós.

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