Muito embora o 5G represente um grande salto evolutivo para as soluções de TI corporativas e o uso que as organizações fazem delas, apenas 33% dos executivos ouvidos pelo Antes da TI, a Estratégia diz ter intenção de investir em 5G durante 2023 – uma queda de 5 pontos percentuais na comparação os resultados de 2022 do estudo da IT Mídia. Uma das prováveis razões para isso é a crise global que freou investimentos, uma vez que o 5G ainda carece de maturidade e já não estava no topo das prioridades.
Essas são algumas das conclusões obtidas pelos próprios CIOs que participaram da sala 5G: redes privadas na prática (e seus dilemas), realizada na quinta (20) durante o IT Forum Trancoso – e que reuniu os CIOs das três maiores operadoras brasileiras, além de um player do setor de saúde. Mas isso não significa que essas soluções ficaram em segundo plano por muito tempo.
“Uma pesquisa de 2022 do IDC, se não me engano, fala do potencial de redes privativas. Ele [o mercado] vai sair de aproximadamente US$ 1,8 bilhão de dólares para US$ 8 bilhões até 2026. É um mercado que a gente vai ter que explorar muito. Mas para isso temos que seguir a regulamentação e expandir o 5G no Brasil”, ressaltou Cesar Augusto dos Santos, CIO da Claro.
Santos se refere às obrigações impostas às operadoras que arremataram frequências no leilão – encerrado em novembro de 2021. Desde então as empresas têm se dedicado à cumprir metas de cobertura em todas as capitais do País (o que foi alcançado em outubro de 2022) e cidades de maior população. E isso, claro, demanda um alto volume de investimentos em infraestrutura, que podem levar algum tempo para serem concretizados, principalmente em regiões mais remotas.
ESPECIAL IT FORUM SERIES: 5G e o desafio da maturidade
“As operadoras têm esse desafio de ampliar cobertura para disponibilizar tecnologia. Temos os investimentos em antenas, e acho que vale dizer que não é só implementação de antenas, mas do sistema de fibra óptica”, lembrou Denise Inaba, CIO da Vivo.
Os dois executivos de operadora concordaram que o Brasil, por conta do leilão um pouco menos adiantado com relação a outros países, tem um cenário em que a tecnologia ainda é imatura. Mas que os investimentos feitos pelas operadoras são “constantes”. E que o mercado B2B é muito receptivo ao potencial inovador das redes privadas, que permitem implementações específicas e mais seguras.
“Quando a gente fala de 5G não se trata só de infraestrutura, mas de um ecossistema e dos serviços que você coloca na rede”, disse Santos. “É difícil montar esse lego. Esse mercado vai exigir uma visão de orquestração. É um processo de maturidade que vejo no Brasil.”
“Sem dúvida para a gente do setor de saúde [o 5G] é algo importantíssimo. Eu converso com colegas começando a testar, alguns até escalando a tecnologia para o negócio. No nosso caso estamos fazendo testes, alguns pivôs”, contou Danilo Zimmermann, CIO da Dasa, durante o debate. “Nosso objetivo maior é potencializar a mão de obra especializada médica distribuída pelo Brasil para telemedicina, telecirurgia etc.”
A baixa latência possível no 5G é um grande atrativo para o setor, diz Zimmermann. Isso porque o trabalho médico exige precisão e visibilidade absolutas. Além disso, alguns profissionais específicos no setor – como patologistas, por exemplo – são muito difíceis de se obter e o 5G aumentaria o alcance de sua atuação.
“A grande provocação é tirar valor. Em telemedicina, telepatologia, mesmo no uso de IoT, já estamos conseguindo atingir objetivos de negócio ainda que com outras tecnologias [de conectividade]. E aí entra meu ponto: o custo do dinheiro lá em cima está forçando o C-level a priorizar [outros investimentos]”, ponderou Zimmermann. “Entre investir em cibersegurança ou algum tipo de experiencia do cliente de curto prazo, o 5G acaba ficando um pouco para depois.”
Para Denise Inaba, essa espera para fazer investimentos é “super compreensível”, dado o estágio de maturidade dessas redes.
“Do nosso lado a gente entende e acha natural”, mas que os casos de uso vão começar a surgir. “Tem um momento, e vimos isso com outras tecnologias, de massificação. É um ecossistema”, disse a CIO da Vivo. “Tem um papel nosso, na linha de orquestradores do ecossistema, de fomentar.”
César Santos, da Claro, também apontou que o fator custo também pode ser um impeditivo nesse momento. “É natural que toda tecnologia em seu estado de hype tenha custo mais elevado”, lembrou. “A medida que começa a virar comoditie você consegue equalizar um pouco essa questão.”
Segundo ele, nessas condições, apenas indústrias que definitivamente precisam ser pioneiras vão investir mesmo com custos elevados.
Nessa corrida das operadoras para apresentar casos de uso de 5G que impulsionem mais negócios, a Vivo já tem seus exemplos. No setor bancário, ajudou na implementação de uma agência do Itaú Unibanco totalmente conectada usando 5G, reduzindo o número de cabos na unidade. Na indústria, Denise mencionou uma fábrica inteligente da Huawei em Jundiaí (SP), que conta com 14 antenas para habilitar o uso de tecnologias como IoT e IA, entre outras.
Outro caso divulgado recentemente pela empresa é com o Hospital Israelita Albert Einstein, que vai usar 5G para explorar possibilidades de baixa latência em iniciativas educacionais na área de saúde. A ideia é gerar possíveis provas de conceito para uso na assistência.
Cesar, da Claro, diz que a empresa já contabiliza cerca de 50 casos de usos de redes privativas em 5G -sendo os mais emblemáticos os feitos com a Gerdau e com a Nestle. “São projetos de dez anos para evoluir a infraestrutura e colocar serviços em cima da camada”, ressaltou.
O executivo também citou “oportunidade fenomenal” no agronegócio, apesar dos desafios de conectividade no setor.
“Se você gera valor pode até cobrar mais caro”, disse Zimmermann, arrancando gargalhadas. “A gente está fazendo um projeto de realidade aumentada para treinamento da equipe médica e usando metaverso. A turma está gostando, por ser inovador, mas o resultado da preparação do time médico também [é positiva]”.
Segundo o CIO do Dasa, são projetos rodando sobre redes 4G – mas que no 5G seriam “muito melhores”.
Auana Mattar, CIO da TIM e que estava na plateia do debate, contribuiu com o tema. Para ela, a definição sobre que padrão de rede utilizar ainda varia de projeto para projeto, e nem sempre o 5G é a primeira escolha. Mas no caso de aplicações para saúde, no qual Zimmermann está inserido, “é um nível que não pode ter erro, não pode ter falha”.
“Por isso não podemos ser irresponsáveis. Esse ano, em função do custo do dinheiro e nossas obrigações, é um ano para fomentar e não parar com testes. É trabalhar com o ecossistema, aprender a precificar”, disse, citando um projeto piloto feito em parceria com a Stellantis, a Microsoft e a Accenture em que “ninguém sabia ainda como cobrar”, disse.
Marcelo Gimenes Vieira
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