Especialista adverte que disparidade salarial pode levar a desvalorização do setor e até processos.
CTOs mulheres, que lideram as áreas de tecnologia no Brasil se veem diante de um abismo em termos de salários e benefícios quando comparadas com seus colegas homens, concluiu um levantamento da Plongê, consultoria especializada em seleção de alta liderança.
O estudo identificou que mulheres em cargos de Chief Technology Officer (CTO) ganham em média 48% a menos do que seus pares masculinos na mesma posição, com os mesmos anos de experiência e qualificação. O percentual ultrapassa a média de 22% de desigualdade salarial entre os dois gêneros quando somadas todas as atividades, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base no último Censo.
Ao somar os ganhos dos entrevistados que ocupam esses cargos de alta responsabilidade, a cifra total alcança R$34 milhões. As mulheres, no entanto, correspondem praticamente a metade de baixo desse montante relacionado.
O levantamento de dados ocorreu no segundo semestre de 2023, com profissionais que ocupam o cargo de alta liderança em tecnologia em São Paulo, com o mesmo tempo de experiência (23 anos em média). A análise demonstrou uma tendência de comportamento de organizações que contam com esta cadeira, especialmente quando envolvemos as trajetórias profissionais de homens e mulheres.
“Trabalhando com altas lideranças de grandes empresas percebemos o grande desfalque desta posição em desigualdade de gênero. Não há somente menos mulheres CTOs, mas as que estão no mercado não são valorizadas da mesma forma. E o pior, algumas empresas se aproveitam dessa disparidade salarial do cargo para investir menos ao contratarem mulheres”, declara Adriana Orelhana, sócia da Plongê e especialista em Executive Search em posições C-level.
Segundo a especialista, a prática de remuneração desigual de gênero entre empresas prejudica o próprio setor, que já sofre, atualmente, um “apagão” de profissionais qualificados. De um lado, homens e mulheres são atraídos por ofertas de trabalho no exterior, enquanto, de outro, um grande número de pessoas é excluído de oportunidades, com dificuldade de acesso a cursos e treinamentos de especialização.
Além de apontar prejuízos ao setor, Adriana adverte que a equiparação salarial interna, dentro de uma empresa e em cargos de uma mesma hierarquia, devem estar entre os objetivos das organizações. Isso porque os prejuízos não param apenas na desvalorização do setor. Somente no ano passado, o tema foi assunto de mais de 36,8 mil processos ajuizados em todo o Brasil, segundo o Tribunal Superior do Trabalho. Por isso, lembra Adriana, esses casos podem levar, sim, a uma judicialização se houver espaço para uma comparação dentro de uma mesma organização, entre subsidiárias ou filiais num mesmo grupo.
“Cabe a cada organização identificar como estão as disparidades salariais de gênero do mercado que fazem parte, e entender como poderia contribuir para a equiparação. Porém, para existir uma valorização de profissionais de identidades mais diversas, é necessária uma boa vontade em ser mais justo e inclusivo”, conclui a executiva.
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