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O futuro do governo está sendo construído em escolas. No livro The Fourth Revolution, John Micklethwait e Adrian Wooldridge começam a contar a história da mudança de paradigma de governo no século 21 a partir do caso da Academia de Lideranças de Shanghai. Esse centro de formação dos futuros governantes chineses, inaugurado em 2005 por Hu Jintao, não tem objetivos tão teóricos – as academias do partido servem a esse propósito –, mas ofertam programas práticos de gestão pública. Quando um executivo assume o comando de uma estatal ou um governador de uma província é indicado, o governo central manda as novas lideranças estudarem, e se atualizarem, em Shanghai. A Academia de Lideranças de Shanghai, escrevem Micklethwait e Wooldridge, “é uma organização empenhada na dominação mundial”.
A China não é um caso isolado. Cingapura tornou-se um vale do silício de governança, atraindo lideranças de outros países para estudarem seus casos de sucesso em gestão pública. A Índia lançou, recentemente, uma plataforma de capacitação online em governo com potencial de se tornar a maior do mundo. Governos asiáticos hoje entendem que capacidade de Estado começa com capacitação de pessoas.
A liderança asiática em capacitação em governo revela questões mais profundas das democracias ocidentais. Suas instituições ainda sofrem com crise de confiança. Seus governos ainda estão atrasados em acompanhar as grandes disrupções econômicas e tecnológicas das últimas décadas. Nenhuma transformação tecnológica consegue superar uma incapacidade de transformarmos pessoas.
Em 2014, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) passou a reunir algumas dessas principais organizações, estatais ou privadas, de capacitação e desenvolvimento do serviço público em sua Rede de Escolas de Governo. Por meio da rede, instituições de diversos países podem se ajudar a superar os desafios de transformação de pessoas. Mas a rede também revela o tamanho dos desafios. Uma pesquisa feita em 2021 entre a OCDE e a Escola Nacional de Administração Pública (Enap) descobriu que menos de 20% das escolas da rede ofertam programas em automação e inteligência artificial.
Os desafios também revelam a oportunidade do protagonismo do Brasil. Em 2019, enquanto as demais escolas discutiam novas versões de matrizes de competências transversais – o sistema de conhecimento, habilidades e atitudes que todos os servidores devem deter –, o Brasil ainda não tinha sequer a versão 1.
Hoje, não apenas o governo brasileiro adotou uma matriz de competências transversais, mas avançou e criou sua própria matriz de competências de liderança. A Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoas, lançada em 2019, permitiu um mapeamento geral das necessidades de desenvolvimento dos diversos órgãos da administração federal.
Para satisfazer boa parte dessas necessidades, a Enap, como principal escola de governo do Brasil, desenvolveu mais de 500 cursos, incluindo doutorado profissional em gestão pública, bootcamps tecnológicos e cursos online abertos, gratuitos e acessíveis a qualquer cidadão pela plataforma Escola Virtual de Governo. Hoje, o Brasil não tem apenas a maior escola da rede da OCDE em número de alunos, mas também tornou-se uma liderança em inovação e desenvolvimento de servidores para toda a rede.
Essa inovação em desenvolvimento é necessária para que o País se antecipe ao futuro do trabalho no serviço público. Pesquisas da Enap descobriram que podemos economizar até 1 em 4 servidores que irão se aposentar até 2030. E requalificar, para funções mais inteligentes, 1 de cada 5 servidores que não devem se aposentar até 2030.
Essa revolução digital já está acontecendo. Em 2022, o Brasil saltou para a vice-liderança global do ranking de maturidade digital do Banco Mundial. E não faltam recursos. Apenas em gratificações para servidores realizarem cursos e concursos, o governo brasileiro já chegou a ultrapassar o valor de R$ 400 milhões ao ano.
O que falta é estratégia em nível do governo como um todo. A Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoas já é um mapa que pode ficar cada vez mais detalhado. Mas ainda depende de voluntarismo. Faltam instrumentos para que, quando governos definem novas políticas transversais, ou novas visões de governo, as competências necessárias possam ser desenvolvidas por todo o serviço público.
O Brasil tem um grande potencial para se tornar um líder em governo inovador, mas para isso é preciso que seus programas de capacitação assumam um protagonismo na pauta de reformas administrativas. É necessário que o governo entenda que o futuro do País está sendo construído em suas escolas de governo e que é preciso tratá-las como ativo estratégico para garantir o sucesso do País no século 21. Nossas escolas poderão, assim, ser organizações empenhadas na inovação mundial.
O futuro do governo está sendo construído em escolas. No livro The Fourth Revolution, John Micklethwait e Adrian Wooldridge começam a contar a história da mudança de paradigma de governo no século 21 a partir do caso da Academia de Lideranças de Shanghai. Esse centro de formação dos futuros governantes chineses, inaugurado em 2005 por Hu Jintao, não tem objetivos tão teóricos – as academias do partido servem a esse propósito –, mas ofertam programas práticos de gestão pública. Quando um executivo assume o comando de uma estatal ou um governador de uma província é indicado, o governo central manda as novas lideranças estudarem, e se atualizarem, em Shanghai. A Academia de Lideranças de Shanghai, escrevem Micklethwait e Wooldridge, “é uma organização empenhada na dominação mundial”.
A China não é um caso isolado. Cingapura tornou-se um vale do silício de governança, atraindo lideranças de outros países para estudarem seus casos de sucesso em gestão pública. A Índia lançou, recentemente, uma plataforma de capacitação online em governo com potencial de se tornar a maior do mundo. Governos asiáticos hoje entendem que capacidade de Estado começa com capacitação de pessoas.
A liderança asiática em capacitação em governo revela questões mais profundas das democracias ocidentais. Suas instituições ainda sofrem com crise de confiança. Seus governos ainda estão atrasados em acompanhar as grandes disrupções econômicas e tecnológicas das últimas décadas. Nenhuma transformação tecnológica consegue superar uma incapacidade de transformarmos pessoas.
Em 2014, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) passou a reunir algumas dessas principais organizações, estatais ou privadas, de capacitação e desenvolvimento do serviço público em sua Rede de Escolas de Governo. Por meio da rede, instituições de diversos países podem se ajudar a superar os desafios de transformação de pessoas. Mas a rede também revela o tamanho dos desafios. Uma pesquisa feita em 2021 entre a OCDE e a Escola Nacional de Administração Pública (Enap) descobriu que menos de 20% das escolas da rede ofertam programas em automação e inteligência artificial.
Os desafios também revelam a oportunidade do protagonismo do Brasil. Em 2019, enquanto as demais escolas discutiam novas versões de matrizes de competências transversais – o sistema de conhecimento, habilidades e atitudes que todos os servidores devem deter –, o Brasil ainda não tinha sequer a versão 1.
Hoje, não apenas o governo brasileiro adotou uma matriz de competências transversais, mas avançou e criou sua própria matriz de competências de liderança. A Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoas, lançada em 2019, permitiu um mapeamento geral das necessidades de desenvolvimento dos diversos órgãos da administração federal.
Para satisfazer boa parte dessas necessidades, a Enap, como principal escola de governo do Brasil, desenvolveu mais de 500 cursos, incluindo doutorado profissional em gestão pública, bootcamps tecnológicos e cursos online abertos, gratuitos e acessíveis a qualquer cidadão pela plataforma Escola Virtual de Governo. Hoje, o Brasil não tem apenas a maior escola da rede da OCDE em número de alunos, mas também tornou-se uma liderança em inovação e desenvolvimento de servidores para toda a rede.
Essa inovação em desenvolvimento é necessária para que o País se antecipe ao futuro do trabalho no serviço público. Pesquisas da Enap descobriram que podemos economizar até 1 em 4 servidores que irão se aposentar até 2030. E requalificar, para funções mais inteligentes, 1 de cada 5 servidores que não devem se aposentar até 2030.
Essa revolução digital já está acontecendo. Em 2022, o Brasil saltou para a vice-liderança global do ranking de maturidade digital do Banco Mundial. E não faltam recursos. Apenas em gratificações para servidores realizarem cursos e concursos, o governo brasileiro já chegou a ultrapassar o valor de R$ 400 milhões ao ano.
O que falta é estratégia em nível do governo como um todo. A Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoas já é um mapa que pode ficar cada vez mais detalhado. Mas ainda depende de voluntarismo. Faltam instrumentos para que, quando governos definem novas políticas transversais, ou novas visões de governo, as competências necessárias possam ser desenvolvidas por todo o serviço público.
O Brasil tem um grande potencial para se tornar um líder em governo inovador, mas para isso é preciso que seus programas de capacitação assumam um protagonismo na pauta de reformas administrativas. É necessário que o governo entenda que o futuro do País está sendo construído em suas escolas de governo e que é preciso tratá-las como ativo estratégico para garantir o sucesso do País no século 21. Nossas escolas poderão, assim, ser organizações empenhadas na inovação mundial.
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