Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Depois do Caos: 7 Práticas Pós-Pandêmicas Possíveis e Necessárias Para Transformação

Você já  pensou o que  vai fazer pós relaxamento da quarentena? Com a reabertura gradual das atividades, ficamos mais sensíveis com os planos futuros. Já tem gente fazendo listas, sendo algumas das atividades mais desejadas: saída com os amigos, viagens, passeios ao ar livre. Mas como já comentamos aqui e aqui, não haverá barzinho, socialização ou até mesmo futuro se não adotarmos práticas mais sustentáveis em todas as esferas – seja na esfera política, pressionando políticos para derrubarem pautas que dão carta branca ao desmatamento e grilagem, como o episódio do arquivamento da MP 901, ou na esfera social, com o fortalecimento de laços comunitários. Sem desconsiderar mudanças individuais, focamos este manual de 7 práticas pós-pandêmicas em ações coletivas que já foram estudadas e/ou aplicadas em pequena e média escala e que comprovam que a mudança sistêmica não só é benéfica a todos, como também é a única saída possível.

 

https://www.modefica.com.br/wp-content/uploads/2020/07/opcoes-desen... Urbanas Comunitárias

Hortas urbanas comunitárias são feitas em terrenos públicos ou privados, mediante acordo com o responsável pela terra. O intuito de separar áreas em espaços como praças, parques ou até mesmo terrenos baldios é cultivar alimentos em locais próximos de onde eles serão consumidos, diminuindo o gasto com transporte, uso de agrotóxicos e conservantes, além de criar e fortalecer um senso de comunidade.

A lista de benefícios é imensa: além do trabalho em comunidade proporcionar a troca de conhecimento e fortalecimento de laços afetivos, ele também melhora a qualidade de vida por meio do contato com a natureza e ingestão de alimentos saudáveis. A reconexão com a origem dos alimentos faz quebrar hábitos capitalistas como a ideia de que alimento orgânico é artigo de luxo. Que luxo o quê! A conexão com a terra vêm das nossas origens e está mais do que na hora de nos voltarmos às sabedorias de nossos ancestrais.

Pode ser difícil imaginar espaços para cultivar hortas nas grandes cidades brasileiras, mas acredite, eles existem. Segundo levantamento feito pela Nossa São Paulo, em 2018, os cem maiores terrenos desocupados do municípios equivalem a seis Parques Ibirapueras. Tem bastante espaço para ser ocupado e alguns projetos que podem ser boas referências como estes aqui.

 

Cultivar Árvores Frutíferas em Vias Públicas

Imagine o cenário: você sai para pedalar ou para um passeio com os cachorros, encontra uma árvore frutífera no meio do caminho e volta pra casa com uma maçã, amora, abacate, manga. Por mais irreal que este cenário possa parecer, essa realidade é possível. Em algumas regiões, elas já acontecem: em Belo Horizonte, além das árvores em vias públicas, a legislação de 1992 torna obrigatória a destinação de 5% dos espaços de parques para o plantio de árvores frutíferas. Leis municipais para a implementação de árvores desta qualidade em vias públicas existem em inúmeras cidades, de Belém à São Paulo. Na capital paulista existe até um mapa virtual e colaborativo para encontrá-las.

Mas ainda há pouca presença delas pelas cidades. Muitas árvores fazem parte de condomínios e não estão exatamente à disposição dos moradores da região. Pensando na mesma lógica das hortas urbanas comunitárias, a possibilidade da produção do alimento sem a presença de agrotóxico e conservantes para a população local diminui custos de transporte, emissões de Gases do Efeito Estufa (GEEs) e melhora a qualidade de vida de humanos e não-humanos – mais árvores frutíferas significa mais pássaros e abelhas também. Tendo em vista que, em muitas cidades, já existe uma legislação vigente há pelo menos vinte anos, vale reunir moradores, associações e outras entidades para pressionar o poder público a olhar para outras possibilidades de atendimento à população. 

 

Mais Parques, Mais Espaços Verdes

Já falamos por aqui sobre o estudo realizado em 2016, nos Estados Unidos, e publicado na revista Environmental Health Perspectives, sobre a relação da presença de áreas verdes próximas a residências e seus impactos na qualidade de vida de mulheres. Os espaços verdes contribuem em fatores ambientais – como a diminuição de ruídos, poluição do ar e calor extremo – e em fatores sociais – como engajamento social, atividades físicas e na redução de estresse. O estudo aponta que tais áreas, como uma praça ou parque público, podem reduzir em até 12% a taxa de mortalidade.

Damos pouca atenção à poluição do ar e suas consequências nas cidades brasileiras, ainda que tal agente seja responsável por 50 mil mortes no Brasil a cada ano, segundo dados da Organização Mundial da Saúde divulgados em 2018. Entre doenças causadas pela poluição atmosférica estão: câncer de pulmão, doenças cardíacas e acidente vascular cerebral (AVC). Tais GEE vêm, principalmente, do escapamento de veículos, usinas de energia e agricultura. Segundo o relatório, cidades das regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e São Paulo possuem níveis de poluentes acima dos padrões da OMS.

Ou seja: não ficam muitas dúvidas sobre onde precisamos agir, como sociedade, para estipular um futuro mais saudável. E esta visão não deve ir apenas à nível municipal – sim, pressionar vereadores por áreas mais verdes é fundamental – mas também pensar em nível federal. Segundo o artigo científico Chemical composition of fine particles (PM2.5): water-soluble organic fraction and trace metals (“Composição química de partículas finas (PM2.5): fração orgânica solúvel em água e metais vestigiais”, em tradução livre), o Brasil não possui legislação para o controle de PM2.5 [1], o que dificulta a definição de padrões e resultados mais assertivos sobre o impacto do composto químico na saúde da população.

Um exemplo de mobilização social para preservação de parques e espaços verdes foi a que aconteceu em São Paulo com o Parque Augusta. O movimento organizado de moradores foi incansável, mas, após anos de resistência articulada, o Parque Augusta está se tornando uma realidade aberta ao público e livre da especulação imobiliária.

 

Mais Home Office, Menos Congestionamento

Se tem uma coisa que aprendemos durante a quarentena é como transportar nosso trabalho da empresa para casa. Nós já listamos para você 12 dicas de como organizar seus horários, espaços e nutrir as relações com colegas de trabalho durante a quarentena. O trabalho em casa não era uma opção muito popular antes da Covid-19 obrigar alguns segmentos a optar por ele para não parar totalmente de trabalhar. Agora vemos que adotar tal medida com maior frequência pós-pandemia pode trazer diversos benefícios à nossa saúde mental e ao meio ambiente.

Estipular alguns dias da semana, ou do mês, para home office pode: reduzir horas gastas inutilmente no transporte público – que em algumas metrópoles, como São Paulo, chegam a 3 horas por dia -, diminuir acidentes de carro, níveis de estresse e emissões de GEEs provenientes dos veículos, como CO2 e NO2. Graças à diminuição de circulação de carros nas vias públicas, em um mês de quarentena, os níveis de poluição do ar caíram 53% e 30% no estado do Rio de Janeiro e na grande São Paulo, respectivamente. Os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que também houve redução no interior de São Paulo e na região Sul – principalmente na área metropolitana de Curitiba e Porto Alegre.

Sabemos que o debate sobre o trabalho remoto precisa ser feito levando em consideração diversas variáveis – como a sobrecarga, inclusive financeira, que ele pode trazer para as pessoas. Mas é um debate que precisa ser feito, levando em consideração às múltiplas realidades e possibilidades.

Podemos expandir esse pensamento também para viagens de trabalho, muitas vezes feitas de avião, cujas reuniões podem ser marcadas via internet. A aviação costuma contribuir com 2% das emissões globais de dióxido de carbono, mas especialistas na área apontam esse número como um recorte. As emissões dos aviões vão além do CO2, explica o professor sueco Stefan Gössling, sendo elas: o óxido de nitrogênio, vapor d’água, material particulado, trilhas de condensação e alterações das nuvens do tipo cirro. Isso estima um impacto de “no mínimo” 5%. Ou seja: por mais que viajar a trabalho com tudo pago dê aquele afago gostoso no ego, precisamos ir além do que nos convém como indivíduos num futuro próximo e pensar na sobrevivência da nossa espécie na próxima década.

 

Mais ciclovias, menos GEE

Segundo a lógica da dica anterior, esta é para aqueles que dizem (com razão): “mas eu não posso trabalhar em casa, minha profissão exige que eu trabalhe com programa tal, realize função tal, faça-essa-atividade-que-não-é-possível-ser-feita-em-casa”. O caminho, então, pode ter duas vias: a primeira, mapear quem são as pessoas atuando politicamente para melhoria do transporte público, inclusive coletivos independentes que buscam atuar de forma próxima à realidade institucional. Optar por caronas, caminhadas ou bicileta. Você pode estar fazendo cara feia agora, porque sabemos que pedalar até o trabalho é mais do que um incômodo de suar na roupa social, é também perigoso e, para muitos que não pegam há anos em uma bicicleta, um passo ao desconhecido.

Mas estas medidas estão sendo adotadas – e largamente estimuladas – por governos europeus, como no caso do Reino Unido, que planeja investir £ 250 milhões (R$ 1,7 trilhão) em ciclovias. O plano, parte da reabertura da economia, é estimular a população a não ficar aglomerada em transportes públicos e é também uma forma de conter o aumento das emissões de GEE – que têm previsões de aumentarem em larga escala. No Brasil, a prática carece de infraestrutura e educação no trânsito.

Segundo a Rede Brasil Atual, apesar da forte expansão das ciclovias em São Paulo na gestão de Fernando Haddad (PT) – que levou até prêmio internacional – desde que assumiu a prefeitura, em 2017, Bruno Covas (PSDB) não fez grandes movimentos para incentivar aumento de ciclistas. Porém, em dezembro de 2019, o prefeito anunciou um plano cicloviário para implementar 173 km de ciclovias na capital. Hora de ficar atento e cobrar, não é mesmo?

 

Criação e Fortalecimento de Associações de Bairros

Quando falamos nas dicas anteriores sobre mobilizar organizações e associações para cobrar ações e legislações mais sustentáveis de vereadores, citamos as associações de bairros. Isso porque, a criação de laços da comunidade fortalece a voz do coletivo e a luta por melhores condições de vida. Você sabe o nome de todos seus vizinhos? Qual foi a última vez que você conversou com eles? Não um rápido bom dia ou boa tarde, porque seus olhos bateram nos deles, mas sim uma conversa sobre a família, sobre uma novidade interessante, sobre as dificuldades do dia a dia.

Tendo se tornado uma geração fechada entre as paredes de sua casa, com a sensação de que “a rua é perigosa”, perdemos totalmente a noção de que as vias públicas são… públicas. São suas, dos seus vizinhos, da sua comunidade. Elas também estão cheias de buracos, são estreitas, dificultam o caminhar de um idoso com mobilidade reduzida ou de um deficiente. Pequenas ações comunitárias, como a criação de um grupo – de forma online – de seu bairro pode tornar mais perceptível as dificuldades dos moradores que, surpreendentemente, podem ser as mesmas que as suas. Levar estas reclamações aos vereadores, de forma coletiva, é mais eficaz do que marcá-los, individualmente, em postagens nas redes sociais.

Nós nos comovemos com jovens se dispondo a fazer compra para idosos na época de pandemia, mas que tal se combinássemos, pós-pandemia, em dividir o carro para fazer compras? Menos gasto com gasolina, mais dinheiro para comprar, mais interação social e quem sabe umas risadas.

 

Fortalecer o Fim Para Que Haja Novos Começos

O Brasil é o 4º maior produtor de plástico no mundo e recicla apenas 1%, segundo o relatório Solucionar a Poluição Plástica – Transparência e Responsabilização, do WWF. E não, isso não é culpa da nossa falta de educação em reciclar. Ou, ao menos, não é apenas culpa da ação individual. É fato que a maioria dos brasileiros desconhecem os tipos de materiais plásticos que são reaproveitáveis e que 54% deles disseram não achar claras as regras de reciclagem do lixo doméstico, mas é fato também que nos faltam investimentos mais assertivos do poder público nesta área. Por exemplo, nós não temos, em nível nacional, uma legislação a respeito da reciclagem de tecidos.

Isso revela números assustadores sobre o descarte incorreto de lixo, apenas pelo recorte do lixo têxtil: de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), a indústria da confecção brasileira gera 175 mil toneladas de resíduo por ano. Menos de 20% dos resíduos são reciclados ou reaproveitados, indo parar em aterros, e por lá permanecem por meses e até anos. Já dados do Núcleo de Apoio à Pesquisa de Sustentabilidade na Cadeia Têxtil e na Indústria da Moda, em parceria com a concessionária de coleta de resíduos LOGA, em setembro de 2017, contabilizaram que, apenas nas região do Brás e Bom Retiro – famosas por abrigarem 1.200 confecções de roupas -, foram produziram 46 toneladas de resíduo têxteis por dia.

Ou seja, para além da consciência da população, precisamos de estímulos de políticas públicas para além de publicidade e folhetos (que têm altas chances de virar lixo nas ruas e entupir bueiros). Precisamos cobrar de nosso governantes a criação de medidas nas esferas públicas e privadas, como a responsabilização de empresas pelo lixo produzido – estimulando a logística reversa; e o investimento na infraestrutura e redução de impostos em cooperativas de materiais reciclados nas cidades – que limpam vias públicas sem auxílio da prefeitura e sofrem com a dificuldade de se regularizar perante as mesmas, por conta dos altos tributos. Este é um ponto que carece de nossa atenção, como sociedade, para que o final de vida de um material crie oportunidades de empregos e o início de um novo produto.

Juliana Aguilera

Jornalista, feminista, fotógrafa, escritora, trilingue e 1/3. Acredita fielmente na força do jornalismo que preza pelos direitos humanos, no positivismo e na fé. Já descrita como um cinnamon roll recheado de wasabi, faz perguntas aleatórias sobre tudo e pode passar horas falando sobre J-pop e K-pop.

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