Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Desemprego acentua retração do consumo dos brasileiros

Recessão pode fechar 200 mil lojas no país

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Na contramão de outros componentes do PIB que registraram quedas menos intensas no primeiro trimestre, o consumo das famílias ampliou o resultado negativo nos primeiros três meses de 2016, na comparação com o fim do ano passado. O indicador recuou 1,7%, quase o dobro da retração de 0,9% registrada no quarto trimestre, frente aos três meses anteriores. E, com a piora do mercado de trabalho, analistas já consideram que o consumo deve demorar mais para se recuperar.

Na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, a queda foi de 6,3%. Nesse tipo de comparação, o número é menor que os 6,8% do quarto trimestre, mas ainda indica uma retração intensa e, pior, duradoura: o resultado foi o quinto negativo seguido.

Segundo o IBGE, o indicador ainda sofre reflexos do cenário difícil da economia, principalmente em relação à renda e ao crédito. O instituto destacou os juros elevados e os preços altos como fatores determinantes. A alta nominal de só 2,1% nas operações de crédito perde para a inflação e também influencia o cenário. Fecha o conjunto de condições adversas a piora no mercado de trabalho. Em abril, a taxa de desemprego chegou a 11,2%.

— É muito claro que não se deve imaginar melhoras tão expressivas adiante. Consumo é emprego e crédito. E o emprego ainda vai piorar. Difícil imaginar que, com menos renda e menos crédito, tenhamos recuperação importante no consumo — analisa o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Golnçalves.

O economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Paulo Levy concorda. Para ele, o cenário para o consumo das famílias só deve parar de piorar no segundo semestre. Já a expansão desses gastos deve demorar mais:

— É a primeira vez, desde 1996, que temos cinco trimestres seguidos de recuo no consumo das famílias. O desemprego ainda vai aumentar, os salários reais estão caindo, as condições de crédito estão longe de ser favoráveis…

O problema é que o indicador tem peso de 62% no PIB. Ou seja, influencia diretamente o desempenho da atividade econômica. Por isso, o economista do Santander Rodolfo Margato destaca que uma retomada mais consistente da economia depende de uma recuperação mais forte do consumo.

— Não há perspectiva de melhora a curto prazo — afirma.

A expectativa é que a melhora só comece a aparecer em 2017. A projeção da LCA Consultores é que o consumo das famílias recue 3,6% em 2016 e encerre o ano de 2017 ainda com estabilidade, sem crescimento. Segundo o economista-chefe da consultoria, Bráulio Borges, só a interrupção da queda no consumo das famílias já ajuda no desempenho da economia, diante de seu peso no cálculo do PIB:

— Ainda demora para o consumo voltar a crescer. De qualquer forma, a retomada da confiança já ajuda, principalmente para estimular o consumo pelos trabalhadores que hoje temem perder o emprego. O câmbio estável já ajuda a reduzir o pessimismo do consumidor.

Já Luiz Otavio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, vê potencial de crescimento no consumo, dependendo das medidas de política econômica:

— O consumo das famílias se recupera mais rápido. Podemos entrar num ciclo virtuoso se as medidas e reformas propostas pelo presidente Temer passarem rápido. Assim, o risco-país cai, leva com ele os juros e a inflação alta. Para o consumo começar a melhorar você tem de ter inflação e juros caindo e emprego subindo. E isso vem a reboque das expectativas para a economia.

PIORA DA QUALIDADE DE VIDA

Por enquanto, os números negativos ainda se traduzem na piora de qualidade de vida das famílias brasileiras, que cortam gastos para se adaptar ao novo cenário. Com um emprego temporário na Olimpíada do Rio, Jandira Rodrigues conta que precisou fazer um corte drástico de despesas quando perdeu o emprego de gerente de projetos, em novembro. Ela conseguiu a vaga nos Jogos em abril. Mas, no período em que ficou parada, acumulou dívidas, reduzindo ainda mais o seu poder aquisitivo. Após renegociar as parcelas e os juros com o banco, ela espera sair do vermelho agora em junho.

— Eu tinha o maior pacote de canais na TV por assinatura e mudei para o mais enxuto. Não lembro a última vez que fui ao cinema e só ando de ônibus. Cortei gastos com tudo que não fosse da minha sobrevivência e da minha filha. Comíamos sempre na rua, agora compro os alimentos para cozinhar em casa e levamos o lanche para o trabalho. Passei a ficar atenta às promoções, o que antes eu não fazia, para comprar para o mês inteiro. Optei também por marcas mais baratas. Em vez de suco, hoje compro a laranja — conta Jandira.

Os irmãos gêmeos Barbara e Bernardo Fernandes também precisaram adequar custos. Criados em Petrópolis, cada um foi estudar em uma cidade. Ela no Rio, ele em Niterói. Com o acirramento da recessão, os repasses da mãe Inês, que vive na Serra, e as bolsas de estágio dos dois já não pareciam suficientes no fim do mês. Para reduzir os gastos, os dois decidiram voltar a morar juntos, em um apartamento no Humaitá, de contrato mais flexível em caso de rescisão.

— Com aluguel, contas e despesas da casa, eu e meu irmão gastávamos em torno de R$ 5 mil. Agora, devemos gastar R$ 3 mil. Isso porque vamos unificar as contas, inclusive de televisão por assinatura e internet — explica Barbara.

Fonte: Extra

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