Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Desventuras domésticas e externas do setor industrial

Sem conseguir vender mais nem para o mercado interno nem para o externo, não é surpresa que a indústria apresente resultados cada vez piores. O comportamento desde 2012 foi ciclotímico, alternando dois ou três meses de discretas altas com quedas. Agora, a produção recua há três meses, e, em doze meses, teve aumento de 0,2%. As expectativas, tanto as oficiais, como as do Banco Central, quanto as do setor privado, são de que a retração é o cenário mais provável para o setor em 2014.

A desaceleração da economia brasileira provocou um recuo de 3% nas importações no semestre. Esse dado também trouxe más notícias sobre o comportamento industrial. As compras de bens de capital, que refletem parcialmente a magnitude dos investimentos, foram a que mais caíram quando se comparam as categorias de uso. Houve diminuição de 5,1% no período, ante 1% de queda para bens intermediários e 0,2% para bens de consumo. Do outro lado do pêndulo da balança, as exportações de produtos primários atingiram 50,8% do total, a maior fatia em três décadas e meia (Valor, 2 de julho). Em contraponto, as vendas de manufaturados diminuíram 10,2% e se restringiram a uma fatia de 34,4% do total.

Para a indústria, quase tão ruim como a perda de fôlego das atividades no Brasil é o fato de que a mesma coisa, ou pior, está acontecendo do outro lado da fronteira, na Argentina, até o ano passado o maior consumidor das manufaturas brasileiras. Em recessão, as exportações para o país vizinho caíram 19,8%. Carros e autopeças compõem mais da metade das vendas brasileiras para lá. Por isso, na pauta geral, a exportação de carros de passageiros foi 31,8% menor, a de autopeças, 25% menor e a de veículos de carga, 17,8%.

Não se trata de um caso isolado. As vendas brasileiras perderam força em toda a América Latina e Caribe. E, depois de colocar esforços diplomáticos e comerciais no eixo Sul-Sul, quem tem contribuído mais para impedir que as exportações tenham um resultado ainda pior são os Estados Unidos, tanto em manufaturados como nas compras em geral. A participação dos americanos no bolo das exportações brasileiras ultrapassou a de todo o Mercosul (que agora inclui a Venezuela). No primeiro semestre, os EUA elevaram sua fatia para 11,6%, enquanto a do Mercosul encolheu a 11,2% (foram de 10,1% e 11,9% em 2013, respectivamente).

Em recuperação, o mercado americano foi um dos poucos onde houve avanço significativo das vendas brasileiras. Elas cresceram 11,4% no período, mais que os 8,2% da Europa Oriental e os 4,9% da China. Para o resto do mundo, houve queda.

A indústria encontra um ambiente desfavorável estrutural e conjuntural. O real continua apreciado, enquanto que os custos internos da indústria apontam para cima e os das receitas, mesmo domésticas, para baixo. O índice de preços da indústria de transformação de maio (IBGE) teve sua segunda deflação no ano, de 0,24% e, em cinco meses, variaram 1,09%. A pressão inflacionária levou o BC a conter a desvalorização do real o que, claramente, não ajuda a indústria. Por outro lado, a carga de deficiências logísticas e excessos tributários, da mesma forma que a baixa qualificação dos trabalhadores em vários setores, estão acabando com a competitividade industrial.

Considerando-se, a grosso modo, que as indústrias exportadoras são as mais produtivas, as que melhor remuneram, as que se adaptam mais rapidamente a inovações tecnológicas dos concorrentes na arena mundial e as que mais obrigam que esse avanço seja difundido pelos seus fornecedores e cadeias de produção, é possível ter uma ideia da magnitude dos desafios que enfrenta o setor industrial.

Há mais: a China desalojou o Brasil e vários outros competidores nos mercados de bens de baixa intensidade de tecnologia e baixo preço, e progride rapidamente nos de média e alta tecnologia e valor agregado. A perda de posições das exportações brasileiras em setores tradicionais, como têxtil e vestuário, por exemplo, teria de ser compensada mais para cima na cadeia tecnológica e isso não está acontecendo. O parque industrial brasileiro é o mais diversificado da América Latina, mas essa virtude está hoje mais ameaçada do que nunca. Políticas industriais convencionais, que protegem a produção nacional, além de reativas, são claramente ineptas para resolver os novos problemas. Nessa situação, a ajuda do câmbio é mais do que bem vinda, mas apenas circunstancial.


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