Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Dia da Inovação: quando IA tornar inovação commodity, cultura será diferencial

Em entrevista ao IT Forum, o consultor Ítalo Flammia falou sobre a importância de uma estratégia de inovação para aproveitar valor da IA.

Imagem: Shutterstock

A Inteligência Artificial (IA) generativa pode ser uma ferramenta poderosa para apoiar organizações em suas jornadas de inovação, mas é a cultura que realmente ajudará as empresas a se diferenciarem em um futuro em que a IA se tornará uma espécie de “commodity“. Essa é a visão de Ítalo Flammia, consultor em Transformação Digital, Inovação e Negócios Digitais, sobre o impacto da tecnologia nas corporações.

“Os ciclos de inovação acontecem cada vez mais rápido, e os ciclos de lançamento e obsolescência de tecnologias são cada vez mais curtos”, disse em entrevista ao IT Forum. “Já que todos podem adotar a mesma inovação e tecnologia, é a cultura, o jeito de ser da empresa, que fará a diferença.”

Ainda que o potencial seja reconhecido, o uso de IA generativa na inovação ainda engatinha no Brasil. De acordo com o estudo “IA Generativa para Inovação Corporativa“, realizado pela InnoScience, apenas 18% dos 253 respondentes já utilizam IA nesses processos. O futuro, no entanto, é promissor: para 85% dos participantes, a IA generativa pode economizar tempo em atividades rotineiras e operacionais do time de inovação, enquanto 45% pretendem ampliar “significativamente” os casos de uso da IA generativa na inovação.

Flammia reforça, no entanto, que isso dependerá de uma estratégia “estruturada” de inovação, e não de iniciativas erráticas. Confira a entrevista completa:

IT Forum – Como você vê o tema da adoção de IA por empresas brasileiras? Já há estratégias voltadas para a inovação?

Ítalo Flammia – Poucas empresas usam IA de forma estruturada e intensa. No geral, elas utilizam IA em processos de atendimento, atividades de marketing ou para eficiência operacional ou industrial. No Brasil, quase nenhuma utiliza IA para inovação corporativa. O próprio processo de inovação corporativa ainda é algo novo e errático. As empresas, de vez em quando, fazem uma campanha de sugestão ou um projeto específico com startups. O uso da IA no processo de inovação também é raro, especialmente entre empresas de menor porte. A inovação precisa ser processual, caso contrário, as empresas ficam em um “voo de galinha”. É preciso ter continuidade: passar pela geração de ideias, consolidação, priorização e, depois, pela geração de valor. Isso inclui criar estudos de viabilidade, buscar alternativas e capturar feedbacks. Tenho visto poucas ideias que utilizam IA nesse processo de inovação, e as que utilizam ainda a aplicam apenas em partes dessa cadeia.

ITF – Você mencionou que o processo de inovação ainda é errático em muitas empresas. Para que a IA entre na inovação, é necessário organizar o processo para torná-lo contínuo?

Flammia – Sim. A questão aqui é a cultura – ela é o sustentáculo da inovação. É a cultura que permite que você aprenda com os erros e crie agilidade organizacional. Ela também traz segurança psicológica. Esse é o aspecto que impede que se fique “andando de lado”. Inovação não tem “bala de prata”. Encontro vários clientes que dizem que criaram um programa de inovação, mas que ele “não deu certo”. Quando você investiga, percebe que, embora tenham criado um projeto, não forneceram nenhum tipo de suporte. Não basta apenas investir dinheiro; é necessário suporte, patrocínio e engajamento da liderança. As empresas culpam a inovação por não gerar resultados, mas ela nunca foi plantada da forma correta. É preciso processo, estruturação, governança – diversos aspectos para que a inovação floresça.

ITF – Você falou sobre os diferentes passos da inovação – ideação, implementação, etc. Onde acredita que as empresas podem gerar mais valor ao integrar a IA? Como você vê isso atualmente?

Flammia – As empresas que mais utilizam IA o fazem no início da cadeia, capturando tendências ou observando o mercado, ou no final, com apoio no “go to market”. Poucas utilizam IA no meio desse fluxo. Isso se deve, em parte, ao fato de que ferramentas para geração e análise de ideias, estudos de viabilidade e tomadas de decisão ainda são muito complexas.

ITF – Para implementar essas ferramentas no processo de inovação, é necessário investir em letramento? Como as empresas devem proceder nessa estratégia?

Flammia  – Antes de abordar o uso da ferramenta, é necessário pensar na estratégia de negócio. É aí que você define sua ambição e visão de inovação. A partir daí, vêm os recursos, a estruturação, governança e liderança. É necessário criar um farol para tecnologias emergentes, criar processos e descobrir o nível de apetite para investimento. Após definir o foco, é o momento de buscar as ferramentas adequadas. Existem diferentes tipos de ferramentas, desde as mais simples, que utilizam dados públicos, até ferramentas mais complexas, que permitem o uso de dados próprios e a customização de IA. Comece pequeno, capture valor, e, então, vá instrumentalizando a IA. Persista, refine, evolua e cresça. Não se esqueça de conquistar e engajar as pessoas, pois sem isso, você enfrentará resistência. O processo de gestão da mudança para inovação corporativa é crucial, pois, do contrário, as pessoas acreditarão que o método tradicional é o ideal. Quem lidera a mudança tem a responsabilidade de mostrar que a combinação entre ser humano e tecnologia é o verdadeiro agregador de valor.

ITF – Algo interessante que você mencionou é como a IA pode transformar a inovação em commodity para as empresas. O que você quis dizer com isso?

Flammia – Os ciclos de inovação tecnológica estão cada vez mais rápidos. Os ciclos de lançamento e obsolescência de tecnologia também são mais curtos. Diferente de algumas décadas atrás, quando as tecnologias eram lançadas na América do Norte ou na Europa e chegavam ao Brasil com certo atraso, hoje, o Brasil tem acesso a novas tecnologias ao mesmo tempo que outros mercados maduros. Isso facilita muito a criação de negócios e produtos, até mesmo para pequenas empresas. Todos estão em um nível de entendimento parecido. Dado que qualquer um pode adotar a mesma inovação e tecnologia, é a cultura, o jeito de ser da empresa, como as coisas acontecem nela, como você capacita e valoriza os colaboradores, que fará a diferença. Quando a inovação se tornar uma commodity – e estamos avançando rapidamente nessa direção – o que vai diferenciar as empresas será a cultura, o ambiente que ela cria para que essa inovação seja incorporada em todos os níveis.

ITF – Isso reforça a necessidade de criar processos de inovação para fortalecer a cultura, correto?

Flammia – Exatamente. Parece óbvio que, para inovar, é necessário ter processo, mas muitas empresas não percebem isso. Em geral, a inovação é tratada como algo marginal, feita por um grupo isolado de pessoas que, de vez em quando, lançam algo novo, sem o apoio necessário. Meu grande objetivo é fazer com que as empresas entendam que, para entregar resultados de negócios, a inovação precisa estar na agenda estratégica. Ela não pode ser errática.

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