O acesso ao crédito foi utilizado como instrumento de 
aceleração econômica por Lula e Dilma. Deu no 
que deu. Hoje, seis em 10 brasileiros estão inadimplentes

A história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa, pontificava Karl Marx, filósofo cujos conceitos políticos ainda fazem muito sucesso no governo brasileiro e nos meios acadêmicos.

O anúncio de uso de parte do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para assegurar empréstimos consignados tem um pouco de tragédia, um pouco de farsa. Estamos cortejando, novamente, o hiperendividamento.

O acesso ao crédito foi utilizado como instrumento de aceleração econômica entre o segundo governo Lula e o primeiro mandato de Dilma Rousseff. Deu no que deu.

Na virada do ano, quase seis em 10 brasileiros estavam inadimplentes.

Isso deveria servir, no mínimo, como lição e para um mea culpa dos governantes. Próximo às eleições em que os cidadãos escolherão seus prefeitos, em meio a uma crise econômica e política de dimensões colossais, alguém se lembrou do crédito.

Preocupa mais o foco do que os valores envolvidos. Estimular o endividamento é uma medida perigosa, com danos comprovados.

Como não me canso de repetir, sem tragédia nem farsa, empréstimo não é renda. É como colocar uma ponte em uma via congestionada – transfere-se o trânsito para mais adiante.

Contas devem ser pagas, hoje ou amanhã. Já vimos este filme das 36 ou mais prestações, e não gostamos.

O pior de tudo é que as pessoas contraem dívidas para adquirir bens que não são prioritários e urgentes. Gastam para comprar um smartphone com novo design e funções, ou um carro cuja manutenção não podem bancar.

A renda caiu, no Brasil, pela primeira vez em muitos anos. A crise está avançando cruelmente rumo aos empregos e salários. Não há, no horizonte imediato, uma luz que aponte a retomada do crescimento econômico.

Incentivar as pessoas a assumir compromissos financeiros, mesmo que a juros bem menores do que a média, é o caso do remédio que mata.

Cortar gastos, cargos de confiança, ministérios, privatizar empresas estatais, fazer as reformas tributária, fiscal, previdenciária e trabalhista são medidas difíceis, amargas, mas que dão resultado.

Voo de galinha também é voo, mas não leva a lugar algum.

Maria Inês Dolci

Coordenadora Institucional na PROTESTE Brasil