No artigo de estreia na Folha, Demétrio Magnoli argumenta que o lulopetismo não é de esquerda, que mancha a imagem da esquerda, que ele, o sociólogo, defende. Entendo os pontos de Demétrio, e reconheço que os termos direita e esquerda quase perderam seus sentidos no Brasil. Mas vou sustentar que Lula e o PT são de esquerda sim. Por partes:
Impossibilitado de internar dissidentes em instituições psiquiátricas, o lulopetismo almeja isolá-los num campo de concentração virtual. No processo, devasta o sentido histórico dos termos até virá-los pelo avesso: eles é que são “de direita”; eu sou “de esquerda”.
Eles financiaram com dinheiro público a bolha Eike Batista. Na fogueira do Império X, queimam-se US$ 5,2 bilhões do povo brasileiro. “O BNDES para os altos empresários; o mercado para os demais”: eis o estandarte do capitalismo de Estado lulopetista. Anteontem, Lula elogiou o “planejamento de longo prazo” de Geisel; ontem, sentou-se no helicóptero de Eike para articular um expediente de salvamento do megaempresário de estimação. O lobista do capital espectral é “de direita”; eu, não.
Financiar grandes empresarios os países socialistas sempre fizeram. Isso não os tira da esquerda. O termo “capitalismo de estado” é justamente o tal socialismo real: como a propriedade privada não é abolida totalmente, o avanço do poder estatal acaba controlando tudo de facto, ainda que não necessariamente de jure. Usar o BNDES para criar “campeões nacionais” é uma bandeira que vários esquerdistas aplaudem, e nenhum liberal ou conservador de boa estirpe o faz. Esquerda, sim senhor!
Eles são fetichistas: adoram estatais de energia e telecomunicações, chaves mágicas do castelo das altas finanças. Mas não contemplam a hipótese de criar empresas públicas destinadas a prestar serviços essenciais à população. Na França, os transportes coletivos, que funcionam, são controlados pelo Estado. Eu defendo esse modelo para setores intrinsecamente não-concorrenciais. O Partido prefere reiterar a tradição política brasileira, cobrando de empresários de ônibus o pedágio das contribuições eleitorais para perpetuar concessões com lucros garantidos. “De esquerda”? Esse sou eu, não eles.
Ora, no Brasil, assim como na França, vários serviços públicos são ofertados e controlados pelo estado. Se não funcionam, isso é outra história! Nosso estado é ainda mais incompetente. Mas será que Demétrio esqueceu da Eletrobras, Petrobras, Cedae, Valec, estradas federais etc.? Ainda temos mais de cem estatais! De onde Demétrio tirou que nossa infraestrutura não é controlada pelo estado? É sim! E por isso é esse lixo…
Eles são corporativistas. No governo, modernizaram a CLT varguista, um híbrido do salazarismo com o fascismo italiano, para integrar as centrais sindicais ao aparato do sindicalismo estatal. Eles são restauracionistas. Na década do lulismo, inflaram com seu sopro os cadáveres políticos de Sarney, Calheiros, Collor e Maluf, oferecendo-lhes uma segunda vida. O PT converteu-se no esteio de um sistema político hostil ao interesse público: a concha que protege uma elite patrimonialista. “De direita”? Isso são eles.
Quer dizer que Sarney é de direita agora? Quer dizer que o patrimonialismo é de direita? Não! A direita liberal ou conservadora não quer nada com essa gente, com esse corporativismo, com esse patrimonialismo, com Vargas e a CLT! Queremos flexibilizar as leis trabalhistas, por exemplo. Bandeira de direita. O PT fez? Não! Manteve esses encargos absurdos que só interessam aos sindicalistas. Esquerda.
Eles são racialistas; a esquerda é universalista. O chão histórico do pensamento de esquerda está forrado pelo princípio da igualdade perante a lei, a fonte filosófica das lutas populares que universalizaram os direitos políticos e sociais no Ocidente. Na contramão dessa herança, o lulopetismo replicou no Brasil as políticas de preferências raciais introduzidas nos EUA pelo governo Nixon. Inscrevendo a raça na lei, eles desenham, todos os anos, nas inscrições para o Enem, uma fronteira racial que atravessa as classes de aula das escolas públicas. Esses plagiários são o túmulo da esquerda.
Como assim? As cotas raciais, as ações afirmativas, os estudos de “minorias” no mundo acadêmico, tudo isso tem sido, no Brasil e no mundo, uma luta da esquerda, combatida pela direita liberal. Igualdade perante as leis? Sinto muito, Demétrio, mas isso é um dos princípios mais nobres dos liberais. A esquerda não quer nada com isso. Quer igualdade de resultados. Quer punir ricos. Quer privilégios para “minorias”.
“Esquerda”? O lulopetismo calunia a esquerda democrática enquanto celebra a ditadura cubana. Fidel Castro colou a Ordem José Martí no peito de Leonid Brejnev, Nicolau Ceausescu, Robert Mugabe e Erich Honecker, entre outros tiranos nefastos. Da esquerda, eles conservam apenas uma renitente nostalgia do stalinismo. Sorte deles que Praga é tão longe daqui.
Concordo que o PT mancha o nome da esquerda. Mas isso não o retira da esquerda! Existe uma esquerda civilizada, democrática, com a qual o diálogo é possível e até saudável. Essa é o PSDB. Mas jogar o PT para a direita é absurdo. Demétrio cai na velha falácia de que a esquerda monopoliza as boas intenções, e a direita é o que há de pior, de corrupto, de patrimonialista. Nada mais falso. Foi um começo ruim de Demétrio da Folha. Uma bola fora e tanto
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O Partido prefere reiterar a tradição política brasileira, cobrando de empresários de ônibus o pedágio das contribuições eleitorais para perpetuar concessões com lucros garantidos. “De esquerda”? Esse sou eu, não eles.
Na década do lulismo, inflaram com seu sopro os cadáveres políticos de Sarney, Calheiros, Collor e Maluf, oferecendo-lhes uma segunda vida.
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