Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

A desvalorização da moeda norte-americana deve continuar, o que obriga as empresas a se tornarem mais competitivas para continuar exportando. Saiba como

Os anos de 1994 a 1998 marcaram os brasileiros, que pela primeira vez na vida puderam experimentar a estabilidade da economia e uma moeda forte. O real estreava no País a par e ao passo com o dólar, que reinava na era Clinton. Nunca, até então, os brasileiros viajaram tanto para o Exterior nem compraram importados a preços tão convidativos. Depois da desvalorização de 1999, porém, a bonança lentamente ficou na saudade. Agora, 2011 pode representar a volta aos velhos tempos. Será?

Por mais longe que pareça a queda do dólar para R$ 1 – faltam ainda 37% (veja gráfico) –, a moeda norte-americana segue em queda livre no mundo todo. No Brasil, o dólar já é negociado abaixo da cotação do mercado à vista, em torno de R$ 1,59, nos novos contratos de exportação. “Até março, empresas do setor calçadista ainda negociavam o dólar a R$ 1,60”, diz José Augusto Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). “Agora, já trabalham com o valor de R$ 1,50 para as entregas que serão feitas nos próximo meses.” 
Apesar de ser uma queixa recorrente dos empresários – tal qual o justo chororô contra juros e tributos elevados –, a maior apreciação do real em 2011 é admitida como um fator inexorável, fruto da conjuntura global. A tática adotada pelos gestores de negócios mais pragmáticos é a seguinte: “Se não pode com ela, junte-se a ela.” 
 
Em outras palavras, o melhor é acatar pedidos nesse patamar cambial para não perder mercados conquistados a duras penas. E buscar agregar valor nos produtos para garantir melhores preços. Dá para fazer isso? Em alguns setores, com certeza. Essa tem sido a estratégia de empresas como a Picadilly, no Rio Grande do Sul, e a Atomic Gel, em Franca, interior paulista.
54.jpg
 
 
O investimento em design e no reposicionamento da marca foi a aposta da empresa gaúcha, uma das cinco maiores fabricantes de calçados femininos do País, para ampliar as vendas no Exterior. No ano passado, elas representaram 31,2% dos oito milhões de pares produzidos. Os calçados da Picadilly são enviados para 80 países, quatro vezes mais do que em 2004. 
 
A diretora de exportação, Micheline Grings Twigger, diz que a situação está ficando mais difícil. “Até agora, conseguimos manter as exportações, mas a coleção de junho deve custar 25% mais em dólar e isso certamente terá um impacto nas vendas”, disse à DINHEIRO. Hoje, a empresa exporta com base em um dólar a R$ 1,70. As próximas encomendas, porém, serão embarcadas seguindo a cotação de R$ 1,60. A ordem, mesmo assim, é seguir exportando e, sempre que possível, compensar a receita perdida com preços maiores. O que nem sempre é possível.
 
55.jpg
O bilionário George Soros: "Controles de capitais no Brasil são apropriados na atual situação, mas não são uma solução ótima"
 
Segundo a Abicalçados, este ano as empresas exportadoras do setor elevaram o preço médio dos calçados em 27,2%. Porém, as vendas para o Exterior caíram 15,8% e o total de pares embarcados diminuiu 33,8%. “Nossos custos aumentam, porque são em reais e temos inflação, mas o consumidor lá fora não aceita pagar mais”, diz Micheline. Nessas horas, quem tem marcas mais fortes e produtos com maior qualidade tende a se sair melhor.
 
É o caso da Atomic Gel, que atua em calçados do segmento conforto. Na Europa, um par de sapatos da marca tem o preço médio de E 120, o que a faz concorrer com grifes como Clark’s, Timberland e Mephisto. A empresa abriu um escritório em Londres há sete anos e mantém estoques para atender rapidamente aos pedidos dos clientes europeus. Assim, tem conseguido manter a meta de exportar metade da produção. A entrada no mercado americano, porém, é mais difícil na conjuntura atual. “Já vendemos muito aos Estados Unidos, mas hoje não vale a pena”, diz o presidente da Atomic Gel, Zuza Jacometi.
 
53.jpg
 
 
A estratégia de agregar valor aos produtos para driblar parte dos efeitos do dólar é inteligente, mas tem suas restrições. A pauta de exportações brasileira ainda é prioritariamente baseada em commodities e derivados, que dão pouca ou nenhuma margem de manobra para ganhos de margem. No campo das empresas que exportam produtos industrializados, a busca por uma maior competitividade segue sendo um movimento pontual, de quem consegue atuar em nichos, avalia Fernando Ribeiro, economista da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). 
 
Para ele, a desvalorização do real deveria pressionar o País a investir mais em competitividade. Não é tarefa simples. “Isso depende de um esforço doméstico, que implica uma política nacional voltada à inovação, um ambiente favorável criado pelo governo, com leis e incentivos, que envolva os empresários”, diz.
57.jpg
 
Enquanto essa política não chega, o jeito é se adaptar à tendência de queda do dólar, que desde 2009 passou a ser negociado abaixo de R$ 2. A questão agora é tentar entender se o valor atual, abaixo de R$ 1,60, é o piso para uma espécie de ponto de virada, em que o real começaria a se depreciar, ou se há um poço ainda mais fundo. Para o economista Darwin Dib, do Itaú Unibanco, a tendência para este ano é o dólar se manter em R$ 1,60 e, no final do ano, subir quando os Estados Unidos aumentarem os juros. 
 
Já o professor Fabio Kanczuk, da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, acredita que o quadro tende a piorar um pouco para o exportador de manufaturados. “Só depois dessa indústria sangrar o mercado se autoconserta para assumir uma tendência de alta”, afirma. 
 
O ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, patrono da política de R$ 1 por US$ 1 no início do Plano Real, não acredita numa retomada da moeda no longo prazo. “Nos próximos anos vamos ver números menores do que R$ 1,55, assim como veremos o Brasil ascender na escala de ‘ratings’ de risco soberano”, disse ele à DINHEIRO (veja entrevista abaixo). Vivemos um círculo virtuoso: quanto melhor a nota de crédito do Brasil, mais baratas ficam as captações de dinheiro lá fora e, portanto, maior é a enxurrada de investimentos para o Brasil, o que ajuda a valorizar o real. 
 
Para amenizar a situação dos exportadores, o governo não permite a flutuação livre da taxa de câmbio e intervém cotidianamente no mercado, reduzindo a volatilidade da taxa. Recentes medidas, como a elevação do IOF para o capital estrangeiro, não seguraram a tendência de valorização do real e evidenciaram os limites dessa política. Para o bilionário húngaro-americano George Soros, o mais bem-sucedido especulador cambial do século passado, os controles de capital são uma espécie de mal necessário. “Os controles que o Brasil impõe são apropriados na atual situação, mas não são a solução ótima”, afirmou Soros, na semana passada. “Podem dar margem a abusos, truques e vários tipos de evasão.”
 
 
“Quanto mais notícias boas, mais o real vai se valorizar”
 
 

O dólar está cotado a R$ 1,59 e exportadores estão fechando contratos a R$ 1,50. O que pode ser feito pela política cambial?
O próprio ministro da Fazenda (Guido Mantega) reconhece que a melhoria nos “fundamentos” inevitavelmente faz a moeda brasileira se tornar mais forte. O processo é uma tendência que já dura mais de uma década. Não creio que se possa revertê-lo.
 
56.jpg
 
 
O valor atual é um piso ou o dólar tente a desabar mais ainda?
Nos próximos anos vamos ver números menores do que esse, assim como veremos o Brasil ascender na escala de “ratings” de risco soberano. Aconteceu com os países que deixaram a condição de país emergente.
 
 
 
Este contexto não força a discussão sobre a competitividade no Brasil?
Seguramente. É pena que tenha demorado tanto. É como aquele aforismo: o Brasil sempre vai escolher o caminho certo, mas não sem antes experimentar todos os outros.
 
 
 
Os exportadores já viveram situação do gênero, quando havia paridade no passado. Há fôlego para sobreviver até que o País encontre o equilíbrio?
Claro que há. Aqueles que começaram a se ajustar no passado já não estão tão vulneráveisà valorização cambial.
 
 
 
China  e EUA devem aumentar os anúncios de novos investimentos. Isso não tende a valorizar ainda mais o real?
Quanto mais notícia boa, mais o câmbio vai valorizar. Espero apenas que o governo saiba enfrentar este “problema” de forma positiva e criativa.
 
 
 
O real valorizado atrai pequenos investidores estrangeiros. Vivemos uma bolha?
Acho folclore. O IOF praticamente destruiu o carry trade (operação de ganho com diferencial de juro) sem hedge. A bonança cambial de hoje tem a ver com capitais de boa qualidade e com preços de comodities.
FONTE: Isto É DINHEIRO

Por Carla Jimenez e Denize Bacoccina

Exibições: 87

Comentar

Você precisa ser um membro de Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI para adicionar comentários!

Entrar em Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço