Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Dólar baixo não é único 'culpado' por desindustrialização, diz CNI

Segundo entidade, câmbio 'desnuda' deficiências de competitividade.
Setores da indústria não conseguem crescer no mesmo ritmo da demanda.

 

 

O ano de 2010 foi marcado por perdas e muita reclamação para alguns setores da indústria. Com o dólar baixo e a invasão de produtos importados na economia brasileira, os problemas de competitividade que já eram anunciados nos últimos anos ficaram ainda mais evidentes. Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontam que o superávit comercial do setor deve ser de US$ 4 bilhões em 2011, contra os US$ 46 bilhões registrados há quatro anos.

Os segmentos mais afetados são os de produtos manufaturados, que perdem cada vez mais espaço para matérias-primas na pauta de exportações brasileiras. Para o economista-chefe da CNI, Flavio Castelo Branco, o câmbio não é o único vilão da indústria: apenas desnuda fraquezas historicamente presentes no setor, como falta de inovação, custos altos e forte carga tributária.

"No momento em que essa taxa de câmbio fica mais valorizada ela vai desnudando essa ausência de competitividade", afirmou o economista em entrevista ao G1. Leia os principais trechos:

Em 2010, a invasão dos importados foi a principal queixa dos empresários da indústria, que falam em desindustrialização. A indústria está mesmo encolhendo?
Quando nós olhamos em setores, sim. A indústria como um todo está crescendo. A perda de vigor se dá em segmentos localizados.

E quais são os setores mais afetados?
Setores em que as importações estão crescendo mais, como vestuário, acessórios. Mesmo em veículos, setor em que a indústria crescendo muito, há um nível de importação muito grande. Produtos minerais não metálicos, máquinas e aparelhos elétricos, têxteis. Significa que muitos desses setores às vezes até estão crescendo, mas não no ritmo em que a demanda por esses produtos está crescendo, abrindo espaço para mais importações. Isso no médio prazo vai tirando a capacidade do setor de responder, e, portanto vamos perdendo espaço. Diminui a estrutura do setor e tem reflexo no emprego, na cadeia produtiva, nos fornecedores.

A indústria automobilística, por exemplo. A cadeia produtiva dela já foi muito mais enraizada no Brasil. No setor de autopeças, tem um componente muito grande de autopeças importadas nos carros brasileiros. Por um lado é bom, porque tem a tecnologia. Nós não temos que ter medo dos importados, temos que ter um crescimento das importações que seja razoável e não tome o lugar do mercado doméstico.

Há setores que estão produzindo menos do que produziam dois anos atrás"
Flavio Castelo Branco

Para esses setores mais afetados, quais as perspectivas em 2011?
Há setores que estão produzindo menos do que produziam dois anos atrás, como o setor de material elétrico de comunicações, máquinas, madeira, metalurgia, calçado, têxteis, ainda não alcançaram o nível pré-crise. E foram dois anos em que a economia cresceu muito. Tem alguma coisa aí que está impedindo um crescimento mais firme.

E todo esse problema é culpa do dólar baixo?
Não é só culpa do dólar, mas o dólar barato desnuda a nossa carência de competitividade ocasionada por tributação deficiente elevada, custos de capital alto que encarece os projetos, licenciamento ambiental que demora, custo da mão-de-obra encarecido pelos encargos. Esta é uma série de coisas que quando você tem uma taxa de câmbio mais desvalorizada ela compensa. No momento em que essa taxa de câmbio fica mais valorizada ela vai desnudando essa ausência de competitividade. Nada se muda a curto prazo nessas áreas.

Qual a principal bandeira da CNI para solucionar a situação da indústria?
A questão dos créditos tributários de curto prazo, por exemplo. Tem uma proposta na Câmara de Comércio Exterior (Camex) que foi apresentada essa semana para compensar os créditos com outros tributos. Por exemplo: no sistema de Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e do Programa de Integração Social (PIS), a empresa compra a soja e produz o óleo de soja. Quando ela compra a soja, ela paga o ICMS. Quando ela vai exportar, é isenta. Então ela teria direito de ser ressarcida do ICMS que foi pago na soja. Como ela compra a soja do MT e vai exportar em SC, por exemplo, SC diz: eu não tenho nada a ver com isso, o imposto foi recolhido lá no Mato Grosso; o governo de lá ou o federal que teria que ressarcir você. Então o crédito fica na mão do exportador.

Porque a gente não pode usar esse crédito para quitar outros tributos que ele tem, como na Previdência para os funcionários? É como se você tivesse em um banco um crédito em uma conta corrente e um débito na outra conta. Você quer pagar com aquele crédito, mas não permitem esse acerto de contas interno. Não é a solução única e mágica do problema, mas é uma das medidas porque a gente não vai ter uma solução mágica para nada. (...) E uma taxa de câmbio que dê um pouco mais de competitividade para a gente. Claro que o mundo tem esse processo de o dólar estar se desvalorizando.

E como mexer nessa taxa de câmbio? A CNI defende uma intervenção?
Eu acho que algumas ações mais efetivas que deem condição de reduzir as taxas de juros, e aí você teria que ter uma política fiscal mais colaborativa com a política monetária. Ter metas fiscais mais ambiciosas para que tenhamos uma capacidade de investimento no setor público que não pressione a inflação. Faça obras de infraestrutura sem necessidade de financiamento. É todo um conjunto de ações.

A maior parte da pauta de exportações do Brasil é marcada por produtos de baixa intensidade tecnológica. Além de todas essas questões que o senhor mencionou, falta iniciativa de inovação por parte dos empresários da indústria?
Tem todo um esforço que a CNI faz de mostrar que a inovação é o caminho para garantir o futuro. Mas você tem que ter políticas de inovação. A gente tem que evitar que a pauta brasileira seja feita de produtos com baixo valor agregado. Mas aí tem outro lado: os produtos que a gente tradicionalmente de forma natural tem vantagens, esses a taxa de câmbio afeta menos, como no agronegócio, por exemplo. Ou aquelas empresas com estrutura de internacionalização maior, como a Embraer, o câmbio termina sendo menos gritante. Mas aí você vai na indústria de sapatos, por exemplo, onde o principal custo é mão de obra e a matéria prima é doméstica e a tributação é pesada, o câmbio termina sendo crítico.

Você acha que em outros países a indústria é mais estimulada que no Brasil?
Os países asiáticos têm estratégias mais agressivas para o setor industrial com certeza. Financiamento diferenciado, tributação não tem, custo da mão-de-obra é mais baixo. Países como a Coreia deram muita atenção para educação e inovação como políticas de base.

Quais as principais demandas do setor para o novo governo? Já há negociações como a equipe da presidente eleita, Dilma Rousseff?

É permanente. A CNI apresentou uma agenda para os candidatos em maio. Nesse período a gente tem interação permanente. O governo na área econômica é mais ou menos o mesmo que era antes. As nossas demandas são conhecidas. Temos a expectativa de que o novo governo tenha a sua postura, sua marca. O desafio é continuar crescendo com qualidade de crescimento.

Mantidas as condições atuais, o que a CNI prevê para 2011?
Nosso saldo comercial projetado para 2011 é de US$ 4 bilhões. Em 2010, deve ficar em US$ 15 bilhões. Ele foi US$ 25 bilhões em 2009. Há quatro anos foi US$ 46 bilhões. É uma perda fundamentalmente de produtos manufaturados, porque a agroindústria tem aumentado sua participação. Esses números ilustram bem a importância de ações para reverter essa tendência. Precisamos capacitar a indústria para vender mais tanto interna quanto externamente.

 

FONTE: http://g1.globo.com/economia/noticia/2010/12/dolar-baixo-nao-e-unic...

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