Economistas dos bancos e do governo passaram a semana discutindo a trajetória da inflação. Não é um debate acadêmico. Os índices mostram que os preços estão subindo mais rápido.
Até março, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dos últimos 12 meses cravou uma variação de 6,3%, muito perto do teto da meta, que é de 6,5%.
Esse risco aparece há tempos nas contas do mercado financeiro. O boletim Focus, divulgado pelo Banco Central (BC), mostra que os bancos vêm elevando seus prognósticos para o IPCA há cinco semanas seguidas.
A última estimativa, em 8 de abril, previa uma inflação de 6,26% este ano. Informalmente, o primeiro escalão do governo dá como certo que a inflação vai superar o teto da meta até junho.
Em momentos assim basta pinçar o indicador certo para fazer soar o alarme. Tomemos os preços dos combustíveis. No primeiro trimestre de 2010, eles haviam subido 0,65%. Em 2011, subiram 4,3%. Parece que estamos às portas do descontrole. Será que o dragão voltará a nos assombrar?
Desinflemos a retórica e olhemos os fatos. Por qualquer ângulo, os preços estão subindo mais depressa do que no passado. No entanto, as causas mudaram. Antes do Plano Real, o principal motor da inflação era o descontrole do governo.
Gastador contumaz e incapaz de arrecadar, ele pintava papel irresponsavelmente para pagar as contas. O efeito era tornar a vida de milhões de brasileiros um inferno cotidiano. Compreender isso definiu as últimas eleições presidenciais.
As garras do dragão agora são outras. A inflação não depende apenas dos gastos públicos. A alta de preços no mercado internacional – petróleo, açúcar e grãos – reflete-se no mercado interno.
O clima não tem ajudado a agricultura. Safras menores querem dizer comida mais cara. E há um fator totalmente inédito. Pela primeira vez na história, há uma inflação de demanda sustentável.
A tão louvada entrada de 30 milhões de brasileiros no mercado consumidor significa mais pessoas disputando os mesmos bens. Pela lei da oferta e da procura, em casos como esse os preços sobem. Enquanto não houver uma forte expansão da oferta, a pressão de alta sobre os índices vai continuar.
A tarefa de combater essa “nova” inflação também mudou. Nos primeiros tempos da estabilização, quando a demanda interna ainda era restrita, o trabalho do presidente do BC era muito mais simples.
Qualquer rugido mais audível era silenciado com a lança da alta de juros, de preferência para perto de 50% ao ano, como lembram, saudosos, os investidores na renda fixa.
Hoje, o Ministério da Fazenda e o BC têm de esgrimir diversas armas. É preciso elevar os juros, conter o crédito e calibrar a entrada de dólares no País para reduzir o impacto dos bens comercializáveis.
Também é necessário avaliar o impacto dos aumentos de salário sobre o consumo e sobre os custos das empresas. E, mais do que isso, as autoridades têm de investir bastante na comunicação e na transparência com a sociedade, pois gerenciar as expectativas tornou-se vital.
A mais recente carta de conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de 8 de abril, afirma que a economia já se adaptou a choques no passado, “mas é preciso que isso ocorra em um ambiente de manutenção da credibilidade”. Parafraseando Tom Jobim, que sabia das coisas: no Brasil, a inflação não é mais para principiantes.
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