Até o início dos anos 1990, a Avenida Industrial, em Santo André (ABC Paulista), tinha, como o nome sugere, fábricas de todos os tamanhos ao longo de sua extensão.
Atualmente, o quadro mudou por completo, e de industrial a avenida só guarda o nome. Hoje, o que domina a paisagem é um grande shopping center cercado de condomínios residenciais.
O processo de desindustrialização ocorrido no ABC Paulista nos anos 1990 é uma realidade que ninguém discute, mas economistas ouvidos pela BBC Brasil têm diferentes visões sobre o fenômeno em escala nacional: tanto se ele está efetivamente ocorrendo como se o país está preparado para ele.
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que a participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) caiu de um pico de 40,9% em 1980 para 27,5% em 2010, enquanto o setor de serviços cresceu de 49% para 67%.
O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Alessandro Teixeira, diz que o governo não vê problemas nos números. "Não há desindustrialização porque a indústria brasileira continua forte e se desenvolvendo. O que ocorreu foi um aumento no peso relativo dos serviços o que é normal quando a economia amadurece", diz.
Foi aparentemente o que aconteceu no caso do ABC Paulista. Quando as indústrias começaram a deixar a região (procurando incentivos fiscais e mão de obra mais barata em outras partes do país), as previsões eram de catástrofe.
Muita gente imaginava que o ABC iria à falência com a retração do setor automobilístico, como aconteceu em Detroit, nos Estados Unidos, a antiga capital mundial do automóvel, que quebrou nos anos 1980 com a concorrência asiática.
Mas, no fim das contas, os setores de comércio e de serviços conseguiram manter a região não apenas funcionando, mas com PIB e renda crescentes.
"O ABC se adaptou bem porque a indústria criou aqui uma classe média bem instruída e preparada para o desenvolvimento", diz o superintendente do Grand Plaza Shopping, na Avenida Industrial, Henrique Carvalho.
No entanto, economistas como Andre Nassif – professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e também funcionário do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) – temem que o Brasil ainda não esteja pronto para essa transformação em escala nacional.
"Os países que foram bem-sucedidos nesse movimento da indústria para os serviços já tinham renda mais alta. O Brasil passa por um processo de desindustrialização precoce", diz o economista. “Isso é um problema sério porque a indústria é o setor mais dinâmico da economia."
Mas o economista da Universidade de São Paulo, Carlos Eduardo Gonçalves, discorda da noção de que uma indústria forte seja uma condição essencial para o desenvolvimento sustentado e de longo prazo.
"Não há nenhum evidência empírica que prove que um país com vocação para a produção de commodities e recursos naturais não possa se desenvolver com base nisso. A questão é como o desenvolvimento vai ser gerido e não o que vai sustentá-lo", opina o economista.
"A Noruega, por exemplo, é uma país que baseou muito bem seu desenvolvimento no petróleo."
Mas, entre os empresários industriais, o tom é de muita reclamação, principalmente, em setores que sentiram com mais força o impacto da abertura da economia nos anos 1990.
"Na década perdida (os anos 1980, quando a economia brasileira ficou praticamente estagnada), o setor de commodities ganhou espaço porque tinha eficiência, e a indústria sobreviveu porque tinha proteção do Estado", diz a professora da Escola Paulista de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Laura Barbosa. "Quando veio a abertura econômica dos anos 1990, a indústria não estava preparada."
O setor de autopeças foi um dos mais impactados pela abertura da economia e até hoje não se recuperou. Embora o setor automobilístico bata recordes de produção e vendas em plena crise internacional, produtores de peças e componentes sofrem com capacidade ociosa.
"Na verdade, você tem recorde de vendas na ponta do consumidor final, mas a participação da indústria está cada vez menor e é isso que resulta nessa desindustrialização", diz o diretor do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) em Santo André e dono da Metalmech componentes automotivos, Emanuel Teixeira.
O empresário fica aflito em ver uma capacidade ociosa superior a 30% em sua própria fábrica de componentes, enquanto as montadoras vão muito bem em grande parte por conta de redução de impostos.
"Nós não conseguimos competir com os importados e um dos principais motivos para isso é a alta carga tributária. Hoje se eu produzo, perco dinheiro."
* Colaborou Jessica Fiorelli, da BBC Brasil em São Paulo.
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