Com o sucesso do ChatGPT, universo educacional discute IA e startups identificam oportunidades.
O ChatGPT, chatbot especializado em diálogo, alcançou o posto de aplicativo com o crescimento mais rápido da história, de acordo com o banco suíço UBS. Em janeiro, apenas dois meses após seu lançamento, o aplicativo somava 100 milhões de usuários ativos mensais. O TikTok, por exemplo, levou nove meses após seu lançamento global para atingir os mesmos 100 milhões de usuários. Já para o Instagram, o tempo teria sido de 2 anos e meio.
O chatbot se comporta como um mecanismo de buscas e é capaz de gerar rascunhos de e-mail, sugestões de códigos, poemas e textos acadêmicos. A ferramenta é um exemplo do que é conhecido como IA generativa, sistemas de inteligência artificial que conseguem gerar conteúdos por meio de comandos simples do usuário.
Há quem encare a explosão do chatbot com receio. Ficou conhecido o caso do professor Antony Aumann, da Universidade Northern Michigan, que estava corrigindo redações dos alunos do curso de religiões mundiais quando se deparou com o que descreveu como “o melhor texto da classe”. Ao questionar, o estudante admitiu ter usado o ChatGPT para produzir o material.
Isso fez com que os centros universitários dessem início a uma discussão sobre seus métodos de avaliação. As redes públicas de ensino de Seattle e Nova York, nos Estados Unidos, proibiram a ferramenta nos computares e na rede WiFi das escolas. As soluções usadas para driblar o uso da tecnologia incluiriam mais provas orais, trabalho em grupo e atividades escritas à mão.
No Brasil, as escolas e universidades ainda não anunciaram medidas oficiais a respeito. No entanto, uma experiência submeteu as perguntas do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, ao chatbot e registrou um bom desempenho. O deslize ficou com a prova de matemática, já que a ferramenta não foi capaz de fazer passagens algébricas.
Guilherme Silveira, cofundador da Alura, plataforma online de cursos na área de tecnologia, analisa o impacto do chatbot no universo da educação e como as edtechs podem aproveitar as ferramentas de IA generativa.
Meio & Mensagem – Como vocês avaliam o impacto do avanço de ferramentas de inteligência artificial, como o ChatGPT, para a educação?
Guilherme Silveira – Toda tecnologia é criada para conquistarmos algo ou alguém. ChatGPT traz uma evolução de usabilidade em IAs criativas. Enquanto sua irmã Dall-E trivializou a criação de certos tipos de imagens, ChatGPT trivializa a criação de certos tipos de texto. Mas é importante lembrar a raiz de toda tecnologia: conquistar. Quando uma ferramenta conquista um processo de criação, passa a ser importante formarmos pessoas que entendam como usar a ferramenta, mas também formá-las em entender seus limites e consequências. Analogamente, a máquina fotográfica trivializou a criação de alguns tipos de imagens, mas ainda é necessário educar alguém em como usar a máquina e como ela funciona para que a fotografia seja algo além de um simples registro.
M&M – É possível que essas ferramentas sejam usadas como aliadas do ensino? Quais são os caminhos?
Silveira – Com certeza. Ela pode ser usada para ajudar alunos e alunas, professoras, e todas as pessoas envolvidas em processos burocráticos do ensino, uma vez que todas essas áreas possuem a “criação de textos” como forma importante de produção e trabalho. Se em uma aula de geografia a professora deu exemplo de tipos de relevos, ou em uma aula de economia a professora explica o conceito de teoria moderna de portfólio, o aluno que teve dificuldade e gosta de Guerra nas Estrelas pergunta: “Mas IA, me passa esses exemplos no contexto de Guerra das Estrelas” e o exemplo passa a ser mais interessante para quem aprende, enquanto mantém o coração do que deve ser aprendido, ajudando estudantes e professores. A IA pode gerar resumos das aulas com os pontos principais, para quem quiser revisar rapidamente. Isso já é feito em reuniões com outras ferramentas, isto é, processos burocráticos educacionais que ganham benefícios.
M&M – Em paralelo, que riscos e desafios esse processo representa?
Silveira – Faculdades que usam processos baseados em “cartas de admissão” e “texto de recomendações” de seus candidatos vão ter que repensar suas decisões. Repensar no sentido: qual o problema de uma IA ter gerado o texto? Afinal, hoje quem tem dinheiro já paga uma especialista para ajudar a escrever. Qual o problema de trivializar esse processo de ajuda? No Brasil, escolas que dependem de relatórios por texto também têm que entender isso. A realidade muda, as exigências devem mudar. Todos os trabalhos que exigiam escrita, como projetos escolares, TCCs etc. vão continuar com o problema de terceirização da criação. No ensino fundamental, pais e mães, por vezes, fazem parte do trabalho de uma criança. Na faculdade, pessoas podem comprar trabalhos e TCCs criados por seres humanos. O problema sempre existiu com quem tinha acesso financeiro. Agora, a usabilidade do ChatGPT trivializa e torna acessível a todos tais recursos. A grande pergunta é: o que você deseja de seu aluno ou aluna? Qual é a melhor forma de avaliar? Talvez a forma antiga não faça mais sentido.
M&M – No futuro, que papel essas tecnologias exercerão na educação? Como isso impacta o negócio das edtechs?
Silveira – Não acredito no trabalho de futurologia do caos e do medo, como aquele argumento pobre de que somente dez faculdades existirão em 2063. Acredito que a IA gerativa, que ajuda no processo de criação, fará parte do nosso kit de ferramentas diário. Ninguém se questiona se é inteligência artificial que detecta nossos olhos em fotos digitais para tirar o efeito do flash vermelho. A trivialização traz a normalização e o aceite da sociedade frente à tecnologia. Por isso, as edtechs terão que se adaptar a essa realidade, com seus possíveis pontos positivos e negativos para a forma que víamos de educação. Pode ser que tenhamos educação customizada e a personalização tome esse viés. Pode ser que a competição de quem escreve melhor se transforme em quem utiliza melhor a ferramenta de IA. Então, tudo “pode ser”, não há futuro previsto, fora que a tecnologia veio para conquistar o trabalho de criação de textos e essa está se mostrando resiliente nisso.
Taís Farias
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