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Elon Musk, o Twitter e o desespero dos canceladores

Elon Musk desiste de ir para o conselho do Twitter, diz CEO - TecMundo

Nesse mês, Elon Musk ganhou as manchetes ao fazer uma oferta de US$ 43 bilhões pela aquisição do Twitter, o que provocou debates acerca dos rumos da plataforma, especialmente quanto à questão dos limites da liberdade de expressão.

As controvérsias sobre a participação de Musk no quadro acionário do Twitter começaram dias antes, quando o empresário anunciou a compra de 9,2% da empresa, tornando-se o maior acionista individual da plataforma e fazendo com que o preço das ações subisse mais de 25% na bolsa americana Nasdaq.

Musk imediatamente questionou uma série de diretrizes da empresa e solicitou aos usuários sugestões sobre melhorias do Twitter, rendendo-lhe um convite do CEO da plataforma, Parag Agrawal, para integrar o Conselho de Administração, o que, pelas regras da organização, o restringiria a deter o limite de 15% das ações.

A oferta de Parag Agrawal foi recusada, mas Musk dirigiu uma carta ao Conselho fazendo a oferta de US$ 43 bilhões pela empresa, na qual destacou a necessidade de mudanças para que, com capital fechado, o Twitter se tornasse, de fato, uma plataforma que protegesse a liberdade de expressão de seus usuários.

O montante oferecido pelo sul-africano é maior do que os divulgados US$ 37 bilhões de valor de mercado da plataforma, o que o levou a declarar que, caso a proposta fosse recusada, sua posição como acionista seria reconsiderada.

Na tentativa de impedir os avanços do CEO da Tesla, o Twitter lançou mão das denominadas poison pills (pílulas venenosas, em tradução livre), isto é, estratégias da empresa para desencorajar uma potencial aquisição hostil de ações. No caso do Twitter, consiste na possibilidade de certos acionistas exercerem o direito de comprar mais ações se Musk (ou outro comprador) tentar assumir o controle da empresa. 

Para além das especulações envolvendo as cifras negociadas, as possíveis consequências de ter um autointitulado defensor irrestrito da liberdade de expressão à frente de um dos maiores hubs de comunicação do mundo, por si só, têm gerado enorme repercussão. 

Musk reiterou publicamente sua preocupação com as políticas moderadoras do Twitter, ressaltando a importância da promoção da liberdade de expressão, que ele considera ser um imperativo social para uma democracia em funcionamento.

A preocupação de Musk não é em vão, já que o ambiente regulatório de mídias sociais está ficando cada vez mais restritivo. Em março desse ano, por exemplo, foi apresentado ao parlamento britânico um projeto de lei de segurança online que determina o monitoramento das big techs sobre qualquer conteúdo considerado prejudicial (não necessariamente ilegal) que venha a ser publicado em suas plataformas, responsabilizando-as por sua remoção, sob pena, inclusive, de duros processos criminais.

Ao tratarmos de liberdade de expressão, não podemos esquecer que a pluralidade da sociedade moderna se fundamenta no direito à liberdade de expressão, de modo a alcançar não apenas as ideias com as quais nos alinhamos, mas aquelas que antagonizam nossos próprios valores, o que, em última análise, possibilita o consumo do que é, reconhecidamente, do nosso interesse como indivíduos.

Ainda que as intenções de Elon Musk não estejam muito claras com os seus avanços sobre o Twitter, vale a reflexão sobre o engajamento de um único indivíduo na defesa da liberdade de expressão de milhões de usuários. Não é de hoje que a ditadura do cancelamento ganha força nas redes. Grupos sociais reputam que discursos, a seus olhos, moralmente desagradáveis, podem ser censurados em nome da liberdade de expressão.

Cobertas por um falso manto de virtudes, essas pessoas temem que alguém como Elon Musk modifique todo um ecossistema que as garante passe praticamente livre para julgar e condenar quem manifesta ou representa ideias distintas das suas.

É muito cedo para afirmarmos se os ideais patrocinados pela fortuna de Elon Musk serão a resposta para a defesa da liberdade de expressão, mas testemunhar a ditadura do cancelamento de quem diverge do que determinado grupo ousa estabelecer como aceitável (como ocorre nas redes sociais de forma geral), sem dúvidas, faz aumentar a aposta.

*Por Juliana Bravo – Instituto Líderes do Amanhã

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