Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Em 2025, IA irá da experimentação à transformação dos negócios no Brasil

O ano de 2024 foi marcado pelo salto da IA generativa, mas 2025 promete ampliar os horizontes para a tecnologia.

Imagem: Shutterstock

Impulsionada pela inteligência artificial (IA) generativa, a IA ganhou status de uma das tecnologias mais disruptivas dos últimos anos, prometendo transformar profundamente a forma como as empresas operam e interagem com seus clientes. No entanto, apesar do hype e das promessas, a adoção efetiva da IA no Brasil enfrenta desafios. Uma estratégia azeitada, em linha com os objetivos de negócios, emerge como um fator crítico para superar essas barreiras e aproveitar plenamente o potencial verdadeiramente transformacional da IA.

A indústria de tecnologia da informação como um todo deve crescer 11% na América Latina em 2025. O número é 5 vezes maior do que o aumento do total do PIB da região. Nesse contexto, o uso de inteligência artificial assume protagonismo e deve ser 49% maior, segundo estimativas da IDC.

“As prioridades das empresas da região são aumentar a produtividade, principalmente por meio da automação de processos, e gerar novas fontes de receita ao melhorar o relacionamento com clientes”, contou Alejandro Floreán, líder consultoria em Transformação e Tecnologia da IDC América Latina, em sua participação no AWS re:Invent 2024, que aconteceu recentemente nos Estados Unidos.

De acordo com a pesquisa “Antes da TI, a Estratégia” 2024, do IT Forum, embora a IA ainda seja um assunto com lacunas de conhecimento para grande parte das empresas — 79% dos respondentes indicam falta de maturidade — os investimentos têm crescido. Em 2023, 29% dos executivos de alto escalão já alocavam recursos financeiros em IA, enquanto 28% iniciavam projetos relacionados. Em 2024, esses números saltaram para 36% e 44%, respectivamente. Os dados demonstram que o mercado está impulsionando os investimentos em tecnologia, mas também evidencia que a estratégia deve preceder a implementação tecnológica.

A falta de maturidade estratégica leva a investimentos impulsionados pelo efeito manada, sem uma análise clara de retorno sobre o investimento (ROI). Empresas estão apostando em IA para não perder espaço para a concorrência, mas muitas vezes sem compreender plenamente como a tecnologia se alinha aos seus objetivos de negócios.

Pietro Delai, diretor de pesquisa da IDC América Latina, observa que os anos de 2023 e 2024 foram marcados pela corrida em direção à IA generativa, na esteira do lançamento do ChatGPT, um período de experimentação intensa. Segundo Delai, ” 2025 e 2026 serão o momento da virada e vamos ver IA ampla e não só GenAI. Teremos, efetivamente, negócios movimentados por IA. De 2027 em diante como mainstream, com volumes”, aposta.

No entanto, Delai alerta para os desafios na implementação da IA, especialmente no que diz respeito ao ROI. “A equação fica difícil uma vez que denominador e numerador são desconhecidos. Para muitos casos de GenAI, não se sabe quanto vai custar nem quanto vai gerar de resultado.” Além disso, há preocupações com a qualidade dos dados, principalmente quando se trata de dados não estruturados, comuns em aplicações de GenAI.

Pietro Delai, diretor de pesquisa da IDC América Latina

Pietro Delai, diretor de pesquisa da IDC América Latina (Imagem: Divulgação)

Um dos principais obstáculos na adoção da IA é, de fato, a dificuldade em calcular o ROI, revelam os respondentes do “Antes da TI, a Estratégia” 2024. Sem métricas claras de custo e benefício, as empresas hesitam em investir pesadamente em tecnologias emergentes. Além disso, a qualidade dos dados é uma preocupação crítica. “Quando se fala em GenAI, basicamente se trabalha com dados não estruturados, e é muito difícil avaliar a qualidade dos dados”, explica Delai.

A governança de dados e a responsabilidade na organização também são desafios. Quem lidera as iniciativas de IA? Quem é responsável pelos resultados? Sem uma cultura organizacional que apoie a inovação e a experimentação, os projetos de IA podem falhar ou não alcançar seu potencial máximo, provoca o especialista da IDC.

Por outro lado, Fabio Caversan, vice-presidente de inovação da Stefanini para América do Norte, alerta: é preciso tratar projetos de IA como qualquer outro de tecnologia. “O desafio é que os sistemas são tão dinâmicos que medir o resultado é difícil. Precisamos de IA para analisar a IA. Há um ecossistema ao redor, alimentado por IA, para ver os resultados e é isso que os times precisam entender”.

Preparação insuficiente para a IA

Corroborando os insights de Delai, pesquisa recente da Cisco, batizada de Cisco 2024 AI Readiness Index, revela que apenas 25% das organizações no Brasil estão totalmente preparadas para implantar e aproveitar tecnologias impulsionadas por IA, uma queda em relação aos 29% de 2023. Esse declínio ressalta os desafios enfrentados pelas empresas na adoção e implantação efetiva da IA.

O índice, baseado em uma pesquisa com quase 8 mil líderes empresariais em 30 países, incluindo o Brasil, avalia a prontidão em seis pilares: estratégia, infraestrutura, dados, governança, talento e cultura. A falta de preparação adequada pode limitar a capacidade das empresas de competir em um mercado cada vez mais orientado por dados e inteligência artificial.

IA na prática

Apesar das pedras no caminho, já existem casos interessantes que ilustram o potencial transformador da IA. Na Inspirali Educação, parte do grupo Ânima, que reúne diversas instituições de ensino superior, a IA já provou seu valor. Felipe Almeida, CTO da empresa, ressalta que a IA gerou, inicialmente, desafios para o processo de educação e hoje é preciso ensinar os alunos como utilizá-la para serem mais eficientes em suas profissões. “Criamos desafios que eles precisam resolver com ajuda da IA”, exemplifica.

Uma forma de fazer isso é processar um grande volume de dados médicos rapidamente usando IA. A Ânima atua em 50 clínicas públicas no Brasil, das quais extrai dados em tempo real que são usados para treinar os alunos de medicina. Como eles não tem mais a tarefa de analisar esse grande volume de informação manualmente, podem focar mais no atendimento e relacionamento com os pacientes.

Para Almeida, a estratégia de adoção de IA pelas empresas deve estar focado em resolver as dores dos clientes e não no desejo dos seus executivos. Por exemplo, na Ânima, uma das dores dos professores, que consumia muito tempo, era corrigir provas. Para isso fizeram um agente que desempenha essa tarefa. “Não é criar assistentes para substituir os professores, mas mapear a jornada deles para resolver suas dores, considerando a governança necessária”, ressalta. “Quando foca na dor, é fácil de implementar e fazer todo mundo usar. Porque não é uma solução de genAI, mas uma ferramenta para resolver uma dor usando genAI”, completa.

A Latam Airlines, a partir de 2022, vislumbrou a oportunidade de transformar a experiência dos seus clientes por meio da IA. Há alguns meses, bots turbinados com IA passaram a fazer atendimentos básicos ao cliente, mas a empresa também usa a tecnologia para processos internos, como medir o consumo de combustível das aeronaves para diminuir a emissão de carbono.

“Nossa meta é reduzir em até 70% as demandas dos clientes em nossos canais de atendimento nos próximos anos”, conta Maurício Ramos, líder de Transformação da Experiência do Cliente e Inovação da Latam Airlines.

Na Bilheteria Express, plataforma digital que oferece soluções automatizadas para a compra e gestão de ingressos, a IA passou a integrar o chat commerce do WhatsApp. A Marilia, como foi batizada a inteligência artificial da empresa, a ferramenta utiliza linguagem neural e pretende transformar a sensação de conveniência dos compradores. Isso porque, em vez de navegar pelo site da empresa, os usuários podem conversar diretamente com a IA no WhatsApp, efetuando, na plataforma, todo o processo de compra e pagamento.

“Oferecemos sugestões personalizadas de eventos com base nas preferências individuais de cada usuário, filtrando opções por data, cidade e tipo de evento. Seja um show de música, uma peça de teatro ou um evento infantil, a experiência de busca se torna mais eficiente e intuitiva”, conta Paulo Damas, CTO e sócio-fundador da Bilheteria Express.

Paulo Damas, CTO e sócio-fundador da Bilheteria Express.

Paulo Damas, CTO e sócio-fundador da Bilheteria Express (Imagem: Divulgação)

A busca por inclusão e acessibilidade pautam algumas das inovações do Grupo Boticário em suas plataformas digitais. Uma das mais recentes iniciativas envolve o uso de inteligência artificial generativa para aprimorar as descrições de produtos no e-commerce, reforçando o compromisso da empresa em fornecer uma experiência mais acessível a pessoas com deficiência visual.

Antes da implementação da solução, a descrição dos itens era a genérica e a mesma para cada imagem, dificultando a navegação de consumidores com baixa visão. Hoje, as imagens são enviadas a um modelo de IA na nuvem da Amazon Web Services (AWS) – por meio do Amazon Bedrock – para gerar descrições textuais completas, detalhando aspectos como cores, embalagens e características visuais. Além de melhorar a compreensão dos produtos, o recurso também amplia o alcance do site em mecanismos de busca, resultando em um ganho adicional ao posicionamento orgânico.

“A inclusão faz parte da essência do Grupo Boticário, e o uso de IA generativa para descrever as imagens dos produtos reforça o compromisso de tornar nossa plataforma mais acessível”, afirma Sidarta Oliveira, diretor de plataforma Cloud do Grupo Boticário. Ele destaca ainda o impacto positivo da medida. “Notamos que, além de atender pessoas com baixa visão, as descrições mais ricas também auxiliam consumidores que procuram por características específicas, o que favorece a experiência de compra e o SEO do site.”

Embora a solução esteja no ar há apenas três meses e já tenha processado mais de 27 mil imagens, o Grupo Boticário mantém um rigoroso controle de qualidade. “Todas as descrições geradas pela IA passam por uma validação humana, garantindo precisão, confiabilidade e aderência às nossas diretrizes”, ressalta Oliveira. Apesar de vislumbrar um futuro no qual a checagem humana possa ser reduzida, ele pondera que “é cedo para afirmar que dispensaremos completamente esse controle, pois ainda precisamos garantir que a tecnologia seja segura e realmente confiável sem supervisão”.

A utilização da IA generativa demonstra o equilíbrio que a companhia busca entre inovação e cuidado. “Não basta simplesmente adotar uma tecnologia por ser tendência; é fundamental alinhar sua aplicação aos valores da empresa e àquilo que faz sentido para o negócio”, explica o diretor do Boticário. Segundo ele, ao reforçar sua essência inclusiva por meio da inovação, o Grupo Boticário mostra que a transformação digital pode – e deve – caminhar lado a lado com a responsabilidade social e a experiência do cliente.

IA “Made in Brazil”

Embora esteja distante dos principais polos globais de desenvolvimento de sistemas de inteligência artificial, o Brasil não tem se relegado à posição de mero consumidor da tecnologia. Empresas nacionais também já estão investindo ativamente no desenvolvimento de novas plataformas de IA que se conectam à realidade brasileira e atendem às especificidades das empresas e da população do país.

“Nós estamos falando do legado da nossa cultura e da nossa língua. Como brasileiro, é muito importante para mim garantir que as pessoas possam aprender com um modelo de IA que entenda o significado do que é ser brasileiro”, disse Nelson Leoni, CEO da WideLabs, durante um encontro com a imprensa no Oracle CloudWorld 2024, em Las Vegas, onde a companhia se apresentou.

Fundada em 2020 no Rio Grande do Sul, a WideLabs desenvolve soluções de inteligência artificial (IA) aplicada, incluindo novos modelos. Um de seus principais projetos é a Amazônia IA, um LLM completamente treinado em português brasileiro e em elementos da cultura do país. O modelo também é projetado para minimizar vieses discriminatórios e é alimentado por energia 100% limpa e renovável.

Segundo Leoni, o projeto é movido, em primeiro lugar, por uma preocupação com o tema da soberania na era da IA. Parceira da Oracle, a companhia hospeda o modelo nos dois data centers da Oracle Cloud Infrastructure (OCI) localizados no Brasil. “Nós conseguimos garantir aos clientes, sejam eles do setor de saúde, jurídico, educacional ou governamental, que a informação não sairá das fronteiras nacionais”, pontuou Leoni.

Além disso, há também um desafio prático de tecnologia que a Amazônia IA busca enfrentar. “Sabemos que os modelos de linguagem alucinam, mas, quando você não tem muito conteúdo em sua língua nativa, isso tende a acontecer com muito mais frequência”, explicou o CEO.

O desenvolvimento da Amazônia IA foi fundamental, por exemplo, para a criação da versão brasileira do bAIgrapher, uma das principais soluções da WideLabs. O sistema utiliza IA para aplicar a chamada “terapia de reminiscência”, um tratamento psicológico que ajuda a estimular pacientes com declínio cognitivo por meio de suas próprias lembranças e experiências vividas.

O bAIgrapher coleta informações pessoais de pacientes com Alzheimer, incluindo notas em texto, voz ou imagens, além de depoimentos e memórias de familiares e amigos. A partir desses dados, o modelo é capaz de criar um “biógrafo” personalizado do paciente, que pode auxiliá-lo como um contador de histórias, estimulando a manutenção de suas memórias.

Agora, a WideLabs se prepara para exportar a tecnologia nacional. Em dezembro, a empresa anunciou uma parceria com a Ascenty, uma empresa de serviços de data center e conectividade da América Latina. Com a parceria, o Amazônia IA estará disponível para clientes da Ascenty em todo o mundo, por meio do marketplace Service Directory.

Em Minas Gerais, a Biofy Technologies também tem se empenhado no desenvolvimento de soluções de IA feitas no Brasil. A empresa nasceu em 2023 como um spin-off do departamento de tecnologia da Laudo Laboratório, uma das principais empresas brasileiras de diagnósticos veterinários. Ao longo do último ano, a companhia implementou múltiplos projetos paralelos usando IA aplicada para diferentes áreas de atuação. “Nosso core é a inteligência artificial”, disse Paulo Perez, CEO da Biofy Technologies.

No fronte de agro, a Biofy Agro trabalha com uma solução que usa uma IA proprietária para identificar, via infravermelho, a quantidade de açúcar presente em um pé de cana. Com isso, é possível identificar o momento ideal para realizar o corte e maximizar a produção de açúcar. O mesmo equipamento já está sendo utilizado para medir a qualidade da soja para produção de óleo, e do café, para colheita dos grãos ideias. A Biofy Lex, por sua vez, desenvolveu um modelo baseado no Llama, da Meta, para digitalização e consulta de processos.

Por fim, a Biofy Genomics desenvolve uma solução que combina hardware e uma solução proprietária de IA para realizar sequenciamento genético de bactérias em alta velocidade. O objetivo da empresa é massificar o processo de sequenciamento para permitir a identificação de bactérias resistentes a antibióticos ou que estão prestes a se tornar resistentes após novas mutações, mitigando o risco de surgimento das chamadas superbactérias.

Para analisar o DNA das bactérias coletadas, o time treinou seu modelo em um acervo de mais de 75 terabytes de dados – expandido com dados sintéticos para reforçar o treinamento. “Nós usamos um transformer que criamos para transformar o genoma em um índice de vetor que nos diz quão próximo de se tornar resistente uma bactéria está”, explicou Perez.

O transformer, que ainda não foi batizado pelo time, começou a ser construído do zero pela Biofy há seis meses, e foi concluído há pouco mais de dois. “Em alguns anos, queremos torná-lo público”, conta o CEO. “Precisamos comercializar para recuperar o investimento feito, mas temos a mentalidade que o conhecimento precisa ser compartilhado”. A partir do próximo ano, o time também tem a ambição de empenhar a pesquisa na criação de novos medicamentos.

“Graças a internet, não existem mais fronteiras. Se você não tiver como protagonista, como cérebro pensante, desenvolvendo ativamente uma tecnologia, você fica para trás”, pontuou o executivo sobre a necessidade de projetos nacionais envolvendo IA. “É uma questão de soberania nacional”.

O que vem a seguir?

Na visão de Delai, o futuro é promissor. A IA avança rapidamente em direção à personalização em massa, permitindo experiências únicas para cada cliente. “As coisas estão evoluindo numa velocidade, e a adoção de IA ampla, acelerada pela experimentação feita com GenAI, está tornando muitas coisas inimagináveis viáveis em um curto espaço de tempo”, observa.

Segundo projeções da IDC, a IA como um todo deverá gerar um impacto global de US% 19,9 trilhões, representando 3,5% do PIB mundial. Esse impacto econômico ressalta a importância de as empresas se prepararem adequadamente para a transformação digital impulsionada pela IA.

As empresas brasileiras têm a oportunidade de liderar essa transformação, mas devem agir agora para desenvolver estratégias claras, investir em infraestrutura e talentos, e fomentar uma cultura que apoie a inovação. Como aponta Delai, a partir de 2027, veremos a IA se tornar mainstream, movimentando negócios em volumes significativos. Aqueles que começarem a se preparar hoje estarão posicionados para colher os frutos dessa revolução tecnológica.

*Com colaboração de Rafael Romer

https://itforum.com.br/noticias/2025-ia-evoluir-transformacao-brasil/

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