Fonte:|Valoreconomico|
Fabiana Batista
"Por enquanto, estou dormindo a noite", brinca Tim Kuba, referindo-se aos estoques confortáveis da Tavex. "Mas na média do mercado, estão muito baixos".
A colheita já começou, mas os preços do algodão não param de subir no Brasil, quando o normal seria que o contrário ocorresse. A libra-peso da pluma iniciou o mês de junho valendo R$ 1,51, segundo o indicador Cepea/Esalq. E foi subindo progressivamente, mesmo diante do avanço da colheita nas regiões produtoras, até disparar forte e atingir, na última sexta-feira, R$ 1,63 a libra-peso, com vendedores pedindo valores acima deste patamar, de acordo com a Safras&Mercado.
Trata-se de uma combinação entre preços internacionais firmes - no mês, a valorização na bolsa de Nova York foi de 4,73% - e oferta insuficiente dentro e fora do país. Há ainda um agravante, que é o elevado comprometimento da safra brasileira com contratos firmados antecipadamente. O resultado é que o que está sendo colhido, já tem destino certo. "Não há algodão no Brasil e nem de onde importar neste momento. Os estoques mundiais estão em níveis críticos", afirma Tim Kuba, diretor da Tavex Corporation, uma das maiores indústrias têxteis do país.
Até agora, a colheita da pluma brasileira está entre 15% e 20% da área colhida, segundo informações da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). A previsão inicial era de que a safra 2009/10 fosse de 1,250 milhão de toneladas para um consumo interno de 1 milhão de toneladas e uma exportação de 450 mil toneladas. "Há, obviamente, um déficit no Brasil", diz Miguel Biegai Júnior, especialista da Safras&Mercado. Ele estima que as vendas antecipadas atinjam 60% da produção total do Brasil, entre contratos de exportação e de mercado interno. "Será com os 40% restantes que o país terá que se abastecer até junho do ano que vem", diz Biegai.
E a expectativa das indústrias instaladas no Brasil é que as grandes tradings, as primeiras a receberem produto comprado antecipadamente, redirecionem parte do volume de algodão de contratos de exportação para o mercado interno, o que pode não acontecer. Segundo Kuba, há neste momento uma certa especulação de preços por parte dos que detêm o pouco algodão disponível no país. "Está muito difícil às indústrias conseguirem se abastecer", diz o executivo da Tavex. Ele esclarece, no entanto, que a posição dos estoques da empresa está "confortável.
Do outro lado, traders afirmam que não é tão simples assim redirecionar a carga. O comprador externo precisa concordar com o cancelamento do contrato e há penalidades que, neste momento, estão altas, justamente porque falta algodão no mundo todo. De acordo com esses traders, simplesmente não há algodão disponível sem vinculação a contratos no Brasil, condição de aperto que deve persistir nestes três meses de safra.
O executivo da Tavex também aposta em cenário preocupante até outubro. Acredita que, na média, as indústrias estão pouco abastecidas. "Todos esperaram a chegada da safra para se abastecer com valores menores. Mas o que estamos vendo é uma 'entressafra' em plena safra", diz Kuba. Ele teme que os preços continuem aumentando. "Ou a indústria reduzirá consumo, ou o varejo terá de aceitar repasse de preços", avisa.
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