Pesquisa do Instituto Ethos sobre perfil social, racial e de gênero mostra que inclusão ainda está restrita a cargos de entrada.
Se um conselho de administração de uma grande empresa brasileira fosse personificado, estaríamos diante de um homem, branco, sem deficiência, com 45 anos ou mais, com curso superior, pós-graduação ou mestrado e sete anos, em média, trabalhando na mesma empresa. Este perfil ocupa 77% dos conselhos de administração de organizações do país e exemplifica como alta liderança das organizações ainda está longe da diversidade apesar de ações afirmativas. É o que aponta o estudo “Perfil Social, Racial e de Gênero nas 1,1 mil maiores empresas brasileiras”, realizado pelo Instituto Ethos. Para ler o estudo completo, clique aqui.
Para se ter uma ideia, mulheres brancas estão apenas em 16% dos conselhos de administração, homens negros, em 4,3%. A desigualdade é ainda maior quando comparado com mulheres negras, pois elas são representadas em 1,8% desses espaços.
Lançado nesta quarta-feira (18/09), Dia Internacional da Igualdade Salarial, durante a Conferência Ethos, o estudo mostra que apesar de avanços na conscientização e na implantação de ações afirmativas pelas empresas, o perfil majoritário em conselhos de administração também é maioria presente em cargos executivos, gerências e coordenação ou supervisão, representando 60,8%, 43% e 35,4%, respectivamente. Veja:
“As ações afirmativas das empresas têm ocorrido na área de trainee. A partir da média e alta liderança ainda vemos uma distância a ser percorrida para que elas [as pessoas beneficiadas pelas ações] passem a ocupar posições em diretorias e conselhos de administração”, analisa Ana Lúcia Mello, diretora -adjunta do Instituto Ethos. “No caso das mulheres, os esforços das empresas estão refletindo em posições mais altas. Porém, é importante ressaltar que ainda que haja um movimento, ele é leve e lento”, completa.
O último censo do IBGE, realizado em 2022, mostrou que as mulheres são 51,5% da população, ou 104,5 milhões. Pessoas pardas e pretas, de ambos os gêneros, somam 112 milhões de pessoas. Já no estudo do Ethos, os números identificam que esse enorme contingente é maioria significativa apenas em cargos de entrada das companhias pesquisadas. Nele, homens negros estão em 28,7% dos cargos funcionais, mulheres brancas predominam entre os estagiários, com 28%. As mulheres negras, maioria da população brasileira, só é majoritária em processos de trainee, com 53,7%.Veja abaixo:
Presente no debate de lançamento do estudo, Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, destacou a desigualdade da população negra brasileira nos espaços de poder. “Nós estamos acostumados, infelizmente, a vermos números de sub-representatividade de mulheres negras e de pessoas negras em espaços de poder decisão. Mas, infelizmente, estamos acostumados com sobrerrepresentatividade nas violências, na falta de acesso ou em notícias que muitas vezes se tornam parte de nosso cotidiano”, analisou a ministra. “Pesquisas como esta e dados que vemos há décadas no País são importantes para que possamos exemplificar o porquê da existência do Ministério da Igualdade Racial e o porquê é tão importante termos políticas afirmativas”, completou.
O estudo também questionou as empresas sobre a existência de políticas ou ações afirmativas desenvolvidas desde a contratação de seus colaboradores, com o objetivo de promover igualdade de oportunidades em cargos de alta liderança. Entre os respondentes, 51,6% afirmam ter ações e metas para mulheres; 21, 4% têm ações para pessoas negras, mas somente 7,4% das organizações têm metas para mulheres negras. Ainda assim, quase metade das empresas entrevistadas, 45,3%, afirmam não ter qualquer ação ou meta nesse sentido.
“A representatividade que encontramos nos dados está aquém do que temos como meta. A responsabilidade das empresas é mudar essa realidade. A diversidade precisar estar integrada às ações das empresas e refletir a realidade da sociedade brasileira”, analisou Ana Lúcia, do Ethos.
As empresas que responderam possuir ações e políticas direcionadas para mulheres, mas que estão abaixo da meta em determinados níveis hierárquicos, atribuem isso a três principais razões: a ausência de programas de liderança que impulsionem profissionais mulheres para cargos mais estratégicos (45%); a carência de políticas, ações afirmativas e práticas de diversidade e inclusão voltadas para mulheres (34%); e a falta de qualificação profissional de mulheres para os cargos (30%). O último quesito, enfatiza Ana Lúcia, não condiz com a realidade, uma vez que as mulheres são a maioria com diploma universitário no País.
Na mesma toada, a ministra chamou atenção para o dado de 54% de mulheres negras em programas de trainee enquanto existem pouquíssima representação em cargos de liderança. Ela contou que já foi convidada por várias empresas que desejam realizar programas e ações afirmativas, porém, apesar da vontade, muitas delas não apresentavam um plano de desenvolvimento e longa permanência após a entrada dos profissionais.
“Não é sobre colocar as pessoas negras no lugar para serem violentadas. É sobre colocar as pessoas negras nos lugares porque elas são capacitadas para isso. Nós somos capacitadas e temos comprovado isso diariamente, com convites para ser ministra, vereadora, política professora. Mas, infelizmente, a maneira de nos impedir é ou não voltar a abrir a porta, ou nos matar ou nos violentar e, assim, dizer que não temos de estar nesses espaços”, compartilhou. Por isso que a permanência é tão importante quanto fazermos as ações afirmativas”, completou.
O Perfil Social, Racial e de Gênero nas 1,1 mil maiores empresas brasileiras é realizado pelo Instituto Ethos em parceria com o IPEC (antigo Ibope) na aplicação e acompanhamento da pesquisa. O estudo, cuja última edição havia sido lançada em 2016, aumentou o seu universo, de 500 para 1.100, sendo as 1.000 maiores empresas e as 100 principais instituições financeiras do Brasil, de acordo com o jornal Valor Econômico (2022), e trouxe assim um universo mais abrangente para a avaliação. Das 1.100 maiores empresas e instituições financeiras brasileiras, 131 participaram do estudo, um pouco mais de 10% da amostra.
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