Especialista explica as tendências de moda e fala como se vestir bem

[Textile Industry]

Fonte:|band.com.br|

Nos dias que antecedem a São Paulo Fashion Week é impossível não se falar em moda.

Para esclarecer algumas dúvidas comuns sobre as novas tendências e dar algumas dicas, o eBand conversou com Jô Souza, que é especialista em criação de imagem e styling de moda e irá ministrar o curso de Produção de Imagem de Moda na Escola Panamericana.

O que você achou da Mostra Cinema na Moda, que conta com Dudu Bertholini, Reinaldo Lourenço, entre outros? O cinema dita a moda ou a moda que influencia o cinema?
Moda e cinema são duas indústrias que geram emprego, turismo e movimentam o PIB do País. Como uma via de mão dupla, ambas se oxigenam, se regeneram e se traduzem. A moda é mais antiga que a indústria do cinema, claro. O cinema virou moda só depois que surgiu com os irmãos Lumière e agora dita a moda, pelas suas estrelas e pelo modo como ele, enquanto linguagem consegue traduzir todos os anseios da comunicabilidade humana.

Por exemplo: o filme "Avatar" influenciou a inspiração de formas, cores, texturas, estampa na passarela com Alexander Mcqueen (2010). Outro: uma alusão ao Charles Chaplin na sua gestualidade, nos movimentos e maquiagem na passarela de Galliano (2009). No Brasil, as conexões estão na passarela como no desfile apresentado por Herchcovitch inspirado no filme "Sétimo Selo". Ou seja, ambas se auto influenciam direta ou indiretamente.

Também acontece o contrário, quando o mundo fashion é tema para filmes: a personagem no centro da trama como "Coco Chanel", "YSL" ou "Valentino: o imperador", etc. Quando o mundo da redação de uma revista de moda aparece no filme "Histórias de ELLE", ou em "O Diabo veste Prada". Até mesmo a carreira das modelos, como no falso documentário "O que é isso Polly Maggo". Os exemplos são intermináveis. Aliás, eu tenho uma boa lista no blog: modacine.blogspot.com

O "Circuito de Moda e Cinema" que tem o Fernando e o Danilo Branco como diretores, é uma brilhante iniciativa, pois muitos países que já possuem seus festivais de moda e cinema. Como o "fashion in film" que acontece em Londres ou o "German fashion film" na Alemanha. Cada curador teve o livre arbítrio de indicar um filme e coube ao critico de cinema Luciano Ramos costurar todos eles e encontrar um fio condutor.

E a TV? Como as novelas, os seriados interferem na moda?
Sim, principalmente no Brasil, México e Sul América. É impressionante como a novela convive com o cotidiano da família. O figurino dos personagens de uma novela que é contextualizada nos tempos atuais, estouram na moda. Existem até sites especializados em re-criar/copiar as roupas usadas pelos personagens. Também o seriado internacional Mad Men fez proliferar uma moda mais retrô, inspirada nos anos 1950. A novela é um grande catalisador de tendências. Um exemplo claro foi a novela "Caminho das Índias" que a Glória Perez tinha escrito quatro anos antes do filme "Quem Quer ser Milionário" que ganhou o Oscar de melhor filme em 2009. Antes desse filme, em todas as lojas já se notava a proliferação de objetos, roupas e acessórios indianos.

Existe alguma referência atual na moda de algum filme recente? Poderia citar alguns nomes? Sim, Por exemplo, o Filme "Alice no pais das maravilhas" de Tim Burton, que provocou um grande boom no mercado de produtos de moda - desde vitrinas, joias, estampas, acessórios até imagens de moda. Mais recentemente o filme "O Turista", com Angelina Jolie cujo figurino foi feito pela mesma que fez o filme Alice, a Colleen Atwood.

Quais tendências presentes nas coleções do Fashion Rio que deverão aparecer também na SPFW e o que deverá realmente ser usado nas ruas?
Sendo sincera, este postura de ficar olhando desfile está morrendo. O desfile deve trazer em seu bojo algo mais, que aponte para além de tendências mercadológicas. O consumidor está buscando outros valores, que se encontram no social, por exemplo, uma preocupação com a poluição, com o crescimento da camada de ozônio. Assim, me chamou bastante atenção o desfile da Oestúdio, abordando a miscigenação, o nosso caldeirão cultural, a valorização do local.

Mas, falando em produtos para o inverno: muito forte os anos 70, as saias longas, botas, anklets, sapatos masculinos nos looks femininos. O preto predomina, mas sempre acompanhado de uma cor ou no make ou num acessório, mix de estampas, uso de texturas, tricô, lurex, calça skinny e boyfriend.

É preciso gastar muito para se ter estilo e vestir-se bem em São Paulo? E para alcançar este objetivo [vestir-se bem] é preciso usar roupas de grife?
É preciso gastar pouco e andar muito, andar e vivenciar a cidade. Aqui, temos tudo de todos os preços. Vestir-se bem não é privilegio de quem tem dinheiro, mas de quem tem bom senso. Saber usar adequadamente cada peça do seu guarda roupa. O que importa não é a quantidade, nem a marca. Mas, a maneira de montar as peças que você tem disponíveis: uma análise combinatória que vai gerar um estilo criativo. Os acessórios fazem uma grande diferença no look. A elegância está além de aparência, porque é uma postura, atitude, já que vestir-se bem ou mal é também vestir-se de conteúdo. Vestir-se bem é também boicotar o mercado escravo da indústria da moda. Assista ao filme "Biutiful", com o Javier Barden, que mostra os horrores escondidos por trás de cada peça pirata que se acha à venda. Bem vestir é ter consciência das necessidades dos próximos milênios.


Jô Souza: Especialista em Criação de Imagem e Styling de Moda/Senac. Mestranda do Programa em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. Atua na área de consultoria, moda, performance, figurino e cinema. Professora da graduação de Moda de moda da FMU, do curso Livre e da Pós Graduação em moda do Centro Universitário Belas Artes.