Esse documentário vai te ajudar a entender a importância do feminismo

[Romildo de Paula Leite]

O Netflix disponibilizou há pouco tempo em seu catálogo brasileiro o documentário She’s Beautiful When She’s Angry, responsável por contar a história do movimento de liberação feminina (women’s liberation movement) nos Estados Unidos. Dirigido por Mary Dore, o documentário aborda a intensidade do movimento feminista entre 1966 e 1971, quando as mulheres americanas celebraram, entre outras coisas, a legalização do aborto. Várias ativistas líderes da época deram seus relatos; ativistas brancas, negras e lésbicas contam como o movimento aconteceu, progrediu, teve vitórias, e derrotas.

Entretanto, o filme não é conduzido em tom de celebração. Como bem observou a Variety, a diretora adotou um tom de atenção, principalmente por ter sido filmado em meio aos protestos contra projetos de lei que dificultavam o acesso de mulheres ao aborto seguro no Texas. Podemos notar, logo nos primeiros minutos, como alguns direitos podem ser perdidos com uma simples assinatura. Como, apesar de toda a luta, os direitos das mulheres estão sempre em risco. Uma das ativistas em seu depoimento nos lembra: “A lição amarga é que nenhuma vitória é permanente. Não somos permitidas a nos aposentar das questões das mulheres”.

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Dore nos conduz a um mergulho profundo na história da época por meio não só dos relatos, mas também de fotos, manchetes e filmagens. Podemos ver como as mulheres estavam insatisfeitas inclusive com os movimentos sociais efervescentes na década de 60 e como essa insatisfação as uniu em diferentes frentes sob o mesmo guarda-chuva: o feminismo. Temas espinhosos, e extremamente atuais, como estupro, assédio, sexualidade, saúde feminina, lesbianismo, maternidade, mulheres negras, disparidade salarial, contracepção e trabalho doméstico são algumas das muitas pautas abordadas pelo movimento de liberação das mulheres. Sem dúvidas, o filme de pouco mais de uma hora, tem história e conteúdo para virar uma série.

Das muitas iniciativas da época, talvez a que perdure até hoje com mais destaque seja o projeto de conhecimento do próprio corpo de um coletivo feminista, iniciado em 1969 no workshop “mulheres e seus corpos”, que culminou na publicação “Our Bodies, Ourselves” e , mais tarde, em uma ONG de mesmo nome.

Em meio a protestos recentes e um movimento feminista cada vez mais pulsante no mundo, She’s Beautiful When She’s Angry chega em boa hora para unir passado e futuro, criando um elo entre as mulheres militantes dos anos 60 e as jovens ativistas de 2016. Além disso, o documentário também é capaz de criar uma ponte de acesso entre o movimento e as muitas mulheres que ainda não entenderam o feminismo e a luta por igualdade de gênero.

O filme é também um sopro de força, nos lembrando a importância da união feminina, como também a inevitabilidade das dificuldades e atritos que surgem dentro dos grupos, coletivos e do movimento como um todo, e da necessidade de entender as diferentes realidades e necessidades de diferentes mulheres. Acima de tudo, o filme reforça uma ideia sabida: as mulheres nervosas, juntas, conseguem mudar as regras do jogo e conquistas muitas coisas.

Imagens: Reprodução

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