Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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"Estamos num pântano", diz Affonso Celso Pastore

Só reformas estruturais e redução drástica nos gastos farão economia retomar o caminho do crescimento

O economista Affonso Celso Pastore (Foto: Reprodução/Twitter)

O economista Affonso Celso Pastore diz que o abandono do tripé macroeconômico -- metas de inflação, câmbio flutuante -- fez a economia brasileira descarrilar. "O tripé macroeconômico tinha colocado a economia nos eixos: foi consertando as partes do trem, colocou o trem nos trilhos e ele começou a andar", diz Pastore. Mas aí, segundo ele, chegou uma chefe nova na estação e falou: "Esse trem está no trilho errado. Vamos tirá-lo daqui e colocar nesse outro trilho." E colocou o trem num pântano. "Estamos no pântano. Agora, precisam tirar o trem do pântano, arrumar as rodas, o motor e aos poucos ele vai começar a andar."


A seguir, Pastore fala sobre suas expectativas sobre a nova equipe econômica e debate possíveis saídas para a crise.

Qual o principal desafio da nova equipe econômica?
É equacionar a parte fiscal. Tem que colocar ordem nisso para depois fazer o resto funcionar. Se você resolver os outros problemas econômicos sem atacar a questão fiscal, o país não vai parar em pé. O edifício fiscal não é o único que precisa ser construído e nem o que, sozinho, vai nos colocar em rota de crescimento. Mas ele vai dar sustentação para que a economia volte a crescer.

Quanto tempo deve levar até voltarmos ao caminho do crescimento?
Hoje temos uma despesa primária que cresce numa velocidade insustentável. A relação entre a dívida e o PIB está perto de 70% e vai aumentar. Por isso é preciso fazer as reformas estruturais que permitam conter o crescimento das despesas. Depois disso, a economia volta a crescer e a gerar mais receita.

Quais as reformas mais urgentes?
A reforma da Previdência, por exemplo. Mas todas elas demoram a surtir efeito. Pense na reforma da Previdência. Tem que se estabelecer uma idade mínima maior. Mas tem que haver um período de transição. Não podemos dizer a quem está prestes a se aposentar que a pessoa vai ter que trabalhar mais dez, quinze anos. Ao mesmo tempo, se essa transição for muito longa é como se não tivesse ocorrido a reforma. Precisa ter agilidade. Nos primeiros anos pós-reforma não vamos ver uma melhora no déficit fiscal. Vai levar de cinco a dez anos para que essas mudanças tenham impacto no déficit. Mas tem que ser feito de qualquer forma, para sinalizar que esse problema será resolvido lá na frente.

E como conter os outros gastos?
Uma ideia que está sendo debatida e pode funcionar é a criação de limites de crescimento nominal das despesas.

Existe ainda a proposta de aumento da Desvinculação das Receitas da União (DRU). Com isso, o governo teria mais liberdade para escolher como gastar. Mas, ao mesmo tempo, a DRU não foi criada justamente para garantir investimentos em áreas essenciais como saúde e educação?
O problema é: todos os gastos têm que caber dentro de um determinado bolo. Existe uma coisa chamada restrição orçamentária. Pense nos seus gastos como pessoa física. Você pode falar: vou vincular 10% do meu salário para comprar roupas, 15% para comida, 10% para educação e assim por diante. E, de repente, percebe que está com 110% do salário vinculado. Foi isso o que aconteceu com o governo.

E por que chegamos a essa situação?
Foram criados gastos que não são compatíveis com a capacidade brasileira de gerar recursos. Temos ambições maiores do que nossos recursos.

Antes de entrar em crise, o Brasil vinha crescendo ancorado no crédito. No que deve se ancorar o crescimento depois que sairmos da recessão atual? 
O crédito nunca foi uma fonte de crescimento. Ele é fonte de gasto. Quando você aumentou o crédito, as famílias se endividaram. As famílias brasileiras são, provavelmente, as mais endividadas no mundo. E a economia não cresce. A fonte de crescimento deve ser aumento de investimento e ganhos de produtividade.

Como aumentar a produtividade?
É preciso tirar os riscos da economia. Não adianta fazer política industrial que determina que é preciso investir neste ou naquele setor. Ao tirar os riscos, quem for competente e investir vai ter sucesso. Quem não for competente, não terá. O mercado seleciona quem tem sucesso e, com isso, a produtividade cresce.

A economia voltará a crescer só em 2018?
Acho que é uma boa estimativa. A recessão tinha que derrubar a inflação e ela está começando a cair. E vai continuar caindo porque a recessão continua muito funda. Esse cenário de redução da inflação vai ser uma vantagem para a política monetária (que fica a cargo do Banco Central, através da definição das taxas de juros). Quando os preços começarem a ceder, a ideia de que é preciso subir os juros vai desaparecer e a economia poderá retomar o fôlego.

http://epocanegocios.globo.com/Economia/noticia/2016/05/estamos-num...

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Comentário de Antonio Silverio Paculdino Ferre em 20 maio 2016 às 10:54

O que tem sido difícil é elencar os riscos e priorizar qual deve ser atacado de imediato.

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